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Mercado

Quais as chances de recessão global e como afeta os investimentos?

O temor sobre uma eventual recessão global persiste, gerando cautela nas bolsas internacionais

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura8 minutos

Atualizado em

16/08/2023 às 18:55

Por Luana Pavani, do Broadcast

O noticiário econômico tem batido na tecla de recessão global desde a pandemia por covid-19, decretada em março de 2020 e que durou até maio de 2023. Os gastos dos governos subiram no mundo todo em resposta à crise sanitária, comprometendo a dívida pública. Mesmo após a reabertura da economia e a normalização das cadeias de suprimento, os sinais vitais da economia mundial seguem fracos.

O que elevou o risco de recessão no mundo foi a resistência da inflação, causado justamente pela quebra da produção trazida pelas medidas de isolamento da pandemia, e a necessidade de os bancos centrais pelo mundo subirem ainda mais os juros para conter os preços. Porém, o cenário de queda no Produto Interno Bruto (PIB) dos países desenvolvidos junto com altas taxas de juros torna a recuperação mais distante. Por isso, o atual desafio dos bancos centrais pelo mundo é a busca por um "pouso suave", onde a inflação cai sem necessariamente gerar recessão econômica ou desemprego. Mas o que é recessão?

O que caracteriza uma recessão

Em resumo, recessão econômica é a desaceleração da atividade de forma ampla por um período prolongado. Na literatura, há o termo recessão técnica, que é quando o Produto Interno Bruto (PIB) tem queda por dois trimestres consecutivos.

Como a atividade econômica se enfraquece, as pessoas consomem menos, as indústrias ficam com capacidade ociosa e com estoques cheios, param de investir e tomam menos crédito. Com poucos projetos e perspectivas de longo prazo, as empresas deixam de contratar ou começam a demitir. Se o emprego cai, a renda da população e a propensão ao consumo diminuem. Esse cenário configura a desaceleração do PIB. Caso o governo não tome medidas para recuperar o ciclo econômico no trimestre seguinte e aconteça uma segunda queda do PIB consecutiva, tecnicamente há recessão.

Como a recessão afeta os investimentos?

A macroeconomia tem flutuações, e diante dos diversos choques os agentes de mercado tomam suas decisões. Quanto aos investimentos, adota-se uma postura mais defensiva diante de crises econômicas ou desaceleração, buscando proteger o capital.

O dólar é considerado um dos ativos de menor risco no mercado financeiro global. A busca pela moeda americana reflete, assim, um movimento de proteção, priorizando essa classe de ativos em detrimento de aportes mais arriscados, como em ações da bolsa. A maior procura por dólares também acontece quando os investidores tentam travar a cotação, na expectativa de que o preço possa subir mais adiante se as condições de mercado se deteriorarem, quando eles então poderão vender moeda e embolsar o lucro.

Qual o risco de recessão em 2023?

O ano começou com a zona do euro em recessão, e alguns países do bloco ainda podem ficar nesse terreno, já que o Banco Central Europeu (BCE) avalia que é necessário manter o aperto da política monetária. Nos Estados Unidos, alguns dados de atividade mostram-se resilientes, dividindo a opinião dos especialistas sobre se o país conseguirá fazer o "pouso suave", ou seja, manter altas taxas de juros sem comprometer o PIB.

De toda forma, o Fundo Monetário Internacional prevê que o PIB dos países desenvolvidos seguirá em queda: de 2,7% em 2022 para 1,5% em 2023 e 1,4% em 2024, abaixo da média mundial, que passará de 3,5% em 2022 para 3% tanto em 2023 quanto em 2024.

No caso dos Estados Unidos, o PIB deve cair de 2,1% em 2022 para 1,8% este ano e apenas 1% no ano que vem, ainda nas estimativas do FMI. Ainda há fortes chances de recessão na maior economia do mundo, mas os porcentuais vêm arrefecendo, como mostra a plataforma Statista. Atualmente a possibilidade de recessão está na faixa de 66% nos próximos 12 meses.

Já quanto à China, inflação não é o problema, mas sim a deflação. O governo vem baixando os juros para incentivar o consumo e a produção. Entretanto, as medidas de estímulo à economia por Pequim vêm surtindo pouco efeito, o que também pesa na percepção da atividade global. Afinal, trata-se do maior consumidor de commodities, como o minério de ferro, do mundo. O consenso de analistas é que mais medidas ainda são necessárias. O FMI reafirmou sua expectativa de que a China crescerá 5,3% em 2023, mas reduziu levemente a projeção para o próximo ano, de 5,1% a 5,0%.

Mas e o Brasil?

Após um primeiro trimestre forte, com crescimento acima do esperado, as projeções melhoraram para o Brasil. O FMI espera que o PIB do Brasil cresça 2,1% neste ano, acima da sua estimativa anterior que apontava alta de 1,2%, a reboque do desempenho do PIB brasileiro no primeiro trimestre, que avançou 1,9%, bem acima do consenso de mercado, com impulso do setor de agronegócios.

A agência de classificação de risco Fitch também elevou a previsão de crescimento do Brasil em 2023 de 0,7% para 2,3%, afirmando que a atividade econômica segue amparada pelo bom volume de produção agrícola, pelo mercado de trabalho aquecido, crescimento do crédito e melhor controle dos gastos do governo. Estes fatores agem em contraponto ao resfriamento do consumo causado pela política monetária restritiva, segundo a agência, que fez essas observações junto com a elevação do rating do Brasil, de BB- a BB, com perspectiva estável, no último dia 26 de julho.

Com isso, o mercado financeiro brasileiros está mais otimista, com revisões para cima nas estimativas colhidas pelo Banco Central semanalmente, compiladas no Boletim Focus. O documento de 14 de agosto, por exemplo, trouxe melhora na mediana para a alta do PIB em 2023 de 2,26% para 2,29%.

O Ministério da Fazenda prevê crescimento de 2,5% este ano. No Banco Central, a estimativa atual é de 2,0%, conforme o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho.

O que é CDS?

Um termômetro do risco no mercado financeiro é o volume de contratação de Credit Default Swap (CDS), uma espécie de seguro contra calotes de países e empresas, que vem crescendo desde a pandemia. Segundo levantamento semestral do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), a procura por instrumentos financeiros contra calotes ao redor do globo cresceu nos primeiros semestres de 2020 e 2021 e em todo o ano passado, até atingir em dezembro último o maior patamar desde 2017, somando US$ 9,73 trilhões.

A América Latina foi a única região do mundo a reduzir o seu estoque de contratos de CDS. Ao fim de 2022, o estoque de CDS da região foi a US$ 274,39 bilhões, cifra 4% menor do que seis meses antes. Isso porque os governos latinoamericanos se anteciparam em elevar os juros básicos de seus países para controlar a alta nos índices de inflação decorrentes da pandemia.

Agora, Estados Unidos e os países da zona do euro estão no foco das preocupações, pois não encontram nos indicadores macroeconômicos fundamentos que justifiquem cortes de juros, enquanto se deparam com inflação persistente.

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