Governo Trump completa 80 dias com caos tarifário, esforços geopolíticos e poucos avanços em Bitcoin
Publicado por: Broadcast Exclusivo
6 minutos
Atualizado em
15/04/2025 às 09:29
Por Fabiana Holtz e Gustavo Boldrini, do Broadcast
São Paulo, 09/04/2025 - Em 80 dias do governo de Donald Trump nos Estados Unidos, o que se viu até agora foram declarações impulsivas e polêmicas, anúncios incompletos, informações desencontradas e uma série de idas e vindas em decisões de cunho econômico que deixam claro suas fortes ambições expansionistas.
Sem freios, as declarações de Trump têm alcançado forte repercussão na estrutura geopolítica internacional e provocado o caos nos mercados financeiros de todo o mundo desde o início de abril. Segundo ele, "tarifa" é a palavra mais bela do dicionário.
Dias antes da posse, no início de janeiro, Trump já provocava furor ao afirmar que não descartava o uso de força militar para tomar o controle do Canal do Panamá e da Groenlândia. As ameaças chegaram até mesmo ao Canadá.
Na posse, em 20 de janeiro, o novo mandatário americano assinou uma série de ordens executivas, com destaque para uma ordem declarando limitando o direito à cidadania no país, que deu início de uma série de deportações.
Na ocasião, ele reforçou que a prioridade na sua política externa seria manter os Estados Unidos "seguros" e prometeu que iria decretar novas tarifas em produtos vindos do Canadá e do México no dia 1º de fevereiro.
Eram apenas os primeiros sinais da guerra comercial que ele tem travado com o resto do mundo com a qual pretende "tornar a América rica novamente". Era só o começo de uma longa história de apenas 80 dias.
A seguir, confira um resumo dos primeiros meses do governo Trump e como ele tem abalado o mundo e os mercados desde então:
Tarifas, tarifas e tarifas
"Tarifa" talvez seja a palavra mais mencionada nas discussões econômicas e geopolíticas pelo mundo em 2025. Após anunciar algumas sobretaxações a produtos de Canadá, México e China nos primeiros dias de governo, Trump deixou seu grande plano de "enriquecer" os EUA com base na cobrança de tarifas para ser divulgado ao mundo em 2 de abril, data que ele chamava de "Dia da Libertação".
Na ocasião, o presidente americano anunciou a imposição de tarifas a mais de 180 países do mundo, com uma alíquota mínima de 10%, podendo chegar até 50%. O anúncio gerou um caos nos mercados financeiros globais, em meio à incerteza sobre os efeitos práticos dessa nova configuração do comércio global.
Ontem (9), Trump anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas, enquanto negocia a questão com diversos países. Mas um país em especial não terá trégua nesse combate: a China, assunto crucial para entender a estratégia geopolítica do governo Trump.
China como alvo
Especialistas têm apontado que o grande objetivo da gestão Trump no âmbito internacional é frear a expansão da China. E isso tem sido feito especialmente por meio da guerra comercial.
Nos últimos dias, as duas maiores economias do mundo têm travado uma batalha comercial com escalada rápida, com o anúncio de retaliações de ambos os lados e sinais de que ninguém está disposto a ceder, ao menos por ora.
Em 2 de abril, Trump anunciou tarifas de 34% sobre produtos chineses, o que se somaria à sobretaxação de 20% anunciada por ele nos primeiros dias de mandato. A China respondeu com uma tarifa sobre os EUA da mesma proporção, de 34%.
Em seguida, Trump ameaçou uma taxação extra de 50%, que levaria a tarifa total a 104%, caso os chineses não recuassem da retaliação. A China, por sua vez, não só não recuou como aumentou de 34% para 84% a tarifação aos produtos americanos.
Chegando aos capítulos finais dessa história, ao menos por enquanto, Trump optou nesta quarta-feira (9) por recuar e anunciar uma pausa de 90 dias nas tarifas sobre os países que não retaliaram os EUA. Mas, para a China, foi anunciado um novo aumento na tarifa, para 125%.
Apesar da nova escalada, em coletiva de imprensa na Casa Branca, Trump garantiu que os americanos devem firmar um acordo com a China e com os demais países afetados pelas tarifas. O governo chinês está disposto a negociar as sobretaxas, acrescentou, mas reconheceu que é difícil saber por onde começar as conversas.
