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Como a economia circular pode gerar valor para empresas e investidores

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura6 minutos

Atualizado em

03/10/2024 às 17:03

Sumário do conteúdo a seguir:

Por Luana Pavani, do Broadcast  

  Se o conceito de reciclagem já provou seu valor e entrou na rotina dos brasileiros, muitos dos quais têm o hábito de separar o lixo dentro de casa, outra prática sustentável está ganhando tração: a economia circular. O reaproveitamento de bens e materiais de produção é uma prática crescente na indústria. Não apenas porque os recursos naturais são escassos, mas também porque o uso racional das matérias-primas e dos meios de produção está no radar dos consumidores e investidores preocupados com sustentabilidade, o pilar S da sigla ESG - que rege boas práticas corporativas para meio ambiente, de impacto social e governança.  

Reaproveitar bens e materiais na cadeia produtiva traz menos danos ao meio ambiente e também destrava valor para fazer melhor uso do dinheiro. Além disso, pode gerar reflexos no pilar social, já que ao investir menos em custos de produção, o empreendedor pode criar mais postos de trabalho.  

"Não apenas estamos falando da criação de um sistema econômico que coloca pessoas e natureza na frente, mas também estamos nos referindo a um enorme valor econômico sob risco de não ser capturado", diz relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o tema. A consultoria Accenture calcula que esse benefício a ser capturado gire em torno de US$ 4,5 trilhões até 2030 com a transição da economia linear para a circular. Isso representa em torno de 4% a 5% da produção total de riqueza no globo, ou seja, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial.  

Assim como comprar um snorkel de segunda mão quando for viajar ou mesmo alugar o item somente para o passeio, o conceito de economia circular também se aplica na cadeia produtiva. Se uma empresa precisa trocar de maquinário na linha de produção, algum outro empresário poderá adquirir essas peças de segunda mão, prolongando a vida útil do equipamento e evitando o uso de recursos naturais para a produção de um novo, ainda em boas condições. É que muitas vezes o maquinário é trocado sem necessidade, respondendo apenas ao plano de obsolescência programada recomendado pelo fabricante.  

Menos lixo, menos gases

Mais de 100 bilhões de toneladas de recursos naturais por ano são injetadas na atividade econômica mundial, porém 60% disso acaba virando lixo ou emissão de gases poluentes, segundo dados do World Resources Institute (WRI). A criação de economia circular nas cadeias produtivas de cinco grandes setores - cimento, alumínio, aço, plásticos e alimentos - poderia resultar no corte de emissões de gás carbônico (CO2) em 3,7 bilhões de toneladas em 2050, projeta a Fundação Ellen MacArthur. Para se ter uma ideia, esse montante seria o mesmo que eliminar todas as emissões atuais de todas as modalidades de transporte.  

Do ponto de vista do investidor, vale questionar as empresas desses setores e de outros cuja produção é ligada a extração de recursos naturais sobre seus planos de economia circular. Há iniciativas em diversas frentes, como logística reversa para coleta de componentes extraídos de eletrônicos usados, reciclagem de materiais e políticas de redução de resíduos.  

"Conforme o consumidor adota a nova mentalidade e os governos aplicam políticas de incentivo, as companhias que adotarem planos de negócio com economia circular terão vantagem competitiva", diz o WRI. Veja a seguir as dicas do instituto para a transição rumo à economia circular.  

Transição para economia circular em 3 passos

1) Consuma menos - A economia circular foca no melhor uso de recursos naturais e no fato de consumirmos muito mais do que o necessário. Muitas empresas adotam o princípio de vender mais produtos para mais pessoas. Mudar essa mentalidade requer estratégias de negócio inovadoras, suporte político e demanda de consumo diferente. No século XX, o uso de recursos naturais se expandiu mais do que o dobro da taxa de crescimento demográfico. Campanhas públicas e incentivos políticos podem moldar o comportamento na direção certa. Foi o caso de reduzir o uso de sacolinhas plásticas no comércio, prática adotada em 127 países.  

2) Consuma melhor - Economia circular não se trata apenas de consumir menos, mas poder escolher melhor, procurar itens que tenham sido produzidos de maneira mais sustentável ou que possam ser reciclados. A consciência do consumidor quanto à sustentabilidade está em alta e as marcas estão sendo cobradas por isso. Já os governos são pressionados a adotar políticas mais favoráveis à economia circular. No caso dos transportes, um exemplo são os serviços de uso compartilhado. Em média, um carro fica estacionado 95% do tempo, e compartilhar seu uso reduz também a utilização de matéria-prima.  

3) Crie mudança sistemática - É necessária uma mudança sistemática para que a sustentabilidade não dependa exclusivamente das escolhas do consumidor. Um princípio chave da economia circular é que o produto deve durar, com partes ou componentes que possam ser reutilizados. Isso fica mais claro em relação a grandes equipamentos, como tratores agrícolas, que têm alto custo de produção mas cujos fabricantes têm aplicado a economia circular para pegar de volta e renovar os veículos ou dar nova destinação aos materiais. Esse modelo precisa escalar para outros setores. Por parte do poder público, pode haver incentivo para materiais reciclados ou de segunda mão. O Reino Unido, por exemplo, introduziu uma taxa sobre embalagens plásticas que usem menos do que 30% de conteúdo reciclado.

Fonte: World Resources Institute - https://www.wri.org/insights/how-build-circular-economy

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