Dólar cai mais de 6% no ano: até onde vai a baixa da moeda americana?
Publicado por: Broadcast Exclusivo
7 minutos
Atualizado em
11/02/2025 às 15:59
Por Gustavo Boldrini, do Broadcast
São Paulo, 11/02/2025 - Após a valorização de 27% em relação ao real em 2024, o dólar à vista tem caído de forma consistente nas primeiras semanas de 2025, acumulando baixa de mais de 6% no ano. Agora, investidores se perguntam se o movimento seria apenas uma correção dos ganhos do ano passado ou se o movimento tende a prosseguir.
Até aqui, especialistas olham para a "guerra das tarifas" promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como um dos principais fatores externos que podem mexer com a moeda americana.
O mais novo capítulo, e que afeta diretamente o Brasil, é o anúncio de tarifas sobre as importações de aço e alumínio a partir de 12 de março. Vale lembrar que o Brasil é o segundo maior vendedor de aço para os EUA - atrás do Canadá. Já as tarifas anunciadas nos primeiros dias de governo Trump sobre Canadá e México, estão suspensas.
Por aqui, o ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), que deve chegar aos 14,25% na reunião de março do Comitê de Política Monetária (Copom), também afeta as perspectivas para o real. Isso porque o diferencial de juros do Brasil em relação aos EUA pode ser um atrativo para investimentos estrangeiros no País.
Diante desse cenário incerto, será que a queda da moeda americana pode prosseguir e voltar ao nível dos R$ 5,50, visto pela última vez em outubro do ano passado? Especialistas apontam alguns motivos para a atual tendência de baixa do dólar ante o real.
Cenário internacional
O "tarifaço" de Trump, em teoria, tende a fortalecer a moeda americana. O fato de o Brasil ser um dos alvos das tarifas, especialmente com as taxações sobre importações de aço e alumínio pelos EUA, eleva a percepção de risco e pode penalizar o real, segundo Marcelo Rebelo, economista-chefe do Banco do Brasil.
"Em que pese esse começo de ano com importante apreciação do real e de outras moedas emergentes, permaneço cético à visão de que a taxa de câmbio deverá se sustentar distante dos R$ 6,00 por período prolongado", comenta Rebelo.
Por outro lado, a economista Paloma Lopes, da Valor Investimentos, aponta que os agentes de mercado ainda têm dúvidas sobre a efetividade das ameaças do presidente americano. E isso tem, de certa forma, "segurado" um movimento forte de valorização do dólar.
"Não tem como negar que as políticas protecionistas do Trump fazem o dólar oscilar com muita veemência, e a gente espera que isso continue ao longo do ano. Mas são oscilações diárias de acordo com novos anúncios. Eu acho que o Trump vai recuar de algumas tarifas, como ele já fez no passado. É típico dele soltar seis ou sete informações num dia para só uma ir adiante", comenta Lopes.
Para ela, apesar das oscilações possíveis ao sabor das tarifas de Trump e de eventuais respostas daqueles que serão alvo das taxas, não há nada que indique que o dólar vai "estourar a barreira dos R$ 6,00".
Nas últimas cinco edições do relatório Focus, do Banco Central, economistas do mercado financeiro vêm mantendo a projeção para o dólar a R$ 6,00 no final de 2025.
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A baixa do dólar pode ser explicada por um movimento técnico, na avaliação de Christian Lupinacci, CIO da Lev Asset. Segundo ele, novembro e dezembro foram meses de alto fluxo de remessas de lucros e dividendos para fora do País, o que tirou dólares do País e valorizou o câmbio no fim do ano. Agora, o que ocorre é um movimento no sentido inverso, em especial por parte de empresas exportadoras.
"Acabou o ano, esse fluxo de remessa acaba e passa a ter o fechamento de ano fiscal de exportadores. Portanto, os exportadores 'internam' dinheiro, coisa que a gente está observando muito claramente. Esse movimento começa a causar a realização de lucro daqueles que compraram dólar antes, o que alimenta e gera esse movimento forte e brusco para baixo", explica.
Diferencial de juros
A alta dos juros tende a favorecer o real devido a um conceito conhecido como diferencial de juros. Com a Selic atualmente em 13,25% e podendo subir para 14,25% em janeiro, torna-se cada vez mais atrativo investir em títulos de renda fixa no Brasil, já que taxa de juros nos Estados Unidos, ainda que esteja num nível considerado alto, seja bem menor: os Fed Funds estão na faixa entre 4,25% e 4,50%.
"Com um diferencial de juros alto, há uma pressão forte para a apreciação da taxa de câmbio, podendo levar o dólar para a casa dos R$ 5,50. O carrego está muito alto, tornando o real atrativo para investidores estrangeiros", explica o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala.
Cotação das commodities em alta
A alta das commodities neste ano também ajuda a explicar os ganhos do real, para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. Segundo ele, também existe a possibilidade de investidores virem ao Brasil como forma indireta de aproveitar a melhora de expectativas para a economia da China.
"Bancos de investimento dizem que é muito difícil investir na China, e a bolsa lá apresenta um rali muito grande. Comprar ativos de países com exposição à economia chinesa seria uma alternativa. E o Brasil com suas blue chips [ações de maior liquidez, como Vale e Petrobras] se encaixa nessa definição", afirma Borsoi.
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