Ação da Americanas (AMER3) derrete 60% e vale centavos: entenda por quê

Por Gustavo Boldrini e Talita Nascimento, do Broadcast

São Paulo, 15/08/2024 - As ações da Americanas (AMER3) estão em queda livre nesta quinta-feira, com perdas na casa de 60%, entre leilões e tendo alcançado nível mínimo histórico no início da tarde, a R$ 0,09. O movimento se dá após a companhia divulgar seus resultados referentes ao ano de 2023 e ao primeiro semestre deste ano. Mas não é só isso.

• De acordo com analistas consultados pelo Broadcast e executivos da própria companhia, a forte baixa do papel hoje tem relação também com uma operação relacionada ao processo de recuperação judicial da Americanas.

A descoberta de uma inconsistência contábil da ordem de R$ 20 bilhões em janeiro de 2023, hoje reconhecida como uma fraude pelo Comitê Independente instituído pela empresa, levou a Americanas a entrar em recuperação judicial. Com isso, a companhia passou a renegociar as dívidas com seus credores, isto é, empresas e pessoas com as quais ela tem débitos.

Parte desses credores se tornou acionista da Americanas, convertendo cerca de R$ 12 bilhões em dívidas que tinham a receber em ações da empresa. E hoje, 15 de agosto, é o dia que marca o fim do chamado "lock-up" dessas ações. Portanto,** a partir de hoje, esses credores podem se desfazer das ações que receberam como parte do acordo de recuperação judicial**. E é isso que está causando a baixa no papel.

"É uma pressão vendedora importante aqui de credores. Não estou falando necessariamente dos bancos, mas credores das mais diversas naturezas, que não necessariamente são investidores de longo prazo do mercado de capitais", afirmou a CFO da Americanas, Camille Faria, em teleconferência de resultados nesta quinta-feira.

Segundo a executiva, o fato de o lock-up dos papéis terminar no mesmo dia da teleconferência e após a divulgação dos balanços se trata de uma "infeliz coincidência".

E a pressão sobre as ações pode continuar. É que a liquidação dessas ações que passaram a ser negociadas hoje, oriundas de capitalização de créditos por seus credores no plano de recuperação judicial, ocorrerá a partir de segunda-feira, 19.

No final de julho, a varejista concluiu o pagamento aos credores financeiros que optaram pela Opção de Reestruturação II, por meio do pagamento da Recompra de Créditos Quirografários e da entrega de novas ações ordinárias, bônus de subscrição, e debêntures de emissão da varejista.

Como está o balanço da Americanas?

No ano passado, a Americanas reportou prejuízo de R$ 2,272 bilhões, uma perda 82,8% menor em relação a 2022, se considerados os números reapresentados após a descoberta das inconsistências nos resultados da empresa, em janeiro de 2023. Na primeira metade deste ano, o prejuízo foi de R$ 1,4 bilhões, 55,9% menor ante igual intervalo de 2023.

Segundo a Americanas, foram apresentadas ao conselho de administração as conclusões dos trabalhos conduzidos pelo Comitê Independente, "o que confirmou a existência de fraude contábil e ratificou os mecanismos utilizados e os envolvidos, apontados anteriormente nas investigações conduzidas pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal", diz a empresa.

A Americanas também decidiu descontinuar a divulgação das suas projeções, ou guidance, na expressão em inglês. Segundo comunicado, a decisão foi tomada de forma a permitir que a companhia reavalie a expectativa de desempenho futuro após a divulgação dos resultados de ontem.