Como o preço do petróleo afeta o dólar (e vice-versa)
Dólar e petróleo são ativos considerados inversamente proporcionais: entenda por quê
Publicado por: Broadcast Exclusivo
5 minutos
Atualizado em
30/09/2024 às 17:12
Por Gustavo Boldrini, do Broadcast
Países do mundo inteiro têm buscado ampliar o uso de fontes renováveis de energia, mas os combustíveis fósseis continuam tendo uma forte relevância na economia global. Tanto é que chega a ser impossível fazer projeções de mercado sem levar em conta o preço do petróleo, que é responsável por cerca de 30% da matriz energética mundial, segundo os dados mais recentes da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), de 2020.
A relevância dessa commodity para a economia do mundo e para os mercados é tanta que pode-se dizer que as cotações do petróleo possuem uma alta correlação com o dólar, sendo um dos fatores que mais influenciam na moeda americana, que é a base das trocas comerciais entre a maioria dos países do mundo.
A seguir, entenda como e por que o petróleo influencia no preço do dólar, e vice-versa.
Como o petróleo influencia o dólar?
A correlação entre petróleo e o dólar, mais especificamente o Índice Dólar (DXY), costuma ser inversamente proporcional. Ou seja: quando um sobe, a tendência é que o outro caia, e vice-versa. Mas por quê?
Para começo de conversa, é necessário levar em conta que as cotações do barril do petróleo são precificadas em dólar. Portanto, países que compram petróleo fazem o pagamento na moeda americana.
Por ser uma commodity, isto é, uma mercadoria extraída da natureza que serve como base para a produção de outros produtos, o petróleo é um ativo mais volátil, e que representa maior risco para o investidor, uma vez que a matéria-prima está sujeita às dinâmicas de oferta e demanda da economia global. O dólar, por outro lado, funciona como uma reserva de valor, e é mais procurado em ambientes de aversão ao risco.
Logo, quando há mais apetite por risco no mercado, sobretudo devido ao aquecimento da atividade, é esperado que a cotação do petróleo suba. Com isso, mais dólares serão circulados nas trocas comerciais globais, o que enfraquece a moeda americana. Quando há menos apetite por risco e o petróleo cai, menos dólares estão em circulação, o que eleva o seu valor de face.
O inverso também é verdadeiro: se o dólar sobe diante de um ambiente de cautela, países que precisam adquirir petróleo terão menos poder de compra e tendem a evitar negócios. Se o dólar cai em um ambiente otimista, esses países possuem mais poder de compra, e podem aumentar as compras.
Essa dinâmica também vale para outras commodities, como o minério de ferro e o cobre, que são produtos relevantes para a balança comercial do Brasil e de outros países emergentes como o Chile. É por isso que, muitas vezes, quando há um movimento de alta nas commodities metálicas, moedas emergentes como o real costumam se valorizar em relação ao dólar.
Qual é a diferença entre petróleo Brent e WTI?
O petróleo é a base da produção de combustíveis fósseis, como gasolina e diesel, e da indústria petroquímica, como nafta, resinas e plásticos. As principais cotações de petróleo são formadas a partir do preço de barril de óleo equivalente (boe) nas modalidades Brent e WTI.
O petróleo Brent é a referência nos mercados europeu, asiático e sul-americano. Ele é extraído no Mar do Norte e possui como características a densidade média e o baixo teor de enxofre. O Brent é negociado na Intercontinental Exchange (ICE), em Londres. Sua cotação é utilizada como base tanto para preços da Petrobras quanto de outras petroleiras brasileiras de capital aberto como PRIO, 3R Petroleum, Enauta e Petroreconcavo.
Já o petróleo WTI, sigla para "West Texas Intermediate", é a referência para o mercado dos Estados Unidos. Trata-se de um óleo de densidade leve e baixo teor de enxofre, que é extraído da terra, em especial na região de Cushing, no estado americano de Oklahoma. O WTI é negociado em Nova York, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e utilizado na política de preços de Chevron e ExxonMobil, as gigantes do petróleo nos EUA.
O preço do Brent costuma ser levemente superior ao do WTI, mas suas cotações tendem a seguir a mesma direção. Ou seja, elas caminham juntas na alta ou na baixa.
Um dos principais catalisadores dos preços do petróleo no mundo são as decisões da Organização de Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+), cartel formado pelos maiores produtores globais da commodity que se reúne periodicamente para decidir sobre aumentos ou cortes de oferta de acordo com seus interesses. Hoje, o grupo é formado por Arábia Saudita, Irã, Kuwait, Venezuela, Iraque, Argélia, Equador, Gabão, Indonésia, Líbia, Nigéria, Catar e Emirados Árabes Unidos, além de aliados não-membros, liderados pela Rússia. A Opep+ é responsável por 40% da produção global da commodity.
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