nota de dólar e de real sobrepostas

E lá vem a super quarta: saiba o que esperar das decisões de juros no Brasil e nos EUA

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura12 minutos

Atualizado em

30/07/2024 às 12:53

Por Luana Pavani, Cícero Cotrim e Aline Bronzati, do Broadcast

São Paulo, 30/07/2024 - Nesta quarta-feira, 31 de julho, acontece mais uma "super quarta", aquele dia em que coincidem as reuniões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos. Investidores e analistas querem saber como ficará a taxa básica de juros desses países e qual o impacto nas decisões de alocação de recursos, tanto em renda fixa quanto variável.

Hoje, 30, começou a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que reúne o presidente e os diretores do Banco Central brasileiro, para debater a mecânica de combater inflação com taxa de juros. A expectativa predominante do mercado é de manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 10,50%.

Também nos Estados Unidos é prevista manutenção dos juros básicos da economia, os Fed Funds, pelo FOMC, o comitê de política monetária do Federal Reserve. Outro banco central na agenda da quarta-feira é o do Japão (BOJ). Há expectativa de que o BC japonês volte a elevar juros e reduza compras de títulos federais, conhecidos como JGBs. Na quinta-feira será a vez do Banco da Inglaterra (BoE) anunciar sua decisão sobre juros, e lá o veredicto não é tão claro, com analistas vendo manutenção, outros corte de 25 pontos-base. Na última reunião, de 20 de junho, o BOE deixou os juros inalterados em 5,25% ao ano e afirmou em comunicado que a política restritiva precisaria continuar por tempo prolongado.

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Qual a expectativa para a Selic?

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta terça e quarta-feiras para definir a taxa Selic. Todo o mercado espera que os nove membros do colegiado sejam unânimes na decisão de manter os juros em 10,5% ao ano. Mas dúvidas pairam sobre o teor da comunicação, em meio à aguda desvalorização cambial e ao incessante aumento das expectativas de inflação.

Desde a última reunião, em junho, o dólar valorizou quase 5% frente ao real, dos R$ 5,30 usados pelo Copom nos seus cenários de inflação para R$ 5,55, considerando a Ptax média dos dez dias úteis encerrados na última sexta-feira, 26. A mediana do relatório Focus para o IPCA de 2025, horizonte relevante da política monetária aumentou 0,16 ponto porcentual, de 3,80% para 3,96%.

Em meados deste mês, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, garantiu que promover a convergência das expectativas de inflação para o centro da meta "é uma prioridade, e não só nesse momento". Ele ressaltou que, para a instituição, o Focus representa um importante subsídio.

Economistas consideram que a mudança no cenário deve levar a um aumento expressivo na projeção do Copom para a inflação do ano que vem, sobretudo no "cenário alternativo" - uma ferramenta de comunicação, retomada no comunicado anterior, que fornece uma previsão para o IPCA em um cenário no qual a Selic se mantém estável até o fim de 2025.

Essa estimativa deve passar de 3,1% para até 3,5%, nas contas das instituições consultadas - sugerindo que, mesmo com os juros em 10,5% nos próximos 17 meses, a inflação ainda superaria com folga o centro da meta, de 3%, e colocando em xeque a estratégia de manter a taxa alta por mais tempo telegrafada pelo BC.

Pesquisa do Projeções Broadcast mostra que a manutenção da Selic em 10,5% amanhã, quando a decisão será divulgada, é a expectativa unânime do mercado, e que a maioria das instituições espera que os juros encerrem 2024 neste nível. Mas também tem avançado entre analistas a avaliação de que há um "risco crescente" de aumento da taxa no curto prazo, devido à piora do câmbio e das expectativas.

A resiliência da atividade econômica e da inflação também se coloca como um desafio para o BC. O IPCA-15 desacelerou de 0,39% em junho para 0,30% em julho, mas ficou acima do consenso do mercado, de 0,23%. A média dos núcleos e a inflação de serviços subjacentes aceleraram e ficaram acima da mediana do mercado. O desempenho do varejo e dos serviços surpreendeu.

  • A percepção de risco fiscal no País também não deu trégua nos últimos 45 dias. Embora o governo tenha anunciado um congelamento de R$ 15 bilhões em gastos, o mercado pondera que a medida não será suficiente para zerar o déficit este ano. Em duas reuniões fechadas com o BC, economistas chamaram atenção para o desconforto com as contas públicas e o nível do dólar.

A resposta que o Comitê dará à deterioração do cenário, no entanto, divide os economistas. Uma parcela deles vê espaço para que o Copom reitere a disposição de "reagir" - isto é, voltar a aumentar os juros - se o ambiente econômico continuar piorando. Em junho, o colegiado já havia dito que se manteria "vigilante" e que "eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".

Outros analistas, no entanto, veem espaço para que a comunicação tenha mudanças menos explícitas. Diante do aumento das apostas em um corte de juros nos Estados Unidos e das discussões domésticas dos próximos meses, o Comitê pode aguardar para observar a evolução do cenário daqui até a sua próxima reunião, em setembro.

O que esperar da reunião do Fed?

Os economistas, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, entendem que indicadores da economia americana mostraram desaceleração da inflação e um mercado de trabalho menos aquecido na maior economia do mundo. Mas não é para já. Amanhã, há 95,9% de chances de manutenção dos Fed Funds na faixa de 5,25% a 5,50%, patamar praticado já há um ano.

Investidores dão como certo o início do relaxamento monetário na reunião seguinte, em setembro, com 91,6% de probabilidade conforme a ferramenta de monitoramento do CME Group, chamada de Fed Watch, consultada há pouco. O levantamento chegou a bater 100% na sexta-feira, após divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), o indicador preferido de inflação do Fed, que ficou praticamente em linha com o consenso e se aproximando da meta perseguida pelo banco central americano, que é de 2% ao ano.

Os dados animaram operadores quanto às chances de uma redução de juros mais intensa no país até dezembro, com o primeiro corte dando as caras em setembro. O PCE avançou 0,1% em junho ante maio, conforme o Departamento do Comércio americano, e no ano subiu 2,5%, sendo ambos os dados em linha com as expectativas de analistas ouvidos pela americana FactSet. Já o núcleo do indicador, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, acelerou de 0,1% em maio para 0,2% em junho, mas também em linha com as expectativas. Na leitura anual, houve avanço de 2,6%, um pouco acima da previsão dos analistas, de alta de 2,5%.

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