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Fed deve cortar juro pela terceira vez nos EUA, mas pode pisar no freio com Trump

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura4 minutos

Atualizado em

18/12/2024 às 10:16

Por Aline Bronzati, do Broadcast

Nova York, 18/12/2024 - De um canto a outro de Wall Street, é dado como certo que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortará juros novamente na reunião que começou ontem e termina hoje, com a última decisão de política monetária deste ano esperada para as 16h (de Brasília).

A grande incógnita no mercado é o que virá depois, com dirigentes da autoridade indicando que uma nova mudança pode estar a caminho, com uma pausa nos cortes em janeiro, diante da resistência dos preços nos EUA e a chegada de Donald Trump à Casa Branca.

Assim, a expectativa é que o Fed corte hoje os juros novamente em 0,25 ponto porcentual (pp), em seu terceiro movimento do ciclo de flexibilização pós covid-19, para o intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano - 1 pp abaixo do nível de setembro último, quando deu início à redução.

Incerteza sobre os próximos passos

"A economia está em uma base mais forte do que o Fed temia meses atrás. Dito isso, um corte em dezembro parece garantido. A questão é o que vem a seguir", diz o economista-chefe do Morgan Stanley para os EUA, Michael Gapen.

A Capital Economics vê o corte de juros desta semana como uma espécie de "presente de Natal antecipado" para Wall Street. Em geral, bancos e consultorias esperam que o Fed aponte mais cautela no processo de flexibilização monetária no país em seus próximos movimentos, em linha com recentes discursos de dirigentes do Fed.

O mercado espera pouca mudança no comunicado de política monetária, mas os sinais de cautela podem já dar as caras nas projeções econômicas que serão divulgadas em paralelo à decisão de dezembro e também nas respostas do presidente do BC dos EUA, Jerome Powell, a jornalistas na tradicional coletiva de imprensa que acontece logo após o fim da reunião, às 16h30.

É provável que o Fed sinalize que mais cortes estão por vir, mas os abordará com mais cautela", diz Gapen, que espera mais quatro cortes de 0,25 pp no próximo ano e apenas um corte desta magnitude em 2026. "Os riscos estão na direção de menos cortes", alerta.

Já o Bank of America vê o Fed repetindo a trajetória deste ano em 2025, com apenas mais três cortes de juros e uma taxa neutra terminal mais alta.

Na mesma toada, está o Goldman Sachs, que espera reduções nos meses de março, junho e setembro de 2025. Apesar disso, o banco avalia que um corte em janeiro tem mais chances de ocorrer do que o mercado precifica. "Mas os comentários de dirigentes do Fed apontaram claramente para um desejo de diminuir o ritmo em breve", pondera.

Cautela com dados e novo governo

Em sua última aparição, Powell indicou que a autoridade poderia ir com mais cautela com o corte de juros nos EUA. "Esperamos que Powell repita amplamente essa mensagem em sua coletiva de imprensa", diz o Bank of America.

Do lado dos dados, a inflação retomou a dianteira das preocupações do Fed, após o relatório payroll de novembro derrubar os temores de uma desaceleração mais abrupta do mercado de trabalho americano. Se de um lado os dados dos preços ao consumidor e ao produtor reforçaram as expectativas do mercado por mais um corte de juros, do outro, mantiveram uma pulga atrás da orelha de Wall Street quanto ao processo de desinflação no país, que estagnou, na visão de muitos.

A Capital Economics calcula que o índice de preços de gastos com consumo (PCE), a medida preferida de inflação do Fed, tenha subido somente 0,08% em novembro, o que, se alcançado, marcaria o menor aumento desde outubro de 2020. Já a taxa anual permaneceria em 2,8%, conforme as projeções da consultoria britânica.

"Isso permitirá que o Fed respire aliviado, pois sugere que o aumento da inflação acima da meta nos meses de setembro e outubro não foi o início de uma tendência mais forte", afirma o economista da Capital Economics para a América do Norte, Thomas Ryan. O PCE será conhecido na sexta-feira, dia 20.

O alívio pode, contudo, ter vida curta. Isso porque as tarifas comerciais prometidas por Trump preocupam e podem desencadear pressões inflacionárias no próximo ano, na visão de economistas. "Quem nos taxar, taxaremos de volta. Tarifas farão nosso país rico", afirmou o futuro presidente dos EUA em sua primeira coletiva de imprensa desde que foi eleito.

Esse deve ser outro foco das perguntas dos jornalistas a Powell. Para além do que fará com os juros e sua relação com a inflação e o mercado de trabalho, o que a imprensa e Wall Street querem saber é como o Fed reagirá ao governo Trump. Na opinião do Bank of America, Powell deve minimizar as questões de cunho político e não pré-julgará a agenda do republicano.

Até mesmo porque, tudo segue como antes das eleições presidenciais nos EUA, observa o estrategista-chefe da BNP Paribas Asset Management, Daniel Morris. "Precisamos esperar pela posse, ver quais são as propostas, e então poderemos reavaliar o impacto no crescimento e na inflação", disse ao Broadcast.

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