piscina de natação com pessoas competindo

Economia

Rivalidade EUA-China deve marcar Jogos Olímpicos de Paris, em meio a tensões comerciais

Segundo especialistas, Olimpíadas tendem a espelhar quadro geopolítico e econômico global

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura6 minutos

Atualizado em

25/07/2024 às 10:22

Por Gustavo Boldrini, do Broadcast

A rivalidade entre Estados Unidos e China ganha um novo palco a partir desta sexta-feira: os Jogos Olímpicos de Paris. Isso porque, além dos fatores comerciais e geopolíticos, o esporte também tende a colocar as duas maiores economias do mundo em disputa direta, uma vez que as duas nações são também as principais potências no quadro de medalhas.

Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que foram disputados em 2021 devido à pandemia de Covid-19, a diferença foi de uma medalha. Os EUA terminaram os Jogos na liderança do quadro geral, como de costume, com 39 ouros e a China, com 38.

Os chineses, aliás, são os únicos a ameaçarem a hegemonia americana nas Olimpíadas. Desde a edição de Barcelona, em 1992, quando uma Equipe Unificada com antigos membros da União Soviética liderou o quadro de medalhas, a única vez que os EUA não terminaram na primeira colocação geral nos Jogos foi em 2008, em Pequim, quando os donos da casa levaram a melhor.

Estados Unidos e China também se destacam quando o assunto é economia. Os dois países lideram com folga o ranking de Produto Interno Bruto (PIB) do mundo: em 2023, o PIB dos EUA atingiu US$ 28,58 trilhões, contra US$ 18,53 trilhões da China, segundo dados compilados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Essa convergência entre potências econômicas e potências olímpicas está longe de ser uma coincidência, como afirma Rodrigo Amaral, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

"A gente qualifica uma potência internacional mediante diversos aspectos, como a capacidade de investimentos, inclusive no âmbito esportivo. Para ter bons resultados no esporte tem que ter investimento, seja ele público ou privado", afirma.

Amaral lembra que, em tempos de Guerra Fria, a grande rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética também marcava os Jogos Olímpicos. Hoje, décadas após a dissolução do bloco soviético, é a China quem surge como ameaça ao poderio dos Estados Unidos tanto nas relações internacionais quanto no esporte.

"Isso revela a estrutura de poder global, no qual a China tem crescido cada vez mais, não só no poder econômico mas também nos elementos do poder brando, do chamado "soft power". O esporte como expressão cultural é latente, e os chineses investem pesado nisso", avalia o professor de RI.

Mais recursos

Investir pesado no esporte só é possível para países que possuem recursos suficientes para isso. Logo, é natural que nações com maior poderio econômico acabem se destacando no esporte olímpico.

"Nos países emergentes com déficit fiscal ou problemas sociais graves, como é o caso do Brasil, os governos precisam focar em áreas básicas, e sobra pouco para investir no esporte", comenta Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

Traçando um paralelo com os números, países como Brasil, Índia e México, que estão entre as maiores economias do mundo, costumam ter desempenho pouco animador em Jogos Olímpicos.

"É uma questão de prioridade. Se pegarmos uma ordem de relevância e importância, desempenho esportivo não é o ponto mais importante da política externa de um país", avalia Rodrigo Amaral, da PUC-SP.

Olimpíadas e conflitos globais

Outro fator que marca os Jogos Olímpicos de Paris é o momento conturbado na geopolítica global, com duas guerras de grandes proporções em andamento na Ucrânia e no Oriente Médio. E a disputa esportiva não está alheia a esse quadro.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) baniu a Rússia e sua aliada Belarus das Olimpíadas em retaliação à guerra contra a Ucrânia. Por outro lado, não houve punições a Israel, que também vem sendo duramente criticado por órgãos internacionais (incluindo as Nações Unidas) pela ofensiva contra os palestinos na Faixa de Gaza. A decisão gerou críticas de algumas entidades ao redor do mundo, que pediram o banimento dos israelenses dos Jogos.

"Órgãos como o COI representam uma institucionalidade ocidental, dos países que foram vitoriosos nas duas guerras mundiais. Esses países estruturam a ordem internacional, e o esporte não fica de fora", comenta Rodrigo Amaral, professor de RI da PUC-SP.

A geopolítica das Olimpíadas

As Olimpíadas da era moderna tiveram sua primeira edição em 1896, em Atenas (Grécia), e desde então vêm ocorrendo de forma praticamente ininterrupta a cada quatro anos, salvo algumas exceções. A ideia do evento não é tão difícil de entender: em um mundo marcado por disputas geopolíticas e conflitos, o esporte surge como uma ferramenta de incentivo à paz.

"Esses grandes eventos esportivos são inventados como uma espécie de espaço de escape das relações entre sociedades diferentes. Por ser um espaço pacífico mas que tem competitividade, a ideia é que ali se expresse a rivalidade entre os países, mas num âmbito de paz", comenta Amaral.

O economista Alex Agostini, da Austin Rating, avalia que os Jogos Olímpicos dificilmente terão um papel de apaziguar os ânimos no momento atual da geopolítica global. "Na era da internet todo mundo tem informação nas mãos, seja ela verdadeira ou falsa, e fica cada vez mais difícil um evento como as Olimpíadas cumprir seu papel de promoção da paz".

  • Algumas competições dos Jogos Olímpicos já vêm ocorrendo desde a última quarta-feira (24), mas a abertura oficial da competição ocorre nesta sexta-feira (26), a partir das 14h30 (horário de Brasília). A cerimônia de encerramento está marcada para 11 de agosto.

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