Tesouro Direto: um guia de tudo o que você precisa saber para investir
Conheça os títulos públicos federais oferecidos à pessoa física, seus benefícios, riscos e estratégias
Publicado por: Broadcast Exclusivo
7 minutos
Atualizado em
26/11/2024 às 14:08
Por Gustavo Boldrini, do Broadcast
O programa Tesouro Direto abriu as portas de milhares de brasileiros para o mundo dos investimentos. Acostumados com a facilidade dos aportes na caderneta de poupança, muitos correntistas subiram um degrau na escala das finanças pessoais, tornando-se investidores, sem abrir mão da segurança e do baixo risco.
Quando falamos em renda fixa, estamos falando em títulos que têm como principal característica a existência de uma taxa de remuneração já definida no momento da aplicação, o que traz um caráter de menos risco para esse tipo de aplicação. Dentro desse universo, os títulos de dívida pública são considerados por especialistas os mais seguros.
Com os títulos do Tesouro Direto, qualquer pessoa pode "emprestar" dinheiro ao Tesouro Nacional, a partir de R$ 30, obtendo uma remuneração em troca. É uma forma acessível de buscar rentabilidade para o futuro.
Segundo o balanço mais recente do Tesouro Nacional sobre o programa, referente a novembro de 2023, o número de investidores cadastrados era de 26,6 milhões, uma alta de 20,7% em relação ao mesmo mês do ano anterior.O número de investidores ativos, isto é, que possuem títulos na carteira, chegou a 2,44 milhões, alta de 15,8% na base anual.
A seguir, confira um guia completo sobre o Tesouro Direto, os diferentes títulos e suas características.
O que é o Tesouro Direto
O Tesouro Direto é um programa desenvolvido pelo Tesouro Nacional, órgão do governo federal que cuida das contas públicas, em parceria com a B3, a Bolsa de Valores do Brasil. Esse programa, que existe desde 2002, consiste em uma plataforma que permite a venda de títulos públicos federais para pessoas físicas por meio da internet.
Segundo o Tesouro Nacional, o Tesouro Direto foi criado com "o objetivo de democratizar o acesso aos títulos públicos", permitindo aplicações a partir de R$ 30,00. Antes da existência dessa plataforma, o investimento nos títulos públicos de dívida federal só poderia ser feito por meio de fundos de renda fixa, o que dificultava o acesso de pessoas físicas, em especial aquelas com menos experiência no mundo das finanças.
Funcionamento e benefícios do investimento no Tesouro Direto
O Tesouro Direto é considerado uma opção de investimento de baixíssimo risco. Afinal, trata-se de um empréstimo ao governo em troca de uma remuneração. E as chances de o próprio governo dar um calote nessa dívida são remotas.
Outro diferencial positivo do Tesouro Direto em relação aos demais títulos de renda fixa é o fato de ter liquidez diária. Isso significa que, ao aplicar em um título, a pessoa pode retirar os recursos facilmente, já que há alta procura e muita negociação rolando nesse mercado todos os dias.
Quais são os títulos do Tesouro Direto?
Atualmente, existem cinco títulos do Tesouro Direto, cada um com diferentes características de liquidez e remuneração, possibilitando ao investidor buscar aquele que mais se adequa aos seus objetivos.
Tesouro Selic (LFT)
O Tesouro Selic, também conhecido como Letra Financeira do Tesouro (LFT), tem sua rentabilidade ligada ao comportamento da taxa básica de juros da economia, a Selic. Trata-se de um título pós-fixado, já que a taxa Selic pode variar entre o momento da aplicação e o momento do resgate. Por isso, a rentabilidade será fixada após o momento da aplicação.
Tesouro IPCA+ (NTN-B)
O Tesouro IPCA+, também conhecido como Notas do Tesouro Nacional - Série B (NTN-B), tem sua rentabilidade ligada ao índice oficial de inflação ao consumidor do Brasil, o IPCA, acrescido de uma taxa definida no momento da aquisição. O IPCA+ é um título híbrido, em parte pós-fixado, uma vez que o IPCA varia ao longo do tempo da aplicação, mas também possui uma parte prefixada, referente à taxa determinada no momento do investimento.
Tesouro Prefixado
O Tesouro Prefixado, como o próprio nome diz, é a modalidade que permite ao investidor conhecer a rentabilidade do título já no momento da aplicação. Com isso, a pessoa saberá exatamente quanto vai receber se retirar os recursos na data de vencimento.
