Agro, metais e petróleo: quais setores da B3 devem ser mais impactados pelo tarifaço dos EUA
Analistas veem impacto marginal das tarifas americanas sobre empresas do setor metálico e de petróleo listadas na Bolsa
Publicado por: Broadcast Exclusivo
6 minutos
Atualizado em
07/04/2025 às 11:32
Por Fabiana Holtz, do Broadcast
São Paulo, 07/04/2025 - A escalada na guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos desde a posse de Donald Trump para comandar o país pela segunda vez, em 20 de janeiro, tem repercutido nos mais diversos setores por aqui. Os impactos variam de setor para setor, e ainda é difícil compreender a magnitude do impacto desse cenário nas vendas das empresas listadas na B3.
A princípio, analistas observam possíveis efeitos mais negativos para as empresas do universo das commodities, como o agronegócio - uma vez que o Brasil é um grande exportador de soja, carne, suco de laranja, algodão e café para os americanos, mineradoras, petrolíferas e as fabricantes de papel e celulose.
No semana passada, em entrevista à TV Globo , o vice-presidente Geraldo Alckmin já declarou que o governo brasileiro está atento aos efeitos que o "tarifaço" pode gerar no comércio exterior. "Nós ligamos aqui o alerta, porque pode ter desvio de comércio do mundo para desaguar aqui no Brasil. Então nós vamos monitorar qualquer alteração brusca de comércio exterior".
Para o head de renda variável da Fami Capital, Gustavo Bertotti, entre as empresas brasileiras, os setores que serão mais atingidos pelo tarifaço no momento são as que atuam no segmento de commodities, principalmente minério, aço e celulose.
Em resumo, a lista inclui, além das gigantes Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4 e PETR3), nomes como Usiminas (USIM5), CSN (CSNA3), e Suzano (SUZB3). "Essa escalada no guerra comercial terá um impacto generalizado e só piora um cenário que já está ruim", observa. Em termos corporativos, o especialista traduz o atual momento em consumo menor, custo mais alto e mais prejuízo para as empresas.
Fique por dentro:
Tarifaço dos EUA: Entenda os possíveis impactos na economia brasileiraPalavra do Economista | Tempos estranhosExportadoras em foco
Na visão de Pedro Accorsi, analista da Benndorf Research, em um primeiro instante, quem parece mais vulnerável são as exportadoras que dependem fortemente das vendas nos EUA, mas cuja produção é majoritariamente realizada em outras regiões. No curto prazo, ele acredita que o impacto será mais marginal.
"Grandes exportadoras de matéria-prima, que são pilares da economia brasileira, também sentem o peso dessas medidas, assim como, em menor grau, as exportadoras de carne bovina e as do setor automotivo", observa.
Já para Bertotti, entre as exportadoras ele avalia que a Embraer (EMBR3) não deve sentir tanto assim os impactos por estar muito bem posicionada no mercado internacional, além de ser uma geradora de caixa. Ele observa ainda que o mercado de aviação está muito aquecido. "As entregas tem aumentado", acrescenta.
As empresas do agronegócio também devem sentir os efeitos desse ambiente de negócios mais turbulento, mas de forma mais suave, acredita o analista. "Isso se deve, em parte, porque o Brasil já é um grande player e o mundo depende muito dos nossos produtos".
Brasil tem posição privilegiada
Accorsi ressalva, no entanto, que é arriscado afirmar qualquer coisa nesse momento, pois pode haver mudanças significativas pela frente, mas o Brasil se encontra em uma posição privilegiada em relação aos seus pares.
Além disso, a queda recente do dólar influencia negativamente as empresas que exportam, pois, ao converter a receita para reais, elas acabam recebendo menos, enquanto os custos permanecem na moeda local.
Por outro lado, do ponto de vista do consumidor americano, a alta de tarifas implica um repasse de preços. O Brasil, porém, foi listado entre o grupo de países com tarifa mínima (10%), o que pode contribuir para maior competitividade dos produtos brasileiros.
Empresas e setores voltados para a economia doméstica, por sua vez, tendem a se beneficiar da desvalorização do dólar e de uma possível redução nas taxas de juros internas, pontua Accorsi, já que estão menos expostos ao mercado externo.
"Contudo, é preciso lembrar que grandes players globais, diante de uma queda na demanda dos Estados Unidos, podem buscar outros mercados para escoar sua produção, o que poderia prejudicar companhias brasileiras como a Vulcabrás (VULC3), que fornece para Nike e Adidas), ao aumentar a concorrência em outros países", analisa.
Quer dar uma nota para este conteúdo?