Azul (AZUL4) em pauta: o que está acontecendo com a empresa
Publicado por: Broadcast Exclusivo
4 minutos
Atualizado em
23/09/2024 às 16:58
Por Elisa Calmon, Amélia Alves e Gustavo Boldrini, do Broadcast
São Paulo, 23/09/2024 - Não há dúvidas que a ação da Azul (AZUL4) tem sido uma das mais voláteis e comentadas deste mês na Bolsa brasileira. E não é à toa: desde 29 de agosto, quando os papéis da empresa aérea despencaram 24%, ruídos sobre a situação financeira da companhia virem à tona, gerando uma onda de incertezas.
Apesar de tentativas de recuperação, o papel ainda soma perdas de dois dígitos em comparação com o início das especulações. A "ressaca" ocorre enquanto o mercado observa atentamente os planos da aérea para equacionar as contas, que vão desde acordos com credores e arrendadores (ou lessores) até uma temida recuperação judicial nos Estados Unidos, semelhante aos processos pelos quais passaram as rivais Latam e Gol.
Neste mês, a companhia fez uma série de reuniões com credores em Nova York com estes dois grupos: os bondholders - detentores de títulos de dívida internacionais - e os lessores, ou arrendadores de aeronaves. Os bondholders sinalizaram que estão dispostos a dar mais recursos para a empresa, com a condição de que a companhia aérea primeiro se acerte com os lessores, que têm a maior parte das dívidas da empresa, de acordo com fontes.
O CEO da Azul, John Rodgerson, descarta a possibilidade de uma recuperação judicial. O executivo afirmou hoje, em fala com jornalistas em Brasília (DF), que as conversas com os arrendadores de aeronaves são "amigáveis".
A negociação com os lessores propõe converter a dívida de cerca de US$ 600 milhões em "equity" (participação acionária) de uma só vez e não de forma gradual ao longo de três anos, como previsto anteriormente.
O analista da Genial, Ygor Bastos, avalia que os lessores, que continuam a fornecer aeronaves para a Azul, têm interesse em ver a companhia financeiramente forte no longo prazo, e que "a renegociação está focada em ajustar a estrutura de capital de maneira que permita à companhia continuar operando de forma robusta, evitando a necessidade de medidas extremas como o Chapter 11 (semelhante a recuperação judicial) nos Estados Unidos)", disse.
Um desfecho desta renegociação é visto como fundamental para que a empresa avance em outra frente, que é a de tomar mais capital com os bondholders. O montante pode chegar a até US$ 800 milhões, usando a Azul Cargo como garantia. Contudo, a expectativa é que o valor seja menor do que o teto.
Fundo de crédito
Diante de toda a correria para fechar os acordos, uma notícia vinda de Brasília na semana passada trouxe certo alívio para a Azul: a sanção do governo federal a mudanças no Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac).
O Fnac é um fundo de crédito abastecido por outorgas pagas pelas concessionárias dos aeroportos. Na última quarta-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou as mudanças na Lei Geral do Turismo que permitirão que o fundo seja utilizado como fonte garantidora para financiamentos a companhias aéreas.
A estimativa é que, com o Fnac, as aéreas possam acessar R$ 5 bilhões em crédito por ano. Contudo ainda não há a definição de como esse valor deve ser dividido.
No último dia 13, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com executivos da Azul para falar sobre o tema e prometeu que, em até dois meses, o instrumento de garantia estaria devidamente regularizado para que as aéreas pudessem acessar crédito com melhores condições, segundo fontes ouvidas pelo Broadcast que participaram da reunião.
Para o CEO da Azul, a aprovação do fundo "muda completamente as projeções da companhia para o ano", já que existiam dúvidas se o projeto sairia do papel ainda em 2024. A utilização também entra na lista de estratégias da companhia para otimizar o capital.
Segundo Rodgerson, a Azul não deve usar o Fnac para o pagamento de dívidas da companhia adquiridas durante a pandemia, mas sim para investimentos, como a compra de aeronaves. "O FNAC não é para pagar as dívidas da pandemia, é para ajudar a crescer e botar mais aeronaves no ar", declarou o executivo.
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Como estão as ações da Azul?
Em 28 de agosto, véspera dos primeiros ruídos, o papel da Azul estava cotado a R$ 7,25. Na sexta-feira (20) encerrou a R$ 5,26, acumulando queda de 27% no período. As perdas só não foram maiores porque o papel esboçou uma reação desde o final da semana passada.
"Essa volatilidade no papel é porque o mercado ainda não tem uma sinalização clara sobre acordos com credores, aumento de capital e/ou uma fusão com a Gol", diz o analista Vitor Miziara, sócio da Performa Ideias.
Em meio a uma sequência de quedas, o valor de mercado (market cap) da Azul atingiu R$ 1,37 bilhão no dia 9 de setembro, o menor patamar desde a abertura de capital (IPO) da aérea, em 2017.
Algumas corretoras recomendam compra - como Bradesco BBI, Goldman Sachs e Genial - para a ação, apesar de reconhecerem dificuldades como alta do câmbio e do petróleo, e alavancagem (relação entre dívida e geração de lucro operacional) pressionada. Nesse cenário, destacaram os esforços da companhia para otimizar a sua estrutura de capital. A equipe do BB-BI não faz a cobertura da Azul.
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