Vix, o 'índice do medo', pode dar pistas sobre composição de carteira em correlação inversa ao Ibovespa
Publicado por: Broadcast Exclusivo
4 minutos
Atualizado em
17/09/2024 às 17:19
Por Amélia Alves, do Broadcast
São Paulo, 17/09/2024 - Em cenários de estresse no mercado acionário, muitos investidores tomam a decisão de sair vendendo ativos de empresas com menor liquidez, com alto índice de alavancagem e que possuem uma geração de receita cíclica, sensível aos juros e à inflação. Uma alternativa para se proteger desse risco no curto prazo, evitando aquele velho impulso de realocar recursos no auge do estresse, é consultar o VIX, o 'índice do medo', que no Brasil responde pelo ticker VXBR, lançado em março pela B3, depois de três anos de calibragem.
O VIX tem uma correlação inversa com o Ibovespa. Se sobe, o principal referencial da B3 cai, e vice-versa. Com a leitura dos 30 dias subsequentes do VIX, é possível projetar que o próximo mês será ruim ou de maior apetite por tomada de risco. "Se o VIX mostrar patamar baixo, significa dizer que há volatilidade menor e, por consequência, menos risco em termos de variação. Se subir, podemos estimar queda da bolsa", diz Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante Investimentos.
A versão nacional usa grande parte da metodologia do VIX do S&P 500 dos Estados Unidos. No caso do Brasil, ele sofre influência apenas de ações listadas no Ibovespa. Lá fora, contudo, não só influencia nos preços dos papéis, como orienta o apetite por investimentos em países emergentes como o Brasil, segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
Partindo dessa lógica, ao identificar que muitos investidores começam a buscar por opções de ações que lhes concedam o direito à venda (put), caso o preço do ativo caia significativamente, é sinal de situação perigosa para a Bolsa. "Afinal, ninguém gasta dinheiro com proteção se tiver plena convicção de que o cenário à frente será positivo", pontua Lima.
O Brasil, por sua vez, ainda tem uma cultura diferente dos EUA em momentos de insegurança. Lá, é comum o investidor buscar proteção no mercado de opções. "Quando essa incerteza ocorre no Brasil, o grande investidor não tende a se proteger da sua posição, mas realocar seus recursos em ativos mais seguros, o que altera completamente o fluxo e afeta, inclusive, as cotações do próprio dólar", ressalta o analista.
O VIX Brasil é calculado com base na média da cotação (prêmio) das opções call (comprar) e put (vender). Ou seja, opções que não poderão ser exercidas, dado que não possuem valor intrínseco, explica Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital. Em resumo, ajuda a balizar as expectativas de volatilidade de curto prazo no preço de opções das ações, oferecendo uma visão de 30 dias das expectativas da volatilidade.
"Investidores podem utilizar o índice para reduzir exposição em crédito privado com elevados prazos de vencimentos, cujos emissores são empresas com baixa capacidade de pagamento e nota de crédito classificada como grau especulativo", diz Belitardo.
Como funciona?
Para ilustrar a dinâmica, o VIX Brasil tem se mantido na faixa entre 13,75 a 19,23 pontos. O que isso significa? No início de agosto, o indicador chegou a 22,50 pontos, um nível considerado "médio" de estresse, pela métrica da B3. Acima de 25, o cenário indica "risco alto" e se superar os 30 pontos, "muito alto".
Um exemplo disso ocorreu no auge da pandemia, quando o VIX americano chegou a subir quase 90% e as bolsas desabaram. "Na guerra Rússia-Ucrânia em 2022, tivemos esses outliers [valores atípicos]", lembra Cozzolino, da Levante.
O VIX Brasil acima de 15 pontos já é um indício de que o preço das 'puts fora dinheiro' (quando as ações são negociadas no mercado à vista por preço menor do que o exercício da opção) devam apresentar aumento significativo, como reflexo de maior procura por proteção.
"Atualmente estamos com o índice em torno dos 18 pontos, indicando que deve ser evitada a estratégia comprada em ações de empresas sensíveis à curva de juros, e que a volatilidade será mais agressiva quando comparada a momentos em que o índice permaneceu baixo", diz Belitardo.
Ele pondera que como o índice ainda é novo no Brasil, é difícil a interpretação quando analisado de forma isolada do preço das opções fora do dinheiro.
Segundo os especialistas, o principal desafio do VIX brasileiro é ampliar o uso da ferramenta pelo investidor local. Segundo Lima, da Ouro Preto, ainda se observa muito a influência do VIX do S&P 500 nos preços dos ativos locais. "Até porque a maior parte do movimento de mercado que temos é proveniente de fluxo estrangeiro, e o VIX americano orienta esse apetite por investimentos em países emergentes como o Brasil", observa o especialista.
Para a B3, essa lição de casa já está sendo feita e cada vez mais há interesse de investidores na busca por informações do VIX Brasil. "É uma ótima sinalização do que o mercado espera da volatilidade para os próximos 30 dias. Muito interessante para ser usado como um grande termômetro, junto com o Ibovespa", diz Henio Scheidt, gerente de Índices da B3.
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