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Como ajustar a carteira de investimentos após queda de juros nos EUA e alta no Brasil

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura7 minutos

Atualizado em

19/09/2024 às 16:10

Por Luana Pavani, do Broadcast

São Paulo, 19/09/2024 - O mercado financeiro é movido por expectativas, e investidor nenhum gosta de surpresas. Assim, aconteceu o que se esperava: corte de juros nos Estados Unidos de 0,50 ponto porcentual e alta da taxa Selic no Brasil, de 0,25 pp. Enquanto os economistas fazem ajustes em planilhas para formar novas projeções, o investidor pessoa física precisa olhar para suas aplicações à luz das novas taxas.

O Copom elevou a taxa Selic em 0,25 pp, para 10,75%, conforme amplamente esperado pelo mercado. No caso do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), órgão decisório de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), não havia consenso: tinha quem visse corte de 0,25 pp e quem projetasse corte de 0,50 pp, que prevaleceu.

Confira: Copom aumenta Selic para 10,75% a.a.

Os motivos já foram amplamente debatidos ao longo da semana, de modo que podem ser resumidos em poucas linhas.

A decisão do Fed, de iniciar o ciclo de relaxamento monetário, visa o pouso suave, ou seja, reduções graduais de juros para conter a inflação sem causar grande desaceleração econômica.

Já o aperto monetário no Brasil tem como objetivo controlar as expectativas de inflação, que atualmente estão desancoradas da meta, e a própria atividade econômica, que vem acelerando, inclusive com previsão majorada de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano.

Assim, talvez sejam necessários alguns ajustes na composição das carteiras, conforme os objetivos e perfis de risco de cada um.

A seguir, o Broadcast ouviu especialistas em busca de orientações sobre como montar a carteira de investimentos no atual cenário. É unânime a recomendação de concentrar aportes na renda fixa, com destaque para títulos pós-fixados, mas sem perder de vista oportunidades em bolsa, em ações de empresas sólidas e com bons fundamentos. Afinal, diversificação é fundamental para qualquer estratégia de investimentos.

Qual o cenário para a renda fixa?

Para começar, é preciso destacar que há oportunidades de investimento tanto em renda fixa quanto variável. "A gente não precisa escolher renda variável ou renda fixa, já que o processo de alocação de ativos é a estratégia de diversificação", afirma Vicente Lo Duca, estrategista de investimentos do BB. Ele pontua que o compromisso do Banco Central com a inflação é positivo para a confiança do investidor.

  • Diante do conjunto atual de informações, o time de economistas do Banco do Brasil prevê novas altas da taxa Selic até fechar o ano em 11,25%, passando a 11,50% em janeiro de 2025 para então retomar a flexibilização dos juros a partir do segundo semestre, caindo a 10,50% no final do ano que vem.

No caso da renda fixa é mais previsível vislumbrar a rentabilidade, por ter a taxa conhecida atrelada a um indexador, como a variação da taxa DI, sobre a taxa Selic, ou da inflação (IPCA). Quanto à cesta dos títulos de renda fixa, os pré-fixados não devem capturar novas aplicações no momento.

"Se há uma variação para cima na taxa básica, evidentemente a aplicação pré-fixada sai perdendo um pouco. Por outro lado, se for pós-fixada, se há variação do indexador para cima, o resultado desse investimento acompanha", explica o professor da FIA Business School José Carlos de Souza Filho.

Ele lembra ainda que há a segurança ao investidor diante do aumento da taxa Selic que remunera os títulos de renda fixa e muitos deles estão cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para aplicações de até R$ 250 mil.

"A tendência é que a renda fixa melhore, muito embora comparativamente com os EUA, a taxa de risco do Brasil seja maior, mas esse prêmio já está sendo considerado nessa diferença de juros", conclui.

Na opinião do economista e sócio da EducPay Vandyck Silveira, "não é hora para entrar na Bolsa". Inclusive, ele pontua que a maior parte do fluxo esperado de investidores estrangeiros para o mercado brasileiro fruto do diferencial de juros virá para a renda fixa.

Em termos de alocação, ele sugere títulos atrelados à inflação, observando que há boas oportunidades no mercado de variação acima do IPCA.

