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Ações cíclicas têm relação com taxa de juros, mas por quê?

Saba quais são as ações que reagem diretamente a dados macroeconômicos como juros, PIB e inflação

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura4 minutos

Atualizado em

18/09/2023 às 20:13

Por Gustavo Boldrini, do Broadcast

Fatores macroeconômicos como juros, inflação, emprego e o Produto Interno Bruto (PIB) sempre podem mexer com as ações das empresas, mas existe um grupo específico que acaba sentindo mais diretamente o impacto desses dados. São as companhias dos chamados setores cíclicos, pois têm a ver com as bases da teoria macroeconômica. São segmentos com maior correlação com os ciclos econômicos vividos por um país.

Em resumo, funciona assim: quando o país passa por um momento de crescimento econômico, de força da atividade, os papéis dessas empresas tendem a subir. Já em períodos de crise ou retração do PIB e do emprego, eles tendem a cair. Por trás dessa dinâmica está a taxa básica de juros da economia (Selic), que por sua vez é definida pelo Banco Central com o objetivo de cumprir a meta de inflação.

"Quando falamos em ações cíclicas, são companhias mais ligadas ao cenário interno, já que o resultado dessas companhias é atrelado ao desempenho da economia doméstica", explica Victor Penna, analista do BB Investimentos (BB-BI). "Quanto maior está a taxa de juros, mais restritiva é a economia", completa ele.

Para fazer controle da inflação, o Banco Central eleva os juros e encarece o crédito. Com crédito mais caro, o consumidor pensa duas vezes antes de trocar de carro, geladeira, imóvel, e acaba se voltando para o consumo de coisas mais essenciais, como alimentos e medicamentos. Ou seja: apesar do setor de consumo em geral ser considerado cíclico, há segmentos dentro dele que conseguem manter seus níveis de vendas mesmo em momentos de restrições econômicas, como é o caso das redes de farmácias e supermercados. Afinal, ninguém prescinde de comida ou remédio.

Quais são os setores cíclicos da economia

Os principais setores cíclicos da economia são o chamado varejo discricionário, que inclui segmentos como moda, eletrodomésticos e eletroeletrônicos (isto é, itens de consumo não-essenciais) e o de construção civil, que reúne construtoras e incorporadoras. Além disso, segmentos como o de transporte e logística, em especial companhias aéreas e locadoras de veículos, também são considerados cíclicos.

A lógica aqui é simples: uma empresa que vende geladeiras, como Magazine Luiza e Casas Bahia (Via, na Bolsa), deve encontrar dificuldades em um ambiente de inflação elevada e taxas de juros altas para contê-las. Afinal, será mais difícil oferecer condições de parcelamento facilitadas para o consumidor. Este, por sua vez, vai preferir esperar antes de tomar uma decisão de consumo tão importante e de alto valor, como o eletrodoméstico. O mesmo vale para fechar um pacote de viagem ou dar entrada em um apartamento: o consumo, em geral, fica mais restrito, e essas empresas acabam vendo suas receitas diminuírem, bem como suas margens de lucro.

Situação semelhante ocorre para empresas. Com juros altos, as dívidas das empresas acabam ficando mais caras e as despesas financeiras pioram. Com isso, ainda que o negócio gere alto faturamento em um período, pode ser que o resultado aponte prejuízo no seu balanço, devido aos efeitos do endividamento.

Qual a tendência para as ações cíclicas no restante deste ano?

O avanço do arcabouço fiscal, conjunto de novas regras para as contas públicas, ajudou a reduzir a percepção de risco de aumento da inflação no futuro e levou a uma baixa na curva de juros. Investidores e agências de classificação de risco trabalham com melhores perspectivas fiscais e trajetória de queda de inflação para os próximos meses.

"Alguns papéis estavam baratos, e o mercado olhando pra frente viu possibilidade de corte de juros e começou a comprar esses papéis", diz Penna, do BB-BI.

Segundo ele, o momento é de ser mais seletivo nos investimentos em Bolsa, até que novos fatores de alta dos ativos apareçam. Enquanto isso, Penna recomenda que o investidor olhe para ações de qualidade, que entreguem rentabilidade e não sejam tão alavancadas, ou seja, que a proporção da sua dívida em relação ao lucro operacional não seja tão alta.

"A dica é não fugir de teses de qualidade. Por mais que você queira investir em setores cíclicos, o ideal é olhar companhias não tão alavancadas e que vão conseguir surfar na alta da bolsa. Ao se posicionar numa empresa menos volátil, as chances de se dar mal são menores", acrescenta o analista.

Leia também: Como a taxa de juros afeta as empresas do varejo em bolsa

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