Acordo de compra de controle da Santos Brasil prevê OPA em breve
Publicado por: Broadcast Exclusivo
6 minutos
Atualizado em
26/09/2024 às 12:23
Por Elisa Calmon e Luana Pavani, do Broadcast
São Paulo, 26/09/2024 - Em breve deve circular uma nova oferta de ações, a da Santos Brasil (STBP3). Será uma oferta de aquisição de ações, mais conhecida como OPA, que a francesa CMA CGM lançará 30 dias após a conclusão da transação de compra de 47,55% da administradora de portos. A OPA visará a compra da totalidade das ações remanescentes, pelo mesmo preço e condições negociados com o Opportunity, acionista de referência da Santos Brasil.
Analistas consideram que essa oferta será benéfica para os acionistas minoritários, inclusive porque o valor da ação no acordo de compra, de R$ 15,30, anunciado na noite do último domingo, 22, embutia um prêmio implícito de cerca de 20,4% sobre o preço no fechamento anterior, da sexta-feira (20). O negócio está avaliado em cerca de R$ 6,3 bilhões, sujeitos a ajustes determinados em contrato. Com a OPA, a operação total pode movimentar até R$ 13,2 bilhões.
O fechamento da transação de compra da fatia detida pelo Opportunity pela CMA CGM está sujeito a condições usuais a este tipo de operação, incluindo aprovações da agência reguladora, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e pelo órgão antitruste, o Conselho Administrativo de Defesa Administrativa (Cade), como explica a empresa em fato relevante, prevendo que estes protocolos devam ocorrer nas próximas duas semanas.
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, não prevê dificuldades no processo de validação pelo órgão antitruste. "Vejo com muito bons olhos (a aprovação). Não enxergo nenhum impeditivo para que esta operação aconteça", afirmou Costa Filho ao Broadcast , após se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o CEO da CMA, Rodolphe Saadé, nesta quarta-feira, 25, em São Paulo.
Saadé também está otimista em relação às aprovações da operação pela principalmente porque a companhia, diferente de outros nomes cotados para adquirir a fatia da Santos Brasil, ainda não opera no Porto de Santos. Isto reduz os riscos de questionamentos pelo Cade, segundo analistas do mercado.
Sobre novas oportunidades de investimento no Brasil, o CEO da CMA explica que o foco, neste primeiro momento, é garantir as aprovações e integrações necessárias. "Mas, depois disso, estamos ansiosos para fazer mais coisas no País", disse.
A Santos Brasil opera o Tecon Santos, maior terminal de contêineres da América Latina e responsável por 17% da movimentação de contêineres da costa brasileira. A transação inclui também outros ativos da companhia, como os portos de Vila do Conde (PA) e Imbituba (SC).
O grupo francês de logística e transporte é considerado o terceiro maior do mundo, com atuação em 60 terminais distribuídos por 160 países. "Temos nos desenvolvido, especialmente em localidades que mostram crescimento", afirmou Saadé. "Estamos muito impressionados com o que está acontecendo no Brasil e decidimos participar disso", acrescentou, destacando que este é o maior investimento feito pela empresa na América Latina.
Costa Filho pretende promover um encontro entre os executivos da companhia francesa e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A expectativa é que a reunião ocorra entre outubro e novembro. "Eles vão para Brasília para criar esse canal direto com o ministério e ampliar, tecnicamente e juridicamente, essa operação", disse o ministro.
Perspectivas para os minoritários
Do lado dos minoritários, a transação é vista com bons olhos diante do prêmio pago de mais de 20%, que sobe para 30% considerando os ajustes de preço contratados, calcula a equipe do BTG Pactual. Os analistas comentam que já havia especulações sobre uma possível compra, mas que o acordo com a CMA foi um fato "um tanto inesperado", pois outras empresas, como Maersk e MSC, eram consideradas favoritas por já operarem no Porto de Santos. Por conta dessa expectativa de venda, as ações vêm acumulando alta este ano, de mais de 60% em 2024.
O Itaú BBA avalia que a Santos Brasil passou por uma transformação significativa nos últimos anos e tem olhado para o futuro. A empresa planeja investir cerca de R$ 1 bilhão no Tecon Santos ao longo dos próximos três anos. O valor vai se somar a R$ 1,3 bilhão aportado nos últimos cinco anos. Diante desses investimentos, a operadora ampliou a capacidade da operação de 2 milhões TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) em 2019 para 2,4 milhões TEUs atualmente. A meta é chegar a 3 milhões até 2026.
Quanto à OPA, essa operação pode desencadear uma "guerra de ofertas" pela fatia restante da companhia, beneficiando os acionistas minoritários. "Observamos que há a possibilidade de outros armadores com forte presença no Porto de Santos se envolverem na negociação da participação restante (52%) devido à relevância estratégica da Santos Brasil na região", afirma o relatório do Itaú BBA.
Para o Goldman Sachs, a venda esclarece as dúvidas do mercado sobre uma possível venda da empresa, com a principal preocupação sendo se isso levaria a um direito de tag along. O BTG explica que a Santos Brasil está listada no Novo Mercado da B3, tornando o tag along obrigatório, mas a participação do Opportunity estava abaixo de 50%, então uma oferta pública não era certa.
O tag along permite que acionistas minoritários vendam seus ativos por 80% a 100% do valor de venda dos majoritários após a entrada de um novo investidor no controle da empresa.
De toda forma, o grupo francês CMA CGM tem margem suficiente para absorver a aquisição da participação na Santos Brasil, diz a agência de classificação de risco S&P Global Ratings. A expectativa é que os fundos ajustados das operações (FFO) da CMA CGM para dívida permaneçam na faixa de 45%-55%, prevista inicialmente. "Isso está confortavelmente alinhado com o requisito de 35% do FFO para dívida para nossa classificação 'BB+' da empresa", diz a análise.
A S&P complementa que a transação proposta é consistente com a estratégia de diversificação de negócios da CMA CGM. Os especialistas acreditam que, com o tempo, as operações ampliadas do terminal contribuirão para a resiliência dos fluxos de caixa. "Com a aquisição da Santos Brasil, a empresa reforçará sua posição como uma operadora de terminais global líder com presença em cerca de 60 terminais ao redor do mundo."
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