nota de dólar em frente gráfico indicando queda fundo amarelo

Economia

Por que o dólar está em R$ 5,60? Volatilidade do câmbio é atribuída a fatores internos e externos

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura4 minutos

Atualizado em

23/07/2024 às 12:15

Por Gustavo Boldrini, Antonio Perez, Cícero Cotrim e Fernanda Trisotto, do Broadcast

O aumento do dólar nas últimas semanas tem sido o tema mais discutido no mercado financeiro, e especialistas têm apontado diversos fatores para esse movimento no câmbio, internos e externos.

Apesar de o governo ter anunciado uma contenção de gastos neste ano para cumprir as metas de déficit zero nas contas públicas, aliviando parcialmente as tensões fiscais, o dólar à vista voltou a superar R$ 5,60 nesta manhã. Mas o que está pegando no mercado de câmbio?

O câmbio é uma medida de risco no cenário de investimentos, e sua volatilidade tem a ver com fatores internos à economia brasileira e externos, relativos principalmente à economia americana.

Afinal, quando os analistas estão incertos em relação a alguma medida macroeconômica, a tendência é que haja maior cautela e se exija um prêmio de risco maior para investir no País. E aí isso mexe com a curva de juros futuros, pois esse prêmio se traduz em apostas de taxas mais altas como forma de mitigar o aumento das expectativas de inflação.

Para onde vai o dólar?

O boletim Focus desta segunda-feira mostrou um novo aumento da expectativa de economistas e agentes de mercado para a cotação do dólar no final deste ano. A mediana das projeções subiu de R$ 5,22 na semana anterior para R$ 5,30 no relatório desta semana, contra R$ 5,05 um mês antes.

Já a estimativa intermediária para o fim de 2025 avançou de R$ 5,20 para R$ 5,23, contra R$ 5,15 quatro semanas antes.

A coleta das projeções se refere à semana passada, antes do detalhamento do contingenciamento de despesas, ocorrido ontem, o 3º relatório de Avaliação Bimestral de Receitas e Despesas. O governo aumentou em R$ 11,7 bilhões a projeção de despesas para 2024 com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e da Previdência Social. Essa alta levou a equipe econômica a realizar um bloqueio de R$ 11,2 bilhões em despesas obrigatórias no Orçamento deste ano, como adiantou na semana passada o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A estimativa agora é de que as contas públicas fechem o ano no vermelho em R$ 28,8 bilhões - no piso do intervalo de tolerância da meta fiscal (o centro da meta seria déficit zero).

Ainda assim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a agências de notícias internacionais nesta segunda-feira que fará bloqueios no Orçamento sempre que precisar.

Fato é que o comportamento do dólar está mais sensível ao noticiário de curto prazo, principalmente em relação às contas públicas.

A desvalorização do câmbio no Brasil se destaca em relação a outras moedas e, embora a conjuntura internacional esteja adversa, os riscos domésticos responderam por 90% da variação cambial no caso do real, segundo recente estudo da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado Federal.

O artigo, publicado no Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF), usa um modelo do IBRE/FGV para avaliar os fundamentos do real no curto prazo, considerando fatores globais (preço das commodities, posição do dólar ante outras moedas e retorno dos Treasuries), fatores locais ligados ao prêmio de risco e diferencial de juros entre as economias brasileira e norte-americana.

"Embora o comportamento do real geralmente siga os fundamentos globais, no acumulado de 2024 até junho, a desvalorização foi impulsionada principalmente por fatores locais, equivalentes a quase 90% da variação cambial", aponta o texto.

Fatores externos

Analistas ouvidos pelo Broadcast afirmam que a barra para uma queda sustentada do dólar por aqui parece cada vez mais elevada no curto prazo, mas agora é o cenário internacional que está causando esse quadro.

Isso porque, nos últimos dias, duas variáveis que não estavam no radar dos investidores passaram a influenciar de forma mais contundente a formação da taxa de câmbio: a antecipação da volatilidade esperada com corrida eleitoral dos Estados Unidos e a recuperação do iene japonês, após sinais de intervenção do Banco Central do Japão (BoJ) no mercado cambial, o que abalou divisas emergentes.

O atentado ao ex-presidente Donald Trump, no último dia 13, fez com que os preços dos ativos passassem a refletir antecipadamente o processo eleitoral americano. Investidores passaram a embutir nos preços dos ativos, em especial nos juros longos (Treasuries) americanos e no dólar, a possibilidade de um novo governo do republicano Trump, que ainda é favorito à Casa Branca nas pesquisas, mesmo depois da desistência da candidatura de Joe Biden e troca na chapa democrata pela vice-presidente Kamala Harris.

A reviravolta na campanha reduz parcialmente o favoritismo de Trump. Pesquisa conduzida pelo instituto Morning Consult mostra Trump com dois pontos porcentuais de vantagem (47%) em uma disputa hipotética com Kamala (45%). A Oxford Economics, no entanto, avalia que a probabilidade de Trump se tornar o próximo presidente permanece em 55%.

O sócio e diretor de gestão da Azimut Brasil Wealth Management, Leonardo Monoli, afirma que Trump, ao mesmo tempo em que prega enfraquecimento do dólar em relação a moedas como o iene e o yuan para estimular as exportações de seu país, sugere que pode elevar tarifas e adotar uma política mais agressiva em relação à China - o que é negativo para moedas emergentes como o real. "Trump faz muito barulho, cria muito ruído. E não se sabe que tipo de política ele vai adotar", afirma Monoli. "Ele pode tentar ajustar o dólar contra moedas desenvolvidas, mas sem que isso traga uma correção na comparação com emergentes."

Para o economista André Perfeito, uma tentativa de Trump de "fechar a economia americana" para tentar trazer empregos aos EUA tem como efeito líquido mais inflação. Isso implica juros mais elevados e, por tabela, dólar mais forte. "Se de fato Trump for para cima da China e esta economia se enfraquecer, podemos ver impacto no Brasil por menor importação de produtos brasileiros pelos chineses", diz.

Fator iene

O ambiente externo também se tornou mais adverso com o fortalecimento recente do iene japonês, que já apresenta valorização de mais de 2% em relação ao dólar em julho. O real é uma das moedas mais utilizadas nas chamadas operações de "carry trade", em que investidores tomam empréstimos em moedas de países com juros baixos para aplicar em divisas de países com taxas de juros elevadas. Com a valorização da moeda japonesa, há uma reversão parcial dessas operações, o que provoca tende a provocar depreciação de divisas como o real e o peso mexicano.

Monoli, da Azimut, observa que a suposta intervenção do BoJ no mercado de câmbio se deu em um momento em que o mercado estava com um posicionamento técnico "muito vendido" em iene, lembrando que a próxima decisão de política monetária japonesa pode provocar uma nova rodada de apreciação da moeda japonesa.

Tanto a turbulência em relação à eleição americana quanto a apreciação do iene acabaram em parte ofuscando o impacto positivo sobre divisas emergentes da consolidação de apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve neste ano.

  • A safra mais recente de dados americanos de atividade e inflação levou a aumento expressivo das chances de corte inicial em setembro e de redução total de 75 pontos-base na taxa básica americana até o fim de 2024.

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