Alta da Selic é desafio para investimento na Bolsa em 2025, mas há oportunidades
Visão de mercado para a bolsa em 2025 ainda é de fatia pequena do portfólio
Publicado por: Broadcast Exclusivo
5 minutos
Atualizado em
12/12/2024 às 14:16
Por Luana Pavani, do Broadcast
São Paulo, 12/12/2024 - Em meados deste ano, analistas calculavam que o Ibovespa poderia chegar ao final de 2024 em torno de 145 mil pontos. O número ainda estava próximo das projeções realizadas no finalzinho de 2023. Mas, com o índice girando em torno dos 128 mil pontos em meados de dezembro e caindo mais de 4% no acumulado do ano, será que dá para cravar essa aposta? E em 2025, como ficará a Bolsa brasileira?
Toda projeção econômica é feita com base em premissas e variáveis e apresenta três cenários: ponto médio, pessimista e otimista. Com isso, os economistas conseguem calibrar os resultados esperados alterando suas planilhas conforme o desenrolar dos acontecimentos.
O cenário-base para o índice de referência da Bolsa brasileira neste momento aponta para um potencial de alta ("upside", no jargão do mercado) tímido. Isso porque o Ano Novo começará com uma taxa Selic bem alta, de 12,25%, como decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) no último dia 11, que elevou os juros básicos da economia brasileira em 1,00%, ou (100 pontos-base), surpreendendo a expectativa da maior parte do mercado, que era de uma alta de 75 pontos-base.
Em outras palavras, isso significa que o investidor não tem muitos motivos para se arriscar em ações já que pode obter rendimentos na casa de dois dígitos em aplicações de renda fixa atreladas à variação da taxa DI (CDI).
Vale a pena investir na Bolsa em 2025?
Para 2025, o investidor deve concentrar a maior parte do portfólio em ativos de renda fixa, em torno de 60%, segundo a sugestão de Fernando Donnay, sócio e gestor de portfólio de fundos de fundos da G5 Partners. O especialista acrescenta que os 40% restantes não devem ir totalmente para renda variável, mas apenas uma pequena porção.
Apesar disso, Donnay vislumbra um potencial de crescimento para as empresas brasileiras de capital aberto, inclusive diante da melhora recente nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2024 e 2025.
"O portfólio de um investidor com perfil de risco moderado deve ter alocação diversificada, mas o protagonista tende a ser a renda fixa. O bolso está menor para a Bolsa", diz Donnay. Ele explica que, em uma visão de longo prazo, o que dita se a Bolsa pode ir bem ou mal é o comportamento das empresas, "e a perspectiva é boa".
Como montar uma carteira de ações para 2025?
Esse otimismo com os resultados das empresas participantes da carteira do Ibovespa vem de uma combinação de crescimento esperado de lucros e potencial de retorno ('dividend yield') projetado, que podem gerar bom desempenho aos ativos de primeira linha da Bolsa.
Em outras palavras, como a economia brasileira está indo bem, a projeção é de resultados robustos das companhias mais sólidas, as chamadas blue chips. Então, voltando para aquela parte da carteira sem ser de renda fixa, a recomendação é procurar ações com bom histórico e montar uma estratégia de longo prazo, de três a cinco anos.
"Estudos apontam que definir os porcentuais de alocação conforme seus objetivos e perfil de risco e mantê-los ao longo do tempo é o mais assertivo. Vale mais focar nessa distribuição, com uma seleção de ativos bem criteriosa", recomenda Fernando Donnay. O gestor sugere companhias com fluxo de caixa mais previsível e taxas de retorno mais altas, independentemente do setor de atuação.
Outro componente importante na estratégia de investimentos é o custo de oportunidade. E nesse ponto, o investidor brasileiro invariavelmente compara o quanto deixa de ganhar na renda variável perante o CDI, em meio à escalada da taxa Selic, ou mesmo o IPCA, para citar os dois principais indexadores de juros remuneratórios de aplicações.
Renda fixa domina
Os produtos de renda fixa são os mais procurados pelos investidores no Brasil. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), houve um crescimento de 13,8% nas aplicações em renda fixa no ano até setembro, somando um volume financeiro de R$ 4,16 trilhões, ante R$ 3,65 trilhões registrados no final de 2023.
"Com a alta da Selic e maior aversão a risco, houve um aumento de recursos alocados em produtos de renda fixa. É natural que o investidor tente compor sua carteira buscando mais estabilidade", diz Ademir A. Correa Júnior, presidente do Fórum de Distribuição da Anbima.
Mas isso não significa que a renda variável tenha sido esquecida. Esse grupo de ativos também apresentou alta, de 5,3% nos investimentos na mesma base de comparação, alcançando R$ 1,03 trilhão.
Quais são as perspectivas para o Ibovespa em 2025?
A evolução do Ibovespa entre 2023 e 2024 mostra uma recuperação expressiva no final de 2023, quando o índice subiu de 113.430 pontos em janeiro para 134.185 pontos em dezembro, impulsionado pela aprovação de reformas fiscais e o bom desempenho das commodities.
- Já em 2024, o índice iniciou o ano com 127.752 pontos e, após uma leve alta no primeiro semestre, atingiu seu pico de 136.004 pontos em agosto. No entanto, depois disso, registrou correções e fechou novembro em 125.667 pontos.
"Esse comportamento reflete um cenário de maior cautela, com expectativas de crescimento moderado e ajustes no mercado", afirma Luciana Maia Campos Machado, superintendente acadêmica e professora de finanças da Fipecafi.
Segundo ela, a recuperação da Bolsa dependerá de uma combinação de fatores, incluindo maior estabilidade nas variáveis macroeconômicas, redução de riscos fiscais e estímulo a investimentos.
"A manutenção de taxas de juros elevadas e a instabilidade fiscal continuam a representar desafios para o crescimento econômico do país, influenciando diretamente as expectativas sobre o desempenho da bolsa brasileira". Machado aponta que setores menores, como varejo, indústria e telecomunicações, têm apresentado avanços, embora sua contribuição para o índice ainda seja tímida.
Na prática:
Como investir no Ibovespa e como funciona a composição do índiceMercado de ações: tudo o que você precisa saberSeca de IPOs continua em 2025?
Ao longo de 2024, as altas taxas de juros nos Estados Unidos, em resposta à inflação e às políticas monetárias restritivas, tornaram os ativos americanos mais atraentes, o que desviou os investidores estrangeiros de mercados emergentes, como o brasileiro, explica a professora Luciana Maia Campos Machado. "Esse movimento global impactou diretamente a confiança dos investidores no Brasil, que viu o mercado de IPOs esfriar", diz ela.
E o apagão de ofertas iniciais de ações, os IPOs, vai continuar em 2025? "Ainda é um desafio grande fazer a taxa de juros cair no Brasil. O IPO só começa a ficar viável se a gente tiver uma perspectiva de parada de subida dos juros. Enquanto isso, a agenda de IPO fica adiada", disse o presidente da B3, Gilson Finkelsztain, em recente entrevista ao Broadcast .
A Bolsa brasileira não assiste a um IPO desde agosto de 2021. A visão de fontes é de que o quadro não mudará tão cedo. O responsável pelas operações na América Latina de um grande banco estrangeiro defendeu, em conversa com o Broadcast , que o mais provável é que nenhum IPO aconteça no ano que vem.
Nem mesmo ofertas subsequentes de ações (follow-on) estão previstas, já que planos de investimento das empresas tendem a ser engavetados, com o alto custo de captação e maior risco de inadimplência, ainda segundo profissionais do setor financeiro.
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