Mercado
Mercado
O novo comércio internacional: saiba o que significa nearshoring, friendshoring e powershoring
Movimentos afetam investimentos, comércio global, juros e câmbio
Publicado por: Broadcast Exclusivo
4 minutos
Atualizado em
24/07/2024 às 16:46
Por Adriana Chiarini, do Broadcast
Talvez você tenha se deparado nos últimos meses com notícia de que uma empresa avalia investimento em outro país, impulsionado pelo nearshoring. Ou que dirigentes de bancos centrais associem friendshoring com a elevação do juro neutro, aquele que não mexe com a atividade econômica descontada a inflação. Daí, você já percebe que essas palavras podem influir em investimentos de empresas, custos e preços da economia em geral, ou seja inflação, e na política de juros de diferentes países.
Termos como nearshoring, friendshoring e outros relativos a assuntos de fronteira ("shore", em inglês) estão nas pautas de comércio exterior, fluxo de capitais e, consequentemente, câmbio.
Essas palavras estão associadas a uma busca, liderada pelos países mais desenvolvidos, de um reordenamento das cadeias produtivas e de suprimento ("supply chain"), principalmente de Estados Unidos e Europa para diminuir a exposição à China. Isso porque a reação da China à pandemia, com os lockdowns da política de Covid zero naquele país, causou graves problemas nas cadeias de abastecimento do mundo inteiro.
No meio da pandemia, os Estados Unidos, na época presidido por Donald Trump, desenvolveram políticas para incentivar suas empresas a mudarem suas cadeias de fornecedores e logísticas trocando bases na China por outras em seu próprio país (reshoring) ou em países próximos (nearshoring) ou ainda em países com quem mantêm boas relações diplomáticas, estáveis e mais amigáveis (friendshoring). Havia também o incentivo pelo desenvolvimento local da produção, o chamado onshoring, em ambiente doméstico.
Os EUA proíbem que suas empresas importem da China chips avançados para aplicações de Inteligência Artificial, o que ajuda a impulsionar as ações da fabricante americana Nvidia, que recentemente entrou para o seleto grupo das empresas avaliadas na casa dos trilhões de dólares.
Os termos friendshoring, reshoring e onshoring foram sendo aplicados também em relação a outros grandes centros consumidores, principalmente em relação à Europa, que aplica tarifas e cotas de importação a produtos chineses. Na Europa, há um grande trabalho via diplomática, com o objetivo de diminuir sua exposição ao risco da China, mas não dissociar totalmente. A União Europeia chama isso de "de-risk", ou seja, reduzir o risco.
A realocação das cadeias de produção é uma tendência, confirma a S&P Global Ratings, e a agência de classificação de risco considera que muitos mercados emergentes podem se beneficiar.
O friendshoring e o powershoring são vistos por especialistas como oportunidades para o Brasil, já que tem relações diplomáticas estáveis com Estados Unidos e Europa e uma matriz energética em que a principal fonte é hídrica e com grande potencial nas fontes eólica e solar. Inclusive, há outro termo em comércio internacional que vem surgindo nos debates globais, o powershoring, que é o deslocamento da produção para locais com fontes energéticas ligadas à descarbonização.
A reação da China
Para a economista-chefe de mercados emergentes do Citi, Johanna Chua, a China reagiu com uma política agressiva de apoio à indústria, que diminuiu ainda mais o custo de produção naquele país, o que enfraqueceu o movimento de mudanças de cadeias logística em direção a outros países. "O erro que muitas pessoas cometeram foi pensar que a China não faria nada", disse em entrevista recente ao Broadcast .
Mas esses movimentos prosseguem. Há cerca de um mês, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, reafirmou que o governo americano buscará uma política comercial que beneficia os países que representam parceria profunda com Washington, com o objetivo de diversificar as cadeias produtivas e apoiar o crescimento econômico de longo prazo, ou seja, o friendshoring. "A China não pode presumir que o resto do mundo absorverá rapidamente enormes quantidades de excesso de produção em detrimento das indústrias nacionais de outros países", disse Yellen na ocasião.
Há quem considere que os efeitos desses movimentos deveria ser desinflacionário, pelo aumento da produção em outros países enquanto a China continua produzindo. Mas também há custos para as empresas em refazerem suas cadeias de suprimentos e em países mais caros que a China.
Quer dar uma nota para este conteúdo?