Existem dois tipos de prefixado: as Letras do Tesouro Nacional (LTN), que são também comercializadas como Tesouro Prefixado, e as Notas do Tesouro Nacional - Série F (NTN-F), conhecidas como Tesouro Prefixado com Juros Semestrais. A diferença é que, na NTN-F, o investidor recebe de forma semestral o rendimento dos juros da aplicação ao longo do tempo de investimento, pelo pagamento dos chamados cupons de juros. Ou seja, a cada seis meses, o investidor obtém uma renda com este título.
Tesouro RendA+
O Tesouro RendA+, lançado no início de 2023, visa facilitar o planejamento da aposentadoria. O objetivo dele é garantir uma renda no longo prazo para o investidor quando ele se aposentar. Todo o dinheiro investido ao longo do tempo se acumula e, lá na frente, se transforma em remuneração mensal. É também uma forma de blindar o patrimônio da inflação. Por isso, sua característica é de uma NTN-B, isto é, o Tesouro IPCA+.
O simulador do RendA+ permite que o investidor coloque sua idade, a idade na qual quer se aposentar, a renda extra que deseja após a aposentadoria e o valor inicial que tem para investir neste momento. Com isso, ele vai receber uma sugestão de título disponível para investir.
Tesouro Educa+
O Tesouro Educa+, lançado em agosto de 2023, tem uma ideia parecida com a do RendA+. Porém, ao invés da aposentadoria, o objetivo é garantir o custeio da educação dos filhos. Ou seja, todo o recurso acumulado ao longo do período de investimento, após o vencimento do título, se transformará numa remuneração mensal. A ideia é que esse valor seja utilizado para quando seu filho tiver idade para ingressar em uma universidade, e receba recursos mensalmente por cinco anos, que é o prazo médio de um curso de graduação.
O simulador do Educa+ permite que o investidor coloque o parentesco da criança ou adolescente que receberá os recursos, a idade atual, idade que iniciará a universidade, renda mensal pretendida no futuro e o investimento inicial.
Qual o melhor título do Tesouro Direto para a Reserva de Emergência?
O título do Tesouro Direto mais indicado por especialistas para a construção da reserva de emergência é o Tesouro Selic. Afinal, ele possui baixa volatilidade e alta liquidez, permitindo o resgate rápido caso haja necessidade de cobrir alguma emergência com esse dinheiro.
Como saber qual é o título do Tesouro Direto mais adequado para os meus objetivos?
Antes de escolher em qual título vai aplicar seus recursos, o investidor precisa entender seu perfil e seus objetivos. A partir daí, escolher com base nos principais fatores que definem um título de renda fixa: a liquidez, isto é, a facilidade para vender o título no mercado caso seja necessário e o número de dias para o dinheiro cair na conta; o prazo, que é a data de vencimento daquele título; e a rentabilidade esperada.
Quem tem um objetivo de médio e longo prazo, por exemplo, pode optar pelo Tesouro Prefixado ou pelo Tesouro IPCA+. Mas tudo vai depender do objetivo daquela aplicação. Por isso, é importante ter a assessoria de um profissional que vai auxiliar o investidor a tomar as melhores decisões de alocação.
Como investir no Tesouro Direto?
O investidor pode buscar títulos do Tesouro Direto para aplicar recursos diretamente na plataforma de seu banco de investimento ou corretora participante do programa. Também é possível abrir uma conta e investir diretamente pelo site.
Rentabilidade e Estratégias no Tesouro Direto
O Tesouro Direto é um investimento seguro e indicado para investidores iniciantes. Mas também entra na carteira dos mais experientes, como estratégia de proteção ou de patrimônio e diversificação. Saiba como montar uma carteira de títulos públicos conforme seus objetivos e condições de mercado.
Como os juros afetam os retornos no Tesouro Direto
Antes de tudo, o investidor precisa estar atento à política de juros do País. Afinal, a taxa Selic e as expectativas em torno dela são os fatores que mais podem influenciar os rendimentos dos títulos do Tesouro Direto. E isso se aplica não apenas ao Tesouro Selic, que tem a própria taxa de juros como referência, mas também aos demais.
A remuneração oferecida por um título público varia conforme a política de juros atual do país, que pode ser contracionista (de aumento de juros) ou expansionista (de redução de juros). Também entra nessa conta a perspectiva futura para os juros, que pode ser lida na curva dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), bem como as perspectivas para a inflação e atividade econômica.
