Moody's eleva rating do Brasil, que agora fica a um degrau de grau de investimento pela agência

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura6 minutos

Atualizado em

02/10/2024 às 11:07

Por Aline Bronzati e Célia Froufe

Nova York e Brasília, 02/10/2024 - Exatamente cinco meses depois da melhora da perspectiva de rating do Brasil, a agência de classificação de risco Moody's decidiu elevar a nota do País de "Ba2" com perspectiva positiva para "Ba1" e manteve a perspectiva positiva.

A decisão da Moody's, no final da tarde desta terça-feira (1/10), também vem após representantes da agência terem se reunido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em Nova York, nos Estados Unidos, na semana passada, que estavam na cidade por causa da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU).

De acordo com a vice-presidente da Moody's para risco soberano, Samar Maziad, nada mudou em relação ao Brasil desde a semana passada. O que pesou na decisão da Moody's foram "melhorias materiais" no perfil de crédito do Brasil, em especial, um crescimento "muito mais forte" desde a pandemia.

Em entrevista ao Broadcast , ela disse que se o Brasil quiser recuperar o selo de bom pagador junto à Moody's, tem um prazo de 12 a 18 meses para fazer a lição de casa, o que inclui melhorias do lado fiscal, em especial a adoção de mais medidas que ajudem a conter o aumento das despesas obrigatórias, e a manutenção de um crescimento resiliente à frente. "Não damos conselhos, mas o horizonte típico de perspectiva é de 12 a 18 meses. Então, é importante manter isso em mente", diz.

Maziad afirma que a expectativa da Moody's é de que o Brasil continue apresentando uma melhor dinâmica de crescimento. Com base nas suas projeções, o País deve crescer 2,5% neste ano, taxa que deve desacelerar no próximo. À frente, contudo, a expectativa é de que o Brasil siga crescendo em média 2,5% ao ano.

"Quando tínhamos a classificação Ba2, o cenário econômico e a perspectiva eram muito diferentes para o Brasil. Ao longo do tempo, vimos uma melhora na dinâmica de crescimento, que se sustentou por quatro anos", diz.

Outro ponto que contou a favor do Brasil para um melhor rating foi "histórico de reformas importantes", da Previdência à tributária, segundo Maziad. Isso, por sua vez, também contribui com um maior crescimento do País, diz. "Vimos um grau de previsibilidade política que apoia a atualização da classificação", afirma.

No mercado, a decisão da Moody's foi vista por alguns agentes como uma "leitura otimista", com o Brasil tendo de elevar os juros diante de incertezas fiscais. "Nós temos um cenário base. Nós esperamos que o governo cumpra as metas fiscais", rebate Maziad. A Moody's ainda vê riscos fiscais em relação à adoção do novo arcabouço, como destacou em sua decisão, mas reconhece que os resultados estão evoluindo.

A agência classificadora de riscos espera que a dívida pública brasileira como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) aumente, mas se estabilize em torno de 82% no médio prazo. "Há importantes fatores atenuantes para o fardo da dívida do Brasil, como apontamos a moeda local, um profundo mercado interno local, e o governo tem importantes amortecedores fiscais", diz Maziad.

Ela diz que a agência monitora medidas de gasto do governo, mas que, em geral, os riscos estão "sob controle" e que a Moody's não olha somente para um elemento, neste caso o fiscal, mas de forma holística para a nota de crédito do País. Maziad reiterou a importância de o governo entregar as metas fiscais prometidas e adotar mais medidas definitivas que enderecem o aumento dos gastos obrigatórios para que não precise ficar fazendo ajustes a cada ano. "É isso que é realmente necessário para garantir que as metas fiscais sejam cumpridas de forma sustentável e garantir aos mercados que esse é o caminho para o fiscal, o futuro para a trajetória da dívida", afirma a vice-presidente da Moody's.

A um passo do grau de investimento

A Moody's se adiantou às duas concorrentes, Fitch e S&P, para as quais o País segue como um mercado de grau "especulativo", que antecede o primeiro nível do selo de bom pagador, tão almejado por empresas e governo, porque facilita a atração de mais investimentos e, com isso, há a expectativa de fomentar a economia doméstica. Muitos fundos de pensão internacionais, por exemplo, têm autorização para comprar apenas papéis considerados pelas agências como investment grade.

Para chegar às notas de crédito de longo prazo, são consideradas variáveis políticas e econômicas que influenciam na classificação de risco, como juros, fluxo de caixa, contexto político e projeções de resultados futuros, entre outros.

As agências medem também a capacidade de pagamento da dívida de países - chamados de rating soberanos - e este foi um dos pontos vistos como positivos pela Moody's em 1º de maio, quando melhorou a perspectiva do País.

Apenas a partir das classificações seguintes a "Ba1" é que se considera um ativo grau de investimento pela Moody's: de "Baa1" a "Baa3" de nível médio; médio-alto de "A1" a "A3"; grau alto de "Aa1" a "Aa3"; e "AAA", também chamado de Triple A , o mais alto grau.

  • No caso da Fitch, o Brasil está classificado atualmente em "BB". A nota foi alterada ao final de julho do ano passado, após deixar o País estacionado em BB- por cinco anos. "BB" é grau especulativo, quando não há recomendação de investimentos. A partir daí, há entrada para os ratings de investimento, que vão de "BBB" (boa qualidade), passam pelo "A" (qualidade alta), avançam para o "AA" (qualidade muito alta) até chegar ao topo do "AAA" (mais alta qualidade).

Em outubro de 2015, foi quando o Brasil recebeu pela última vez uma nota da Fitch de grau de investimento ("BBB-"). Em dezembro de 2023, a agência confirmou o rating do País e a perspectiva "estável".

Já a Standard & Poor's (S&P) foi a primeira empresa a conceder o título ao País, em abril de 2008, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na sequência, vieram Fitch (maio) e Moody's (setembro de 2009). Atualmente, a classificação concedida pela S&P ao País é de "BB-", também dois níveis abaixo do selo de bom pagador, que está congelada desde janeiro de 2018. Mas em junho do ano passado, o outlook mudou de estável para positivo. A escala de notas da S&P é muito similar à da Fitch, passando pelas letras de A a D.

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