O que está por trás da taxa de desemprego de um país e como ela impacta os investimentos
Conheça os principais indicadores de emprego do Brasil e dos EUA e sua relevância na economia
Publicado por: Broadcast Exclusivo
8 minutos
Atualizado em
08/10/2024 às 15:34
Por Gustavo Boldrini, do Broadcast
Dentre os indicadores macroeconômicos que costumam mexer com o mercado, o nível de emprego de um país é um dos mais importantes. Trata-se de um termômetro da atividade econômica. Um mercado de trabalho aquecido, com aumento de vagas de trabalho abertas e queda nas taxas de desemprego indica que a economia está acelerada, afinal as empresas estão investindo para contratar mais. Quando o desemprego sobe, com menor quantidade de vagas disponível, o sinal é de uma economia em desaceleração.
A taxa de desemprego também é um dos fatores utilizados pelo Banco Central para definir a taxa básica de juros (Selic) em suas reuniões de política monetária. O principal objetivo do BC é controlar a inflação, assegurando a estabilidade dos preços da economia. Ao olhar para os dados de emprego, o BC pode calibrar suas decisões de aperto ou afrouxamento monetário. O raciocínio é que um mercado de trabalho muito aquecido tende a aumentar os salários gerais, com isso elevando a inflação, situação em que a autoridade monetária pode atuar com uma alta de juros para tentar fazer os preços baixarem.
Existe ainda uma outra questão importante relacionando Banco Central e mercado de trabalho. A Lei Complementar 179, que entrou em vigor em fevereiro de 2021 e trata da autonomia do BC, prevê que, além de controlar a inflação, a autarquia também tem como objetivos suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego. Com isso, no caso de uma taxa de desemprego elevada, o BC atuaria para buscar reduzir esse índice, por meio de cortes de juros, por exemplo.
Os principais dados de emprego no Brasil são a Pnad Contínua do IBGE e o Caged, cada qual com sua metodologia.
Qual a diferença entre Pnad e Caged?
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, também conhecida como Pnad Contínua ou somente Pnad, é um levantamento divulgado a cada três meses pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que traz diversos dados sobre o mercado de trabalho naquele trimestre, sendo a taxa de desemprego o número mais importante.
Para calcular a taxa de desemprego, o IBGE considera uma relação entre a população que está desocupada (pessoas de 14 anos ou mais que buscaram trabalho durante a semana da pesquisa) e a população economicamente ativa (PEA). A PEA é uma soma das pessoas desocupadas com aquelas que estão empregadas.
Outro dado importante da Pnad é o nível de desalento, situação das pessoas que têm idade para trabalhar mas não estão procurando emprego porque desistiram, seja por falta de oportunidades, seja por falta de qualificação. Na Pnad também sai o número de pessoas subocupadas, que trabalharam menos que as 40 horas semanais que os empregos em carteira assinada devem cumprir - essa medida ajuda a medir a quantidade de pessoas com trabalho informal). Por fim, a taxa de subutilização, que reúne desempregados, desalentados e subocupados.
Já o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho e Previdência, é mensal. O Caged é um registro permanente de admissões e dispensa de empregados sob o regime de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Com isso, ele traz o número de aberturas ou fechamentos de vagas de emprego no país em determinado mês, numa dinâmica semelhante ao relatório payroll , dos Estados Unidos.
O que é o Payroll
O relatório Non-Farm Payroll ("folha de pagamento não-agrícola", numa tradução literal), mais conhecido como payroll, é o dado de emprego mais importante dos EUA. Economistas explicam que esse dado é um dos mais relevantes para se medir o nível de aquecimento (ou desaceleração) da principal economia global.
Na abertura dos dados do payroll, os mais importantes são o saldo das aberturas e fechamentos de vagas de empregos nos Estados Unidos e a taxa de desemprego. O dado é mensal, divulgado toda primeira sexta-feira do mês.
Além do payroll, a cada quinta-feira o investidor pode medir a temperatura da economia americana por meio da divulgação do número de pedidos de seguro desemprego nos EUA pelo Departamento de Trabalho. A variação nos pedidos de auxílio ajuda a diagnosticar se há tendência de aumento ou redução de desemprego no país.
Como os dados de emprego afetam os investimentos
Inicialmente, os dados de emprego são utilizados por bancos centrais para a análise da conjuntura econômica e ajudam na definição das taxas de juros de seus países. Com isso, os números do mercado de trabalho podem impactar tanto títulos de renda fixa como a bolsa de valores.
Quando há perspectiva de que os juros vão subir à frente, os títulos de renda fixa se valorizam e tiram o apetite por risco do investidor, derrubando as bolsas de valores. Quando a expectativa é de queda de juros, a renda variável fica mais atrativa, e o rendimento da renda fixa cai.
Outra perspectiva de análise é a relação do emprego com a riqueza do país, que leva à formação do Produto Interno Bruto (PIB). Numa situação favorável ao desempenho da economia, com aumento do salário mínimo e vagas disponíveis no mercado de trabalho para fomentar a geração de renda, além de juros mais baixos, a população consome mais bens e serviços, tem acesso a crédito mais barato e faz a economia girar, estimulando o crescimento do PIB e os lucros das empresas. Esse cenário é propício para uma situação de pleno emprego, isto é, a utilização máxima dos fatores de produção, capital e trabalho numa economia.
Dessa forma, os economistas utilizam os dados de emprego para calcular suas projeções para o PIB, dado esse que baliza os investimentos das empresas em novos projetos ou expansões de fábrica, na expectativa de aumento de vendas e, por consequência, geração de emprego. É o tal do ciclo econômico. Se for demais, com a economia crescendo acima de sua tendência potencial, o governo precisa atuar para desacelerar um pouco o ritmo, com medidas anticíclicas, usando aqui o economês, para medidas restritivas, como aumento de taxas de juros.
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