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Economia

Rotativo do cartão de crédito perde espaço com teto de juros e opções de parcelamento

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura3 minutos

Atualizado em

03/06/2024 às 14:00

Por Matheus Piovesana, do Broadcast

São Paulo, 03/06/2024 - O teto de juros sobre o rotativo do cartão de crédito, em vigor desde janeiro deste ano, fez essa modalidade de dívida cair entre os consumidores. O crédito rotativo, aquele que começa a vigorar quando a pessoa atrasa o pagamento do cartão, não ficou mais barato. Mas tem sido menos usado - o que já é positivo, do ponto de vista de educação financeira do consumidor. Os bancos aceleraram a migração de clientes para linhas como as de parcelamento de fatura, que começa a ganhar musculatura com o surgimento de produtos que usam os limites de cartão. Na visão de especialistas, o encolhimento do rotativo veio para ficar.

O saldo do rotativo perdeu participação no total da carteira de crédito, respondendo por R$ 61,6 bilhões em 12 meses até abril, 16,6% menor do que no mesmo período do ano passado, de acordo com dados mais recentes do Banco Central. A carteira total em cartões de crédito para pessoas físicas subiu 8,6%, para R$ 540,5 bilhões, puxada pelo parcelado e pelo cartão à vista.

A perda de participação do rotativo vem de longa data. Há uma década, a linha tinha quase o dobro da participação na carteira que apresenta hoje.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) diz que a mudança de mix mostra os bancos se adaptando ao novo cenário. Como os juros do parcelamento de faturas são mais baixos, as instituições o estariam oferecendo como primeira opção. Pelo fluxo normal, o cliente cai no rotativo quando deixa de pagar a fatura, e só depois de 30 dias é transferido para o parcelamento.

"Começamos a ver um movimento proativo antecipando o parcelamento, e evitando que o cliente fique muito tempo no rotativo", afirma Ivo Mósca, diretor de Inovação, Produtos e Serviços da Febraban. Além do teto, a inadimplência seria um dos motivos: no rotativo, chega a quase 53%, enquanto no parcelado, é de 10%. "Não existe uma bala de prata, é um conjunto."

O vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Ricardo Vieira, considera que é prematuro atribuir o encolhimento do rotativo no último ano ao teto. "Acreditamos que o esforço que todos os emissores vêm fazendo ao longo dos últimos anos para incentivar o parcelamento e o uso mais consciente de alguma forma vem surtindo efeito."

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Como não tem período específico e o rotativo só pode ser cobrado por 30 dias, o limite não reduziu os juros, que saíram de 419% em janeiro para 423% entre janeiro e abril. Entretanto, o período da implementação do teto coincide com a aceleração do encolhimento do rotativo.

O que é o teto de juros do rotativo?

No ano passado, o governo federal pediu a bancos e fintechs soluções para a redução dos juros da modalidade de crédito rotativo, que passavam de 400% nos indicadores anualizados. A busca por consenso esbarrou na origem das taxas: boa parte dos grandes bancos e algumas fintechs defendiam que o parcelado sem juros era a raiz do problema, porque seria subsidiado pelo rotativo. Outra ala do mercado, liderada pelas credenciadoras independentes, afirmava que não se podia associar os dois produtos. Com o dissenso, o Congresso estabeleceu o teto tanto para o rotativo quanto para o parcelamento de faturas.

Desde 3 de janeiro, após regulamentação do Conselho Monetário Nacional (CMN), há um limite dos juros e encargos financeiros no crédito rotativo e no parcelamento do saldo devedor da fatura dos cartões de crédito. A Lei 14.690, a mesma que criou o Desenrola Brasil, programa de renegociação de dívidas do governo federal, determina que o valor total cobrado a título de juros e encargos financeiros no rotativo e no parcelamento da fatura do cartão não pode ultrapassar 100% do valor da dívida principal.

Ou seja, a dívida de quem não paga o total da fatura do cartão de crédito e entra no chamado rotativo do cartão, não pode ultrapassar o dobro do valor devido. Isso vale mesmo se a dívida do rotativo for migrada para uma linha de crédito parcelado.

Renegociação de dívidas

O economista da LCA Consultores, Michael Burt, afirma que no curto prazo, a queda também tem relação com iniciativas de renegociação, como o Desenrola. "Com grandes descontos para sanar essas dívidas, as pessoas começaram a pagar o que deviam", diz ele.

Os bancos têm dito que há um efeito limitado do programa sobre os balanços. O Desenrola abrangeu dívidas negativadas entre 2019 e 2022, muitas das quais haviam sido baixadas a prejuízo pelas instituições. Encerrado para pessoas físicas no último dia 20, o programa renegociou R$ 53,1 bilhões em dívidas, de acordo com o Ministério da Fazenda.

Pix parcelado

Embora o parcelamento de faturas seja majoritário, o mercado atribui parte do crescimento do cartão parcelado a produtos que, para o consumidor, não têm tanta relação com os cartões. Um dos principais é o Pix parcelado: alguns bancos e fintechs oferecem o produto a partir dos limites de cartão que dão aos clientes. Com isso, essas operações entram na rubrica dos cartões quando são informadas ao BC.

"Começamos a ver que aparecem outras soluções, produtos que geram este incentivo", afirma Mósca, da Febraban. Ele também vê influência do parcelamento e compras feitas à vista direto na fatura. O produto ganhou tração no ano passado, e permite ao cliente parcelar compras que o estabelecimento comercial receberá à vista. Neste caso, o banco emissor recebe o valor parcelado, com juros.

Em paralelo, o setor aposta na decolagem do crediário através dos cartões, a partir de uma simplificação dos processos. "Acreditamos que a solução está muito amigável para consumidores e comerciantes", diz Vieira, da Abecs. O objetivo é facilitar o uso no varejo online, em que o cartão de crédito à vista predomina.

A Abecs acredita que o Pix parcelado tem efeito mais forte sobre outra linha: o cheque especial. Cálculo da entidade aponta uma correlação forte entre o crescimento do Pix desde 2021 e o aumento das concessões do cheque especial desde 2021. Nos últimos três anos, as concessões mensais na linha subiram 56%.

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