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cédulas de dinheiro estrangeiro empilhadas

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O que é carry trade e qual a sua relação com a taxa de juros

Mecanismo de carry trade busca obter lucros com base em diferenças de juros entre os países

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura8 minutos

Atualizado em

18/09/2023 às 20:18

Por Gustavo Boldrini, do Broadcast

O carry trade é um mecanismo muito utilizado por investidores profissionais para tentar obter lucros com base na diferença entre a taxa de juros de dois países. Esse tipo de operação costuma ter forte impacto no câmbio, mexendo com o preço do dólar ante o real, por exemplo. Assim, entender seu funcionamento ajuda a compreender as oscilações do câmbio, que podem afetar decisões de investimento.

O investidor pessoa física dificilmente entrará nesse mercado, considerado muito arriscado, mas pode se deparar com o termo na leitura de relatórios de analistas, principalmente sobre o cenário internacional.

Diferencial de juros

O objetivo da operação de carry trade, também chamado de carrego, é buscar oportunidades de lucro na diferença de taxas de juros entre dois países. Primeiro, o investidor vai buscar um empréstimo em um país de taxa de juros mais baixa. Depois, vai transformar esse dinheiro na moeda de outro país e aplicar em um ativo, geralmente de renda fixa, que vai remunerá-lo a juros superiores ao que ele pagou no empréstimo.

Veja este exemplo: um investidor institucional quer lucrar com a diferença de juros entre os Estados Unidos e o Brasil. Para isso, ele vai tomar um empréstimo com taxa próxima de 5,00% ao ano em algum banco americano, aproveitando-se da taxa básica do país que está no patamar de 5,00% a 5,25% em julho. Ele vai transformar esses dólares em reais e comprar títulos do Tesouro Selic aqui no Brasil, com remuneração em torno de 13,75%.

De forma bastante simplificada, o lucro, ou spread, está na diferença entre os 13,75% que ele vai receber no Brasil e os 5,00% que ele está pagando nos EUA. Nesse caso, o investidor obtém um spread de 8,75%.

Quais os riscos do carry trade

A situação descrita acima, claro, é hipotética. Isso porque, nesse meio tempo, o câmbio oscila diariamente. Logo, essa operação está exposta a um forte risco cambial e é vista como uma especulação. Se algum fato macroeconômico abala o mercado brasileiro e derruba o valor do real ante o dólar, esse investidor poderá ter perdas significativas.

Para conter o risco cambial, investidores costumam se utilizar de alguma ferramenta de hedge, expressão em inglês que significa "proteção". Esse hedge pode ser, por exemplo, alguma operação no mercado futuro de dólar, para travar o preço e reduzir eventuais perdas com oscilações do câmbio.

Além disso, antes de tomar esse tipo de decisão, o investidor leva em conta muitos outros fatores, inclusive o nível de risco do Brasil, tendo por base o caso acima, medido por um derivativo chamado Credit Default Swap (CDS). Trata-se de uma espécie de seguro de crédito que mede o nível de risco de determinado país. Quanto maior o custo do CDS, medido em pontos-base acima dos Tresuries (considerados os títulos mais seguros do mundo), maior o risco da nação a que o CDS se refere.

O carry trade é uma operação que costuma ser praticada em ambientes macroeconômicos mais estáveis, em que as expectativas de política fiscal e monetária de um país estão bem ancoradas. Neste caso, ainda há o risco, porém mais controlado. Em outras palavras, quanto menor for a volatilidade da moeda - isto é, a estimativa de sua oscilação do preço no futuro - menos arriscado será fazer o carry trade .

Em meados de junho, com o avanço da proposta do arcabouço fiscal no Congresso e perspectivas de inflação mais controlada no Brasil, a volatilidade implícita do real atingiu o menor nível desde o fim de 2019, o que revela uma redução expressiva da percepção de risco entre os investidores. Não por acaso, o real experimentou uma onda de apreciação no mês, finalizando junho numa alta acumulada de 5,60% ante o dólar. Segundo analistas ouvidos pelo Broadcast , o retorno da atratividade do carry trade diante de um cenário macroeconômico mais estável e juros ainda altos esteve entre os principais motivos para a valorização da moeda brasileira.

Como o carry trade afeta o preço do dólar

As operações de carry trade podem ter sua rentabilidade afetada pelas flutuações do câmbio, mas elas próprias tendem a mexer com o valor das moedas. Quando há muita demanda pelo trade de carrego em um determinado país, é natural que a moeda dessa nação se valorize em relação ao dólar. Nessa situação, analistas costumam dizer que há um movimento especulativo influenciando as moedas, já que a mudança de preço é fruto de operações de especulação, e não necessariamente dos fundamentos fiscais ou monetários de um país.

O carry trade também ajuda a explicar como as taxas de juros mexem com o valor das moedas. Imaginemos uma situação em que o Brasil está subindo seus juros e os Estados Unidos mantêm as taxas inalteradas. A tendência é que haja mais operações de carry trade entre dólar e real, valorizando a moeda brasileira.

Leia também: Por que a economia da China afeta tanto a Bolsa brasileira?

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