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Como identificar 'greenwashing' antes de fazer um investimento ESG

Saiba quando uma empresa tenta te enganar dizendo ser sustentável ou socialmente responsável

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura8 minutos

Atualizado em

03/10/2024 às 16:55

Sumário do conteúdo a seguir:

Por Gustavo Boldrini, do Broadcast

A prática de greenwashing vem tirando o sono dos investidores quando o assunto é ESG, sigla em inglês para práticas de preservação do meio ambiente, responsabilidade social e governança corporativa. A palavra, uma alusão à lavagem de dinheiro, em tradução livre seria "lavagem verde". Nada mais é do que o uso de informações falsas ou pouco transparentes em torno da agenda ESG, o que afeta negativamente a reputação de uma empresa e pode causar prejuízos a seus acionistas ou aos cotistas de fundos de investimento que mantêm essa ação no portfólio e imaginavam estar comprometidos com sustentabilidade, por exemplo.

Uma pesquisa do instituto de pesquisas Harris Poll com 1.491 diretores e executivos de 16 países publicada em abril de 2022 mostra que 29% dos entrevistados reconhecem que suas empresas utilizavam a sustentabilidade como um "truque de relações públicas" ("PR stunt" na expressão em inglês). Ou seja, algo que se promovia por meio de comunicação institucional, mas que não necessariamente se traduzia em práticas.

O greenwashing pode derivar de uma inconsistência, como uma empresa que, por exemplo, utilize um logotipo verde e reforce em seus comunicados à imprensa e aos investidores que seu modelo de negócios é sustentável, mas que sequer realize coleta seletiva do lixo de suas unidades. Ou outra companhia que se apresente como defensora da diversidade e da igualdade de gênero, mas cujos funcionários são acusados de comportamento racista no trato com os clientes.

Como identificar o greenwashing

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) criou um guia chamado "Mentira Verde", listando algumas práticas comuns de empresas que praticam o greenwashing.

A primeira dica é prestar atenção à falta de provas. Se uma empresa diz que não utiliza ingredientes de origem animal em seus produtos, mas não especifica dados e fatos científicos que comprovem isso, pode ser greenwashing.

Há outras nuances, como a imprecisão de informações e a chamada "troca oculta", quando uma empresa cita alguma prática negativa sob o ponto de vista ambiental para justificar suas iniciativas no intuito de ser sustentável. Por exemplo, imagine que um restaurante utilize copos descartáveis de plástico, cujo descarte indevido pode causar problemas ao meio ambiente, afirmando que seria uma forma de economizar água em comparação a lavar copos de vidro. Faz sentido a troca?

CVM está atenta ao greenwashing

Transparência e clareza nos dados são fundamentais quando falamos de agenda ESG, ainda que a empresa admita que possui algumas lacunas - mas precisa nomear quais e porquê. Assim, divulgar as medidas de preservação ao meio ambiente, responsabilidade social e governança corporativa é o primeiro passo de uma companhia para evitar falhas de comunicação, principalmente se ela for de capital aberto. Toda empresa listada em bolsa precisa responder às regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula o mercado de capitais no Brasil.

No início de 2023, a autarquia lançou sua Política de Finanças Sustentáveis, que tem o combate ao greenwashing como um dos principais objetivos. No documento, o foco é o pilar da sustentabilidade, mais ligado à letra "E" da sigla ESG (do termo em inglês "Environment").

Um dos trechos das diretrizes da Política das Finanças Sustentáveis da CVM trata especificamente do tema. No item 4, a autarquia diz que um dos objetivos das medidas é "direcionar ações de supervisão que busquem coibir o greenwashing no âmbito do mercado de valores mobiliários".

Existe punição por greenwashing?

Há casos no mundo de empresas punidas por greenwashing , mas ainda não no Brasil. Isso porque no que se refere ao desenvolvimento do mercado ESG, ainda em estágio inicial no País, a CVM prefere chamar todas as regras que as empresas devem seguir nesse âmbito como "orientações".

Uma delas é a Resolução CVM 80, um documento que dispõe sobre a divulgação de informações periódicas por partes de empresas e fundos de investimentos para reforçar a prestação de contas a respeito de aspectos ESG. "A CVM entende que temas como controle de mudanças climáticas, preservação ambiental e agenda sustentável são transversais ao mercado de capitais", afirma a autarquia que regula o mercado de capitais brasileiro.

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