Bolsa, dólar, China e Bitcoin: para onde vão os mercados após vitória de Trump
Bolsa, dólar, China e Bitcoin: para onde vão os mercados após vitória de Trump
Publicado por: Broadcast Exclusivo
6 minutos
Atualizado em
08/11/2024 às 17:44
Por Gustavo Boldrini, do Broadcast
São Paulo, 06/11/2024 - O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump derrotou nas urnas a vice-presidente do país, Kamala Harris, e voltará à Casa Branca em 2025. Ainda não é oficial, mas projeções apontam que o republicano superou os 270 delegados necessários para vencer a disputa e presidirá o país até 2028 em um segundo mandato.
O retorno do republicano à presidência americana tende a trazer efeitos diversos para a economia e geopolítica global, e consequentemente para os mercados financeiros. A seguir, confira as principais perspectivas:
Para onde vão as bolsas após Trump?
As bolsas de Nova York reagem à vitória de Trump em alta nesta quarta-feira, enquanto o Ibovespa cai. Para a economista Andressa Durão, do ASA, o movimento inicial de alta das ações americanas está atrelado às expectativas de cortes de impostos e desregulamentação de alguns setores.
Na avaliação de John Plassard, economista do Grupo Mirabaud, a redução da tributação proposta por Trump "pode aumentar os lucros das empresas americanas, favorecendo o S&P 500, apesar de possíveis obstáculos legislativos".
Segundo ele, setores como combustíveis fósseis, farmacêutico e empresas de pequena capitalização (small caps) tendem a se beneficiar, enquanto os mercados de Europa e China podem ser prejudicados pelo aumento do protecionismo.
Por aqui, o efeito deve ser inverso. Trump tem prometido uma postura mais protecionista na economia, o que tende a ser lido como um sinal de que os juros vão ficar num nível alto por mais tempo nos EUA e o dólar vai continuar se valorizando, reduzindo o ímpeto dos investimentos em países emergentes. Com isso, as perspectivas para o Ibovespa, num primeiro instante, são negativas.
"Todo esse cenário é ruim não apenas para o Brasil, mas para todos os países emergentes, juros mais altos nos EUA significam menos fluxo de dólares para outras economias, como o Brasil", avalia Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.
Os Treasuries, títulos do Tesouro americano, operam em forte alta nesta manhã de terça-feira, consolidando as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) será mais contido nos próximos cortes de juros, com duas reduções de 25 pontos-base nos Fed Funds nas decisões desta quinta (7) e de 18 de dezembro.
Qual o impacto do governo Trump para a China?
Outro fator importante a ser levado em conta é um possível aumento das tensões geopolíticas com a China, que foi alvo de ataques por parte de Trump ao longo da campanha. O republicano chegou a prometer tarifas de 60% sobre produtos importados da China, o que pode impactar significativamente não só a economia local como o comércio global.
Nesta quarta-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse que espera uma "coexistência pacífica" com os EUA, mantendo princípios de "respeito mútuo".
No entanto, é praticamente unânime entre analistas que a vitória de Trump eleva as incertezas em relação ao cenário na China. Em relatório, o banco holandês ING cita que a volta do republicano à Casa Branca cria um ambiente desfavorável para a moeda chinesa e que as exportações para os Estados Unidos podem ser afetadas.
A perspectiva de que o governo dos EUA imponha dificuldades às exportações chinesas no ano que vem pode ter impacto em commodities metálicas como o cobre e o minério de ferro, que possuem a indústria e o setor de infraestrutura chineses como principais consumidores na escala global. E isso pode afetar ações de mineradoras pelo mundo, como a Vale, principal ativo do Ibovespa.
Para onde vai o dólar com Trump?
O índice DXY, que mede a força do dólar ante uma cesta de outras moedas de países desenvolvidos, responde com forte alta à eleição de Trump, e por aqui o dólar à vista chegou a tocar os R$ 5,86 nos primeiros instantes de negociação.
A volta do republicano à Casa Branca traz a expectativa de adoção de políticas protecionistas e de um mandato com viés inflacionário, isto é, com perspectiva de aumento das despesas do governo americano.
"No Brasil, essa conjuntura externa projeta uma pressão sobre a moeda local, elevando as expectativas de desvalorização do real e, por tabela, aumentando a pressão inflacionária", comenta Gesner Oliveira, sócio da GO Associados e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Segundo ele, o contexto de pressão externa "reforça a necessidade de uma política fiscal mais rigorosa e cuidadosa com o equilíbrio das contas públicas" no Brasil, com o objetivo de controlar a inflação e evitar aumentos nas taxas de juros.
Para onde vai o Bitcoin?
Como já era esperado por diversos analistas, o Bitcoin renovou sua máxima histórica com a eleição de Trump, aos US$ 75.361,09, nesta manhã, pós-eleição. A expectativa é de que o governo republicano seja mais amigável às criptomoedas, com políticas favoráveis e uma regulamentação mais branda ao setor.
"Com um cenário positivo, o Bitcoin poderá buscar novas máximas, com alvo de médio prazo nos U$ 81.300 e possivelmente atingindo a marca de US$ 100.000 em 2025. No entanto, os investidores devem manter-se atentos aos fatores econômicos que possam impactar o mercado", comenta Ana de Mattos, analista técnica e trader parceira da Ripio.
Para Felipe Vallejo, diretor de Corporate Affairs da Bitso, "apesar da euforia, é essencial acompanhar o desenvolvimento da economia americana nos próximos meses, especialmente em um contexto global de grandes conjunturas geopolíticas". Ele acrescenta que as criptomoedas devem ter um papel cada vez mais relevante na economia mundial.
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