Empresas aceleram emissão de debêntures diante de alta demanda por renda fixa
Debêntures são a bola da vez: entenda os motivos e saiba como investir em crédito privado
Publicado por: Broadcast Exclusivo
4 minutos
Atualizado em
30/09/2024 às 11:58
São Paulo, 27/09/2024 - As debêntures e fundos que investem em crédito privado são a bola da vez no mercado de capitais brasileiro. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), as empresas brasileiras já captaram R$ 484,2 bilhões no mercado de capitais este ano até agosto, volume recorde para o período, enquanto as emissões de debêntures atingiram R$ 283,9 bilhões, estabelecendo também um recorde.
- Em setembro, a onda continua: ao longo do mês, anunciaram emissões de debêntures empresas como Eletrobras, Raízen, Engie, Rede D'Or, Copel, CCR, CPFL Energia, Equatorial, Energisa, Taesa, Iguatemi e Assaí, todas elas de capital aberto.
Analistas ouvidos pelo Broadcast citam um forte aumento na busca dos investidores por títulos de crédito privado, principalmente via fundos, o que acaba aumentando a demanda neste mercado. Por tabela, esse quadro incentiva empresas a buscarem captar recursos via debêntures ou outros títulos.
"Existe hoje uma migração de fundos multimercado pra renda fixa. Quando você tem esse cenário de migração, isso traz uma expansão grande da base de captação. Tem muita demanda, e as empresas acabam tendo um custo mais baixo para emitir", explica Ricardo Carvalho, diretor-executivo de Corporates da Fitch Ratings.
Spreads em baixa
O motivo principal apontado pelos especialistas para a explosão das emissões de debêntures nos últimos meses é a queda dos spreads. Mas, afinal, o que isso quer dizer?
No mercado de crédito privado, o spread é o prêmio pago pela empresa que está captando recursos no mercado. O cálculo dele leva em conta a diferença entre a taxa de juros que a companhia está pagando naquela debênture e a taxa de um título considerado livre de risco, como o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) e títulos emitidos pelo governo.
Spreads maiores significam que está mais caro para a empresa se financiar no mercado. Já os spreads menores, como é o caso do momento atual do mercado, significam que está mais barato buscar recursos. Você pode conferir a evolução dos spreads de crédito no relatório quinzenal de renda e fixa e crédito privado do BB-BI.
Para Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, o cenário atual é amplamente favorável para os fundos que investem em crédito privado. "Fundos de debêntures apresentam bons retornos agora e estão se capitalizando por causa da expectativa de que os juros não vão subir tanto no Brasil", explica.
Segundo ele, o título de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2034, que é o principal indicador da expectativa do mercado para a taxa de juros, tem operado com volatilidade mas não tem subido. Isso indica que, ainda que o Banco Central tenha iniciado neste mês um novo ciclo de altas na taxa básica de juros (Selic), não há a perspectiva de que será um ciclo muito forte de aperto monetário.
"Hoje estamos em um ponto da economia que é oportuno para investimento em fundos de debêntures e debêntures incentivadas [isentas de Imposto de Renda], porque eles oferecem retorno alto, bem atrativo, em um cenário no qual a curva de juros pode estar volátil e sem expectativa para novas subidas", acrescenta Belitardo.
Leia também:
Renda Fixa: tudo o que você precisa saber para investir com segurançaO que é debênture e como investir em dívida corporativaVale a pena investir em crédito privado?
Títulos de crédito privado, como as debêntures, são uma opção de renda fixa para o investidor. Em cenário de alta de juros, como o atual, esse tipo de investimento acaba ganhando mais espaço nas carteiras, já que oferece previsibilidade de ganhos em um momento de várias incertezas, como avalia Fabrício Silvestre, analista de renda fixa da Levante Inside Corp.
"No cenário atual, a renda fixa vai ganhar força e espaço, até porque não há clareza nos cenários econômico e corporativo. Não sabemos a qual nível o BC vai elevar os juros e por quanto tempo vai manter elevada, e com isso a receita das empresas pode desacelerar também. Se o investidor olhar para esse cenário e interpretar que empresas vão apresentar lucros menores, vai buscar a previsibilidade da renda fixa", comenta.
Esse aumento da demanda pelo crédito privado gera mais liquidez neste mercado, o que acaba movimentando o chamado mercado secundário - isto é, a compra e venda de títulos entre investidores no ambiente da Bolsa antes do vencimento destes títulos. Aqui, o que vai mandar é a marcação a mercado, e investidores podem ganhar com isso.
"Hoje temos um mercado secundário com níveis mais relevantes do que no passado, e que permite até fazer trade", afirma Ricardo Carvalho, da Fitch Ratings, citando operações que investidores mais experientes e de perfil agressivo podem realizar no mercado de debêntures em busca de ganhos de curto prazo.
Para o investidor comum, também é possível captar esses ganhos com marcação a mercado por meio de fundos de crédito, como explica o gestor Ângelo Belitardo, da Hike Capital. "A curva de juros volátil e em patamar elevado ajuda fundos de debêntures geridos por boas gestoras a entregarem altos retornos. Essas gestoras conseguem lucrar com a volatilidade da marcação a mercado, capturando retornos com trades diários de debêntures".
Como investir em crédito privado?
O investidor pode alocar recursos diretamente em debêntures por meio da sua plataforma de investimentos, ou então via fundos de crédito, que investem em diversas debêntures e, como explicaram os especialistas, atuam diariamente em busca de ganhos com marcação a mercado.
Para quem quer ficar isento do pagamento de Imposto de Renda (IR), existe a opção das debêntures incentivadas, cujos recursos são destinados para projetos de infraestrutura, como rodovias, energia e saneamento básico. Há também fundos que investem somente nas debêntures incentivadas.
Além das debêntures, títulos como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) também surgem como opção de alocação de recursos no crédito privado.
Confira a Seleção de Crédito Privado, com sugestões de alocações em títulos incentivados que possuem a melhor relação de risco vs. retorno na visão dos analistas do BB-BI, com base nas métricas de crédito de cada emissor.
Para saber mais, acesse o Guia de Crédito Privado do BB Investimentos:
Guia de Crédito PrivadoQuer dar uma nota para este conteúdo?