O que é governança corporativa e como identificá-la nas empresas

Por Gustavo Boldrini, do Broadcast

O pilar G da sigla ESG, para boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa, merece a atenção dos investidores. Especialistas destacam o papel da letra "G" no desempenho de longo prazo das empresas no mercado de capitais.

Traduzindo em números, o Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada no Novo Mercado (IGC-NM) da B3 teve um salto de 108% nos últimos 10 anos até o último pregão de 2022, contra uma alta de 80% do Ibovespa, o índice de referência da bolsa brasileira. No IGC-NM figuram as companhias de capital aberto de mais algo grau de governança corporativa, segundo metodologia da B3 (disponível aqui).

Os gráficos mostram que, quando o mercado brasileiro viveu um momento de euforia, o rali da bolsa em 2019, a alta do Índice de Governança Corporativa foi mais intensa que a do Ibovespa. Já em 2020, durante a forte queda dos mercados nos primeiros meses após o surgimento da pandemia de covid-19, o índice de governança caiu menos do que o geral.

Apesar de eventuais distorções que essa comparação possa ter devido às particularidades da composição de cada um desses índices, fato é que governança corporativa é citada como critério decisivo por grandes fundos de investimento e investidores institucionais em suas estratégias de portfolio.

"Quem já se machucou com falta de governança vê esse fato como uma restrição de investimento", comenta Daniel Cobucci, analista de ESG do BB Investimentos. Segundo ele, existem casos em que os grandes investidores simplesmente desistem de colocar dinheiro em uma empresa quando não enxergam uma governança adequada às melhores práticas.

Para o investidor pessoa física, isso significa que uma ação que ele possui na carteira pode sofrer uma desvalorização por meio da ação de fundos e agentes institucionais, caso eles saiam vendendo suas participações, o que pode impactar os preços dos papéis no mercado.

O que é governança corporativa?

Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), governança corporativa é, basicamente, o sistema pelo qual uma empresa é gerida, passando pelo seu relacionamento com sócios, conselheiros, diretores, governo, comunidade e todas as partes (conhecidos pela palavra inglesa "stakeholders").

Governança corporativa também pode ser vista como uma forma de uma empresa atingir seus objetivos com princípios, segundo Claudinei Elias, CEO e fundador da Bravo GRC, empresa de tecnologia e consultoria especializada na implementação de soluções de Governança e Gestão de Riscos corporativos. "A organização que procura ter bons princípios e gerar bons impactos para a sociedade tem toda uma estrutura a ser alcançada. Essa estrutura é a governança", define o profissional.

Na visão de Elias, a estrutura de governança vai muito além da composição dos diretores ou conselheiros de uma empresa, mas passa por pilares que demonstram a sustentabilidade do próprio negócio. Um desses pilares é a gestão de riscos.

"As empresas, independentemente do tamanho, precisam ter uma visão mais profunda dos riscos aos quais está exposta. Sabendo disso, fica mais fácil montar mecanismos de gestão de oportunidades, de redução de impactos e crises, e consequentemente fica mais fácil atingir resultados", diz o executivo da Bravo GRC.

Ainda nesta linha, em momentos de crise, como a vivida pelas empresas brasileiras nos primeiros meses de 2020 com o advento da pandemia de covid-19, "é importante então que controladores, conselheiros e administradores tenham um bom canal de relacionamento explicando claramente à sociedade e seus pequenos acionistas o que está ocorrendo e o que está sendo feito para melhorar a situação da empresa, pelo menos no médio prazo", destaca o professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EBAPE), professor Joaquim Rubens Fontes Filho.

Como identificar empresas com práticas de governança

O IBGC lista quatro princípios básicos de governança corporativa: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Segundo a entidade, a adoção desses quatro pilares "resulta em um clima de confiança tanto internamente quanto nas relações com terceiros".

Alguns exemplos de boas práticas de governança que o investidor pode avaliar dentro das empresas são o porcentual de conselheiros independentes, o porcentual de mulheres em cargos de liderança, a clareza nos comunicados e atas de reuniões, transparência em relação a riscos e erros cometidos no passado, etc.

"Quando falamos de ESG, precisamos entender qual é a política de investimentos daquelas empresas. É um negócio que está ligado a impactos potencialmente positivos ou negativos à sociedade?", avalia Claudinei Elias, da Bravo GRC.

Informações como a composição da direção, dos conselhos de administração e fiscal, além da estrutura societária das empresas geralmente podem ser encontradas nos sites de Relações com Investidores das companhias de capital aberto.