Bitcoin cai após decisão do Fed e perde os US$ 100 mil: como os juros dos EUA afetam o ativo
Publicado por: Broadcast Exclusivo
6 minutos
Atualizado em
23/12/2024 às 14:17
Por Gustavo Boldrini, do Broadcast
São Paulo, 20/12/2024 - O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortou novamente a taxa básica de juros dos Estados Unidos (Fed Funds) em 25 pontos-base na reunião da última quarta-feira (18), mas a indicação do presidente Jerome Powell de que haverá apenas mais dois cortes de taxas em 2025 levou a fortes baixas nos ativos de risco. E o Bitcoin não ficou de fora dessa tendência.
Nesta sexta-feira, dias depois de atingir um novo recorde aos US$ 108.268,45 na terça (17), o principal criptoativo do mundo segue sofrendo uma correção de preços, que se intensificou após a decisão do Fed. Há pouco, perto das 10h06 (de Brasília), o BTC recuava 7,84 nas últimas 24 horas segundo a Binance, a US$ 93.993,85.
- A pergunta que fica é: afinal, o Bitcoin pode ser considerado como um ativo de risco comum, que tem seu preço afetado pela decisão de juros dos Estados Unidos? Vamos entender:
Como a taxa de juros dos EUA afeta o Bitcoin?
Não restam dúvidas que, sim, o Bitcoin é um ativo de risco. Afinal, ele não é de renda fixa, já que sua rentabilidade não é conhecida no momento da aplicação, e seu preço está sujeito às oscilações do mercado no dia a dia.
"Como um ativo de risco, o BTC tende a se valorizar em ambientes de cortes de juros, quando a liquidez aumenta e os investidores buscam retornos mais atrativos fora da renda fixa tradicional", explica Bárbara Espir, country manager da Bitso Brasil.
Essa dinâmica, ela acrescenta, ocorre porque taxas de juros mais baixas tornam menos atraentes investimentos conservadores como os títulos públicos, incentivando a migração para ativos de maior risco. E isso inclui as criptomoedas.
A trader e analista parceira da Ripio, Ana de Mattos, observa que a correlação entre juros e Bitcoin é um fenômeno ainda novo, que está intimamente relacionada ao aumento da popularidade da criptomoeda no mercado tradicional.
"Historicamente, o Bitcoin apresenta baixa correlação com os mercados financeiros tradicionais. No entanto, à medida que investidores institucionais passaram a ter mais presença no mercado cripto e fizeram grandes aportes em Bitcoin para seus portfólios, a sensibilidade do Bitcoin às políticas monetárias, especialmente as decisões do Fed, aumentou consideravelmente", avalia.
O que diferencia o Bitcoin dos outros ativos de risco?
Apesar de ultimamente estar mais propenso a se mexer conforme decisões de juros e de sua crescente adoção pelo mundo, o Bitcoin não deixa de ser um ativo de fora do mercado financeiro tradicional. Com isso, ele não terá a mesma ligação íntima com a política monetária que tem uma ação de empresa de consumo, por exemplo.
Segundo Bárbara Espir, da Bitso Brasil, o efeito dos juros no preço do Bitcoin tende a ser de curto prazo, já que trata-se de um ativo de natureza única e cuja demanda é crescente.
"No caso do Bitcoin, a dinâmica [da relação com os juros] não é tão simples. A crescente adoção institucional e os avanços regulatórios podem sustentar sua demanda, mesmo em um cenário de juros elevados. Além disso, a percepção de que o BTC funciona como uma reserva de valor em tempos de incerteza econômica ajuda a mantê-lo relevante nas carteiras", comenta.
Ana de Mattos, da Ripio, também avalia que o impacto de decisões de política monetária tem um caráter mais momentâneo nos preços da criptomoeda mais popular do mundo. No entanto, ela afirma que "nada impede que essa correlação aumente e se fortaleça nos próximos anos, à medida que o ecossistema cripto evolui e se integra ainda mais ao sistema financeiro global".
Quais são as perspectivas para os juros nos EUA?
O Fed cortou ontem os juros americanos em 25 pontos-base, para o intervalo de 4,25% e 4,50% ao ano, mas para 2025 a mediana das projeções do banco central americano apontou para apenas dois cortes de 25 pontos-base - em setembro, estimavam-se quatro quedas desta magnitude para o ano que vem.
Casas como a britânica Capital Economics e o alemão Commerzbank Economics definiram o movimento do Fed como "hawkish", ou seja, inclinado a manter os juros elevados no país. Isso porque, apesar de cortar os juros, as suas projeções econômicas, divulgadas em paralelo à sua decisão de política monetária, indicaram menos cortes de juros em 2025.
Para seguir baixando as taxas nos Estados Unidos, o Fed quer ver mais progressos na inflação, enquanto a pressão adicional que pode vir de aumentos de tarifas comerciais na gestão do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, é avaliada "com cuidado" e será endereçada quando aparecer.
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