Tudo isso vai influenciar na oferta e na demanda pelos títulos do Tesouro Direto, e consequentemente no seu preço e na sua rentabilidade.
O que é a marcação a mercado?
Se é renda fixa, por que varia? Para entender o conceito da marcação a mercado, é preciso entender que, todos os dias, os ativos são comprados e vendidos no mercado. Isso significa que um ativo varia de preço ao longo do tempo. A marcação a mercado é o termo que se usa para o cálculo do valor do ativo naquele determinado dia. E isso tem bastante a ver com oferta e demanda.
Se você tiver um título de Tesouro Prefixado que promete pagamento de 8% num prazo de cinco anos, e de repente o Banco Central começa a acelerar os cortes de juros num ritmo mais forte que o esperado e abaixo desse porcentual, a tendência é que o papel se valorize. Mais gente vai procurar formas de ganhar dinheiro acima da taxa básica. Aí, você decide se vale vender seus títulos antes do vencimento ou segurar até o prazo final, para obter a rentabilidade prometida no momento dos aportes.
Além de mostrar o valor do ativo naquela data, a marcação a mercado é uma norma contábil, para registrar a valor presente os ativos que compõem a carteira de investimento. Ainda que você não saque o dinheiro, saberá quanto vale cada aplicação em um determinado período fiscal, como ocorre quando o banco ou a corretora envia os informes para imposto de renda.
Estratégias para maximizar os ganhos no Tesouro Direto
Uma das estratégias que o investidor pode utilizar para maximizar os ganhos no Tesouro Direto é a diversificação. Como cada título possui características diferentes, é possível escolher mais de um título, tendo em vista os seus objetivos.
Para reserva de emergência, especialistas costumam indicar o Tesouro Selic. Para a aposentadoria, o Tesouro RendA+ ou o próprio IPCA+, ambos protegendo o patrimônio da inflação. Para algum objetivo específico no tempo, o Prefixado. Para obter uma renda extra duas vezes por ano, o Prefixado com Juros Semestrais, e por aí vai. Tudo vai depender do perfil do investidor e dos objetivos de curto, médio e longo prazo.
- Confira também: Diversificação de investimentos: a regra de não colocar todos os ovos na mesma cesta
Qual é a diferença entre o Tesouro Direto e outros títulos de renda fixa?
Além do Tesouro Direto, existem diversas outras opções de renda fixa para investir no mercado: Certificados de Depósito Bancário (CDB), debêntures, Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCI e LCA), Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRI e CRA), debêntures, entre outros.
A grande diferença do Tesouro Direto para esses títulos é o fato de o seu risco estar atrelado ao governo, e não a bancos ou empresas. Por isso, especialistas o consideram uma opção menos arriscada, já que um governo tem menos chance de quebrar ou dar calote em seus credores.
Como fica o imposto no Tesouro Direto?
O Tesouro Direto segue a tabela regressiva de cobrança do Imposto de Renda (IR). A ideia é que quanto mais tempo os recursos fiquem aplicados, menor seja o imposto a pagar. A tabela funciona assim:
- 180 dias ou menos - alíquota de 22,5%
- 181 a 360 dias - alíquota de 20%
- 361 a 720 dias - alíquota de 17,5%
- 721 dias ou mais - alíquota de 15%
A cobrança do IR é feita de forma automática, direto na fonte. Ou seja, ao sacar os recursos investidos, parte deles já será destinada ao pagamento do imposto. Portanto, o investidor não precisa se preocupar em pagar guias de tributo ou algo do tipo.
Em relação a taxas cobradas para investir em Tesouro Direto, a maior parte das instituições financeiras oferece isenção, sendo cobrada somente a taxa semestral de custódia da B3 no valor de 0,20% a.a., como é o caso do Banco do Brasil.
Confira o video em: https://www.youtube.com/watch?v=DXA1Ave7z3U
Para quem investir diretamente pelo site do programa, também há incidência somente da taxa de custódia da B3.
Como declarar Tesouro Direto no Imposto de Renda?
Mesmo com a cobrança na fonte, o investidor pessoa física precisa listar seus títulos do Tesouro Direto na declaração anual de Imposto de Renda. Para isso, basta informar o saldo de seus investimentos na seção "Bens e Direitos" na plataforma da Receita Federal.
Para quem investe por meio de banco ou corretora, é importante baixar o informe de rendimentos de sua conta, que é disponibilizado pela instituição financeira, a fim de verificar os valores corretos a serem declarados.
Quer dar uma nota para este conteúdo?