lâmpada de energia pendurada sobre fundo azul

Mercado

BB-BI analisa a CPFL Energia sob a ótica do crédito privado

Análise de emissores de crédito privado

Publicado por: Análise BB

conteúdo de tipo Leitura6 minutos

Atualizado em

06/09/2024 às 11:44


Sobre a empresa

A CPFL Energia é uma holding, constituída a partir de 2002, que atua nos segmentos de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica. A companhia é fruto de diversas fusões de pequenas empresas do interior de São Paulo e tem ampliado sua participação de mercado através de uma expansão orgânica e de aquisições estratégicas. É controlada pela State Grid Corporation of China, uma das maiores empresas de energia do mundo, e suas ações CPFE3 são negociadas no Novo Mercado da B3. O principal segmento de atuação da CPFL Energia é o de distribuição, que representa uma parcela ~70% da receita consolidada da companhia. A CPFL opera neste segmento por meio de suas principais subsidiárias: CPFL Paulista, CPFL Piratininga e CPFL Santa Cruz, no estado de São Paulo e a RGE, que atende a vasta região do Rio Grande do Sul.

Com um foco significativo na manutenção e expansão de suas redes de distribuição, além de novos projetos em geração e transmissão, no período entre 2024 e 2028, a companhia planeja investir cerca de ~R$ 28,4 bilhões. Diante deste ciclo intensivo em investimentos, a alavancagem financeira da empresa tende a ser impactada – a companhia projeta um aumento da relação Dívida Líquida/EBITDA para a faixa de 2,0x a 2,5x em 2024, acima dos 1,8 x registrados em 2023. Vale destacar que esse nível de alavancagem projetado ainda está dentro do limite dos covenants da empresa, que exigem uma Dívida Líquida/EBITDA menor ou igual a 3,75x.

Contexto operacional recente e análise financeira

No segundo trimestre de 2024 (2T24), a receita líquida da CPFL Energia registrou crescimento, impulsionada pelo aumento no consumo de eletricidade devido ao clima mais quente, o que elevou o volume de energia distribuída, especialmente nos setores residencial e comercial. Apesar desse aumento, o EBITDA apresentou uma queda de 7,1%, impactado principalmente pelas enchentes no Rio Grande do Sul, que resultaram em uma perda estimada de aproximadamente R$ 112 milhões. O segmento de distribuição foi o mais afetado, sofrendo uma redução no EBITDA em função de baixas de ativos e aumento de custos relacionados aos eventos climáticos.

Embora ainda exista a possibilidade de efeitos adicionais das enchentes, a maior parte dos impactos já foi contabilizada. Além disso, foram registrados no trimestre aproximadamente R$ 43 milhões em perdas devido à inadimplência, com as perdas na distribuição operando acima dos limites estabelecidos pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), exceto na CPFL Santa Cruz, que conseguiu se manter dentro dos parâmetros regulatórios. A queda no lucro líquido foi atribuída principalmente à redução do EBITDA, fortemente impactado por eventos não recorrentes, como as enchentes e o aumento da inadimplência. Essas adversidades pressionaram as margens operacionais, resultando em um desempenho financeiro mais fraco no período.

As emissões recentes de debêntures pela CPFL Piratininga, RGE e CPFL Transmissão resultaram na captação de R$ 1,6 bilhão, contribuindo para a extensão do prazo médio da dívida do grupo para 10,1 anos. O caixa atual da CPFL encontra-se em nível adequado para cobrir as obrigações de curto prazo, contudo, o ano de 2026 se destaca como um ponto de atenção devido à concentração de vencimentos no volume de ~R$ 8 bilhões – a companhia tem sinalizado que deve realizar movimentos de alongamento de dívida que colaborem para que a estrutura de capital do grupo permaneça equilibrada frente aos desafios futuros. Dentro da estratégia de fortalecer a geração de caixa, em dezembro de 2023, a CPFL aprovou seu plano de investimentos 2024-2028, prevendo neste intervalo investimentos totais de R$ 28,4 bilhões, distribuídos em: (i) R$ 23,4 bilhões para Distribuição; (ii) R$ 3,5 bilhões para Transmissão; (iii) R$ 1,0 bilhão para Geração; e (iv) R$ 410 milhões para Comercialização & Serviços. Diante de um ciclo intensivo em investimentos, a companhia encerrou o 2T24 com uma relação Dívida Líquida/EBTIDA 2,01x ante 1,72x no 2T23.

A CPFL possui contratos de concessão de distribuição que vencem nos próximos anos (RGE Sul e a CPFL Paulista têm vencimento em 2027 e a CPFL Piratininga em 2028) e esperamos que estes contratos sejam renovados haja vista que a companhia tem atendido aos limites regulatórios de DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) e FEC (Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora), que medem a qualidade dos serviços prestados. Ao comparar a avaliação dos ativos regulatórios da RGE, CPFL Paulista e CPFL Piratininga, observa-se que o saldo de ativos não amortizados dessas empresas é aproximadamente equivalente ao total de suas dívidas registradas no balanço, o que significa que, mesmo em um cenário pouco provável de não renovação das concessões, as indenizações recebidas pela base regulatória desses ativos seriam suficientes para quitar integralmente a dívida em vigor.

Em junho de 2024, foi publicado o Decreto n° 12.068/2024 pelo MME (Ministério de Minas e Energia), que estabelece diretrizes para a renovação das concessões de distribuição que vencem entre 2025 e 2031. A ANEEL tem até aproximadamente outubro de 2024, um prazo de 120 dias, para elaborar os novos contratos que permitirão a prorrogação das concessões por mais 30 anos contemplando tais diretrizes. Para que a extensão seja concedida, as concessionárias devem comprovar a prestação adequada do serviço, atingir metas de eficiência e qualidade, e aceitar as condições impostas pela ANEEL. De modo geral, as diretrizes do MME incluem, entre outros pontos, (i) a renovação das concessões sem custos adicionais, ou seja, sem exigência de pagamento de bônus de outorga, o que alivia a pressão sobre a projeção de capex das empresas, (ii) a substituição dos indexadores do IGPM para o IPCA, e (iii) a implementação de indicadores de qualidade e satisfação do consumidor mais rigorosos.

A CPFL Energia aguarda a definição final no calendário regulatório, uma vez que a renovação das concessões é essencial para o segmento de distribuição, que atualmente constitui uma parte significativa da receita da companhia. A CPFL tem boas perspectivas de crescimento orgânico no segmento de distribuição, especialmente se considerar as tendências de aumento do consumo de energia que têm superado o crescimento do PIB. Embora o Sul e Sudeste do Brasil já tenham consumo per capita elevado e concessões maduras, ainda há espaço para crescimento e expectativas de eletrificação da economia.

Para saber mais sobre o setor de atuação da CPFL, consulte o relatório Setorial de Utilities do BB-BI.

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