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Crédito privado supera R$ 1 tri de alocação em fundos nos últimos 10 anos

Fundos de crédito privado têm atraído cada vez mais investidores, refletindo maturidade do mercado de investimentos brasileiro

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura4 minutos

Atualizado em

02/09/2024 às 12:14

Por Gustavo Boldrini, do Broadcast

O crédito privado é um dos segmentos de investimento que mais cresceram no Brasil nos últimos anos. Segundo dados da Anbima compilados pela Integral Investimentos, entre dezembro de 2013 e maio de 2024 houve um crescimento de 155% do total investido em crédito privado por fundos de investimento no Brasil, passando de R$ 525 bilhões para R$ 1,34 trilhão.

Crédito privado são títulos de dívida emitidos por empresas, como Certificados de Depósito Bancário (CDB), debêntures, direitos creditórios, títulos imobiliários, letras financeiras, entre outros. E os fundos de crédito privado misturam esses ativos em carteira.

O investidor brasileiro tem demandado portfólios mais diversificados, segundo Viviane Silva, analista do BB Investimentos (BB-BI). Ela cita o ano de 2020, quando a taxa Selic atingiu o nível mínimo histórico de 2%, como um marco nesse sentido.

"Esse crescimento [do crédito privado] pode ser explicado, entre outros fatores, pela consolidação de uma maior demanda de investidores por portfólios diversificados, em especial pessoas físicas, visando retornos mais atrativos em comparação com papéis emitidos pelo Tesouro, sobretudo a partir de 2020", avalia.

Do lado das empresas, a taxa Selic na mínima histórica impulsionou a busca das empresas por mais opções de financiamento no mercado. Segundo o levantamento da Integral Investimentos, cerca de 100 empresas estavam emitindo debêntures há 10 anos. Hoje, esse número está na casa de 1.200, totalizando R$ 1 trilhão em estoque deste tipo de título.

"Mesmo após dois momentos desafiadores no ano passado, com as crises de Light e Americanas, a classe se manteve sólida o bastante para reforçar que os fundos de crédito privado são ativos que merecem destaque, não só pela alocação de investimentos, como também por serem opção para o financiamento de companhias", afirma Marcos Iório, sócio e gestor dos fundos de crédito privado da Integral Investimentos.

Quais são as perspectivas para o crédito privado?

Depois de passar por um momento conturbado no início de 2023, com eventos como as crises financeiras de Americanas e Light, o mercado de crédito privado conseguiu retomar o caminho de crescimento no segundo semestre do ano passado. Gestores ouvidos pelo Broadcast acreditam que 2024 será um novo ano recorde em volumes de captações com instrumentos de crédito privado pelas empresas.

O processo de cortes na taxa Selic contribuiu para esse cenário, uma vez que o risco de crédito diminui com o juro mais baixo, mas o fato de a taxa de juros real (Selic menos inflação) seguir em patamar considerado alto também mantém em alta o apetite pela renda fixa.

Do ponto de vista dos fundos que investem em crédito privado, "a melhora do risco de crédito com a queda da Selic levou ao fechamento nos spreads (prêmios) e consequentemente, ótimos retornos, levando a captações recordes e elevação da demanda por ativos", comenta Marcos Iório.

Viviane Silva, do BB-BI, cita mudanças regulatórias recentes, como o aumento das restrições do Conselho Monetário Nacional (CMN) à emissão de títulos incentivados - como CRI e CRA - e o fim da isenção do imposto come-cotas nos fundos exclusivos como "vetores adicionais para o aumento da procura por diferentes instrumentos de crédito privado como fontes alternativas de alocação".

Ela alerta, porém, que já é possível observar estabilidade técnica dos prêmios nos últimos meses devido ao maior equilíbrio entre oferta e demanda de crédito privado. Com isso, os prêmios, isto é, a remuneração ao investidor nos títulos de crédito privado, têm se estabilizado. Segundo a analista, a previsão é que, daqui para a frente, "o desempenho dos índices que espelham carteiras de crédito privado tende a arrefecer, o que reforça a necessidade de maior cautela e seletividade na escolha dos papéis."

Avaliação de risco

O crédito privado é considerado uma alternativa de renda fixa que pode trazer retornos mais elevados que títulos públicos do Tesouro Direto, diz Vicente Lo Duca, gestor de estratégia e assessoria de investimentos do Banco do Brasil. Mas ele alerta que, antes de se aventurar nessa modalidade, o investidor precisa estar atento ao seu perfil.

"Entendemos que é um importante instrumento que gera a possibilidade de potencializar o retorno do cliente, mas que tem um risco de crédito envolvido que não pode ser desprezado". Segundo o profissional, a alocação máxima sugerida para os perfis conservadores de investidor é em torno de 12%.

O gestor acrescenta que, dentro da classe do crédito privado, também é recomendada a diversificação entre emissores e setores, para diluir ainda mais o risco potencial.

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