Adrenalina é o sobrenome do analista de investimentos, um expert no mercado de ações
Publicado por: Broadcast Exclusivo
7 minutos
Atualizado em
04/07/2024 às 12:25
Por Luana Pavani, do Broadcast
É aquele corre. O/a analista acorda cedo para saber como foi o fechamento das bolsas da Ásia. Enquanto toma café, vai escrevendo o comentário de abertura de mercado, para contar aos clientes quais as tendências para a Bolsa, câmbio e curva de juros. Nem são 9h da manhã, já tem cliente ligando ou mandando mensagem no WhatsApp para pedir opinião sobre vender ou comprar uma determinada ação, checar com ele/ela se tal notícia é fato ou fake, enquanto vão piscando as notificações sobre os comunicados que as empresas de sua cobertura distribuem ao mercado. Olho na tela, pois daqui instantes vai abrir a bolsa e toda aquela estratégia ou vai se confirmar ou vai ter de ser refeita nos próximos minutos.
Ficou tenso só de ler? Tem chão ainda: com o mercado aberto, o/a analista vai escrever os relatórios de análise (daí que vem o nome) sobre as empresas que acompanha. Isso tudo sem desgrudar o olho das várias plataformas de cotações e agências de notícias que povoam seus vários monitores (sim, ao menos quatro telas), para monitorar o que acontece na B3, nas bolsas de Nova York e da Europa, e ainda nas principais corretoras de criptomoedas do mundo, as chamadas Exchanges.
Tem mais? Sim. Umas das atividades mais importantes do/da analista é participar de reuniões com os diretores das áreas de Relações com Investidores das empresas de capital aberto que são de sua responsabilidade na corretora, banco de investimento ou casa de análise em que trabalha. No sentido inverso, as companhias costumam publicar em suas páginas de RI a relação dos analistas que as cobrem, para dar mais transparência ao investidor. Por isso, não é exagero dizer que o/a analista é especialista naquela empresa e setor.
Na época de divulgação de balanço das empresas, lá vai a turma de analistas especializados naquele setor, com uma enorme lista de perguntas para disparar na teleconferência de resultados. Em cima desse olhar dedicado serão feitas projeções para os próximos trimestres, que serão transformadas em tabelas para ilustrar os relatórios de análise que dali alguns minutos chegarão às mãos dos investidores, com tudo bem explicado e contextualizado, para embasar o preço-alvo daquela ação e sua recomendação: compra, venda ou neutra (manter).
O relatório é assinado em dupla, por um líder de "research", que é o nome da área de análise de ações de empresas dentro da corretora ou assessoria de investimentos, junto com o/a analista que faz a cobertura daquele setor - analista de varejo, analista de energia e assim por diante. As maiores casas têm maior quantidade de analistas setoristas.
"Buscamos elaborar conteúdos com uma linguagem simples e direta, contribuindo com nossos clientes na tomada de decisões financeiras", explica Geraldo Morete Júnior, diretor-presidente do BB-BI. "Nossos analistas reúnem competências técnicas para avaliar tendências em um mercado cada vez mais dinâmico e em transformação. Temos um time de pesquisa muito capacitado e atento às mudanças e ao potencial de crescimento das empresas que integram os principais setores macroeconômicos do nosso país", afirmou.
Mas o que é preciso para se tornar um analista?
Qual a formação desejada de um analista de investimentos?
O superintendente de Autorregulação da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (Apimec Brasil), Bruno Fernandes, explica que na Resolução CVM nº 20/2021, que regulamenta a atividade de análise, exige-se apenas que o interessado em atuar como analista de valores mobiliários seja graduado, não especificando o curso, todavia, os mais apresentados são: Administração, Engenharia, Contabilidade e Economia.
A certificação desse profissional é o CNPI - Certificado Nacional do Profissional de Investimento - CNPI.
A Apimec Brasil, por ser a entidade certificadora (reconhecida pela CVM), não aplica nenhum tipo de curso preparatório específico para os exames, para evitar conflito de interesse. Mas aplica cursos diversos, na parte educacional do portal.
O professor da pós-graduação em Mercado de Capitais da Puc-Minas, José Guilherme Chaves Alberto, acrescenta que a formação para desempenhar função de analista depende de qual tipo de análise se pretende especializar. Segundo ele, há três classes: o analista técnico, o fundamentalista e o pleno, que aborda as duas áreas do conhecimento. "Para ser analista fundamentalista, formação em administração e ciências contábeis são interessantes, pois o estudante tem disciplinas relacionadas ao conhecimento e análise das demonstrações contábeis. Os formados em economia também são demandados para essa área", nota o professor.
Confira também: Além de conversar com seu assessor de investimentos, que tal aprender o que ele faz?
Por sua vez, o analista técnico precisa de uma visão "mais quantitativa", explica, em que têm vantagens os formados em economia, engenharia e estatística.
Qual a diferença fundamental de um analista para um assessor de investimentos (AAI)?
O analista de valores mobiliários é o único profissional no mercado de capitais que pode auxiliar o investidor no processo de tomada de decisão sobre valores mobiliários, já o assessor recomenda e esclarece dúvidas sobre os produtos de investimentos disponibilizados na instituição a qual ele está vinculado, além de poder emitir as ordens de compra e venda dos produtos financeiros em nome do cliente, segundo Bruno Fernandes.
Já o professor Chaves Alberto descreve a diferença entre esses dois perfis mais com base na atuação comercial. "De maneira sucinta, um assessor é um profissional que atua com um viés mais comercial, focado na distribuição de investimentos. Já o analista de investimentos é o profissional que possui autorização para externar sua opinião sobre ativos financeiros, por meio de suas análises. Ele pode recomendar a compra ou a venda de determinado ativo financeiro."
Qual a evolução natural na carreira de um analista, é virar economista-chefe da casa de análise?
Economista-chefe e analista de valores mobiliários são atividades distintas e não se equiparam, diz o superintendente da Apimec. Geralmente, os analistas iniciam sua atividade dentro de uma instituição integrante do sistema de distribuição (bancos e corretoras de investimento) ou casas de análise como analista junior, podendo se tornar Head (analista-chefe) do departamento de Research, bem como os analistas graduados em economia, devido a relevância e experiência provida pela atividade de análise podem, sim, alcançar o cargo de economista-chefe. "Todavia, não poderá exercer simultaneamente ambas as funções", diz Fernandes.
Além disso, o superintendente da Apimec entende que a atividade de análise possibilita obter bagagem para se postular em outras áreas nas instituições financeiras, tais como, Investiment Banking e Wealth Management, sendo apenas necessário o cumprimento dos requisitos contidos nos normativos e regulamentações que se aplicam a cada atividade.
"A área de investimentos é muito ampla e os profissionais que se dedicam a análise de investimentos, se desejarem, pode desempenhar funções em empresas na área de Relação com Investidores. Também não é incomum profissionais dessa área se tornarem gestores de carteira", complementa o professor da PUC-Minas.
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