Canal do Panamá, Groenlândia e Canadá
No âmbito geopolítico, as ambições de Trump se mostraram gigantescas logo nos primeiros dias de mandato. O republicano acusou a China de controlar o Canal do Panamá e afirmou não iria mais permitir que isso seguisse acontecendo. Indo mais longe, disse ter interesse em comprar a Groenlândia, não descartando inclusive o uso da força para isso, gerando uma crise diplomática com a Dinamarca, país que controla o território.
Em mais de uma ocasião Trump falou até mesmo sobre uma anexação do Canadá, que segundo ele implicaria em impostos mais baixos e proteção militar dos Estados Unidos aos vizinhos, além do fim das tarifas. Provocador como sempre, chegou a publicar em sua rede social dois mapas em que o Canadá aparecia anexado ao território americano.
As ameaças contra Canadá, Panamá e Groenlândia foram amplamente criticadas e rebatidas pelos líderes locais e também por outras lideranças políticas ao redor do mundo.
Cessar-fogo em Gaza
Outro destaque no âmbito geopolítico da gestão Trump foi a assinatura de um acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo palestino Hamas na região de Gaza, dando um fim - ao menos em teoria - a um conflito que perdurava desde 7 de outubro de 2023.
Em mais de uma ocasião, mantendo o discurso expansionista, Trump defendeu que os EUA assumam o controle de Gaza para "alcançar a paz na região", mas com o deslocamento dos habitantes palestinos para outras regiões.
Embora tenha se envolvido nas negociações para um acordo na região, Trump nunca forneceu detalhes sobre onde a população poderia ser abrigada, e países árabes rejeitaram a ideia, defendendo uma solução de dois Estados que envolva a Palestina.
- No final de fevereiro, Trump voltou a carga gerando mais polêmica sobre o assunto ao publicar um vídeo com a sua visão sobre o controle da Faixa de Gaza, na Truth Social. O conteúdo produzido por inteligência artificial (IA) traz imagens de estátuas de ouro com a face do republicano, do bilionário Elon Musk passeando e jogando notas de dinheiro pela região, resorts luxuosos e dançarinas seminuas, além de Trump e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descansando às margens de uma piscina.
Conflito Rússia e Ucrânia
No final de fevereiro, um bate boca entre Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no Salão Oval da Casa Branca indicou um distanciamento entre os EUA e a Ucrânia e expôs, outra vez mais, o elemento expansionista da gestão do republicano.
Resultado da contenda, o acordo que previa a exploração de minerais ucranianos e a exportação para os Estados Unidos, previsto para ser celebrado entre os dois países aquele dia, não chegou a ser assinado.
A administração Trump passou a negociar a questão da Ucrânia diretamente com o governo da Rússia, em meio ao "interesse mútuo na normalização das relações bilaterais", segundo informou Moscou em meados de março.
Trump queria também um cessar-fogo para a Ucrânia, mas o máximo que conseguiu na negociação com os russos foi um acordo pelo fim dos conflitos no Mar Negro e uma paralisação dos bombardeios e ataques à infraestrutura energética dos dois países.
Promessas para o mercado de criptomoedas
A eleição de Trump, em novembro, levou o Bitcoin (BTC) a ultrapassar a marca de US$ 100 mil pela primeira vez, e sua posse em janeiro deste ano levou a criptomoeda a renovar sua máxima histórica na faixa dos US$ 109 mil. Havia euforia com as promessas de Trump para o mercado cripto, como desregulamentações e a criação de uma reserva estratégica nacional de Bitcoin.
Mas o otimismo não se sustentou. Neste início de abril, o BTC acumula queda de mais de 25% desde a máxima histórica do início do ano.
Analistas têm citado a falta de propostas concretas e decisões efetivas do governo Trump para as criptomoedas. Em um movimento mais recente, seu discurso pré-gravado apresentado no Blockworks Digital Assets Summit, nesta quarta-feira, chamou a atenção pelo foco maior em questões políticas ao invés de dar maior atenção aos ativos digitais.
A força-tarefa de criptomoedas da Securities and Exchange Comission (SEC, a CVM americana) realiza hoje uma mesa redonda para discutir as principais áreas de interesse na regulamentação de criptoativos. De acordo com a Coindesk, a reunião começou com garantias dos comissários da SEC de que eles pretendem definir uma política eficaz para o mercado.
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