Nesse ponto, vale frisar que os diretores do Banco Central adotaram uma linguagem "hawkish", diante da elevação da projeção de inflação para o 1º trimestre de 2026 de 3,4% para 3,5% e a reavaliação sobre o balanço de riscos, agora visto com assimetria altista.

Voltando à sugestão de carteira para o atual cenário, Silveira propõe 65% a 70% em renda fixa, e na parte de renda variável ações de bancos sólidos - "já que com o aumento de juros, é uma aposta segura que os bancos ganhem" - e também ETFs em torno do índice S&P 500, já que a queda de juros nos EUA pode movimentar a bolsa por lá.

A carteira sugerida do BB também traz sugestões de fundos no exterior, como alguns geridos pela BB Asset outros por gestores externos. Veja mais em clicando aqui.

Qual o cenário para a Bolsa brasileira?

A percepção é de que a bolsa brasileira está barata. A afirmação é de Wesley Bernabé, head de Research do BB-BI. Ele lembrou que em agosto passado a comparação do Ibovespa com outros índices globais apontava valuation (processo de avaliação de empresas) atrativo.

Mais do que a influência da taxa de juros sobre a Bolsa - lembrando que tanto maior a remuneração em ativos seguros, atrelados a juros, menor é o apetite por ativos de risco -, Bernabé se vale da análise fundamentalista para declarar sua visão otimista do Ibovespa este ano.

"Para aqueles investidores que olharam para agosto e olharam para novembro de 2023 e pensaram em realizar lucros, nós orientamos que esse investidor permaneça na Bolsa", diz Bernabé, frisando que essa visão é mais "estrutural", com base nas melhoras de recomendação feitas pela equipe de análise após a safra de balanços do segundo trimestre das empresas brasileiras.

A grande maioria dos setores apresentou resultados positivos, com destaque do BB-BI para o bloco de ações de bancos e setores voltados ao mercado doméstico, principalmente o imobiliário.

Já o setor de alimentos e bebidas, ainda mais no caso de proteína animal, pode ficar pressionado daqui para a frente com o enfraquecimento do dólar previsto com a decisão do Fed. Lembrando que R$ 5,25 é o cenário de câmbio do BB-BI para o final de 2024.

"Para os investidores que estão avaliando oportunidades, a renda fixa permanece extremamente atrativa e deverá direcionar a maior parte dos investimentos daqui em diante. Já as ações poderão se ressentir, embora nosso mercado ainda esteja relativamente barato. Minha impressão é que será preciso ser seletivo na Bolsa, mas existem alternativas interessantes para os que pretendem investir a longo prazo", comenta Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos e coordenador de Economia e Finanças da ESPM.

Como estão as previsões para o câmbio?

Com o cenário atual de juros mais altos no Brasil e em queda nos Estados Unidos, o investidor pessoa física deve pensar em diversificar sua exposição ao dólar, afirma Elson Gusmão, diretor de Câmbio da Ourominas.

No mercado de câmbio, o impacto das decisões dos bancos centrais tem a ver com o carry trade , que reflete o diferencial de juros entre países, impactando diretamente o câmbio. Quando os juros no Brasil estão mais altos que em outros países, como os EUA, investidores buscam captar recursos em dólares, a um custo menor, e aplicar em ativos brasileiros de renda fixa, buscando maiores retornos. Isso gera uma pressão de valorização do real e depreciação do dólar.

"No entanto, essa operação carrega riscos, principalmente se houver uma mudança inesperada na política monetária ou no apetite por risco global, o que pode reverter o fluxo e gerar uma desvalorização do real e alta do dólar", diz Gusmão.

Para quem deseja se proteger contra oscilações cambiais, fundos cambiais são uma estratégia adequada.

"Além disso, recomendamos manter parte da carteira em ativos internacionais e entre eles destacamos com ênfase o ouro. É disparado o maior ativo de proteção, além de possuir liquidez imediata. Cito também os investimentos em fundos globais ou investimentos offshore que garante diversificação e proteção contra riscos externos. Ajustes pontuais podem ser necessários conforme o perfil de cada investidor e a dinâmica global", afirma Gusmão.

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