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Trader é profissão? Dá para viver só de investimentos na Bolsa?

Operar ativamente em Bolsa não é tarefa fácil para pessoa física, alertam especialistas

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura6 minutos

Atualizado em

02/07/2024 às 18:54

Por Adriana Chiarini, do Broadcast

Há na Internet promessas de ganhos rápidos com baixo investimento para pessoas físicas que queiram virar "traders", como são conhecidos investidores que compram e vendem ativos no mercado de ações ou derivativos para lucrar com oportunidade de momento, às vezes até no mesmo dia. Mas trader é profissão? "Só se for um operador contratado em uma instituição financeira. Trader em casa, não consegue (virar profissão)", diz Fernando Chague, pesquisador da Fundação Getulio Vargas, e autor do livro "Trader ou Investidor? Aprenda a investir na bolsa sem cair nos vieses comportamentais", em co-autoria com o colega de FGV, Bruno Giovannetti (Ed.Intrínseca, 2023).

Os autores fizeram juntos também uma série de estudos para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre day-trade, tipo de operação de compra e venda de títulos no mesmo dia, avaliando ações, minicontratos futuros de índice e minicontratos de câmbio no mercado de derivativos. Os resultados apontam que pouquíssimos investidores ganham, de fato, com essas operações. "E quem ganha, não é tanto assim, não vira milionário. Corre-se muito risco e não há aprendizado com o tempo", explica Chague.

Segundo ele, o melhor tipo de investimento em ações é mantê-las por longo prazo em uma carteira diversificada. "Estamos falando de 5, 10, 20 anos", afirma, derrubando a ideia de que é possível fazer fortuna na Bolsa rapidamente. "Numa roleta de cassino chegaríamos a resultados parecidos", afirma o professor, que é especialista nas áreas de Finanças Comportamentais e Asset Pricing.

Leia também: Mercado de ações: tudo o que você precisa saber

Precisa de formação específica para ser trader?

O trader no mercado financeiro é um investidor que opera com dinheiro próprio. Trader em inglês quer dizer negociante ou comerciante e, como os comerciantes, compram e vendem ativos tentando lucrar nessas operações. Não há exigência de formação específica para isso, basta abrir conta numa corretora. A questão é como lidar com a complexidade do mercado de capitais. O ideal é se aprofundar sobre o tema antes de sair comprando e vendendo ações, para avaliar os riscos envolvidos.

"Há muitos profissionais que operam com produtos derivativos, por exemplo, mas não compreendem como esses produtos funcionam", diz o professor Marcos Piellusch, do Labfin-Provar da FIA Business School. "Vemos no YouTube muitos promovendo facilidade de ganhar dinheiro rápido com day-trade, mas investimento não é aposta. Investimento envolve análise e gestão de risco. Por isso, é importante a pessoa se preparar bem", aconselha.

Já dentro das corretoras, o profissional que realiza ordens de compra e venda para seus clientes é o operador de mesa de renda variável, ou simplesmente operador de bolsa.

Quanto ganha um investidor com day-trade?

No estudo sobre day-trade com ações que eles fizeram, apresentado em 2020, de 98.378 indivíduos que começaram a fazer esse tipo de negociação no Brasil entre 2013 e 2016 e seguiram até 2018, apenas 554 operaram por mais de 300 pregões. Apenas 127 indivíduos foram capazes de apresentar lucro bruto diário médio acima de R$ 100 reais por mais de 300 pregões e apenas 76 pessoas, ou 0,08% do total, tiveram lucro médio diário acima de R$ 300,00, ou seja, mais de R$ 6.000,00 por mês. A média geral de perdas dos que persistiram após 300 pregões foi de R$ 49 por dia.

Operar ativamente no trade, mesmo sem ser no mesmo dia, não é um trabalho fácil para um investidor em sua casa. "Escolher ação é difícil, saber qual vai subir e qual vai cair no curto prazo é complicado. As grandes instituições investem muito em informação para tentar saber e mesmo assim há risco. O pequeno investidor não tem como competir", observa Chague.

Veja também: Que tipo de investidor é você?

De fato, no day-trade, o pequeno investidor tem mais dificuldade ainda porque concorre com grandes instituições que contratam profissionais brilhantes que desenvolvem algoritmos de programação para computadores (robôs) que disparam ordens de compra e venda de ativos muito rapidamente. "Oportunidades se fecham muito antes que o pequeno day-trader possa interpretar e se posicionar", diz Paulo Portinho, gerente de educação e inclusão financeira da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). "E o dinheiro de quem tem menos para investir acaba antes", comenta ele num dos vídeos da série "É possível viver de day trade?", lançados em outubro do ano passado.

  • O primeiro vídeo foi feito a partir dos estudos sobre day-trade feitos por Chague e Giovannetti para a CVM. Portinho conta que as três pesquisas usaram dados de 130 mil pessoas que fizeram operações regulares de day-trade.

Fora que operar em day-trade implica em custos e taxas a pagar em emolumentos e corretagem. Além disso, quando há lucro, incide imposto, e esses fatores devem ser considerados pelo investidor pessoa física.

O estudo sobre day-trade em contratos de derivativos, como mini de índices, acompanhou operações de 98.696 pessoas e 92,1% desistiram antes de completar 300 pregões. Dos 1.558 que permaneceram após 300 pregões, 1.418 tiveram prejuízo e 127 deles tiveram lucro médio diário de até R$ 300. Apenas 13 apuraram lucro médio acima de R$ 300; portanto, só 13 ganharam mais de R$ 6.000 por mês.

Já o estudo com mini de dólar acompanhou 14.748 day-traders e 92,3% desistiram antes de 300 pregões. Dos 1.131 que permaneceram, só 20 tiveram lucro médio diário acima de R$ 300 reais. E aí, vai encarar?

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