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Investidores monitoram ações de empresas com presença no RS que também podem ser afetadas

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura3 minutos

Atualizado em

09/05/2024 às 11:59

Por Elisa Calmon, Caroline Aragaki, Eduardo Laguna e Matheus Piovesana, do Broadcast

São Paulo, 09/05/2024 - Os investidores têm monitorado possíveis impactos em companhias que operam, produzem ou estão sediadas no Rio Grande do Sul. Na lista, aparecem empresas de infraestrutura, indústria e agronegócio.

A tragédia climática no Rio Grande do Sul provocou a paralisação de fábricas de diversos setores, de produtos químicos a utensílios domésticos. Dada a impossibilidade de os funcionários comparecerem com segurança ao local de trabalho, as empresas desligaram as máquinas e concederam férias coletivas ou deram folga aos empregados. O setor da indústria também procurou o governo por medidas emergenciais, como a redução de jornada de trabalho e salários, uma solução contra demissões que já tinha sido adotada na pandemia.

As ações do Banrisul (BRSR6) e da IRB Re (IRBR3) foram as mais afetadas, até o momento, pela crise climática no Rio Grande do Sul, segundo levantamento feito pelo Broadcast . Os papéis acumulam queda de 9,18% e 7,55%, respectivamente, desde o fechamento de 28 de abril, um dia antes dos temporais atingirem o Estado. A título de comparação, o Ibovespa acumula alta de 1,67% no mesmo período.

O Banrisul é controlado pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul, sendo um dos poucos bancos estaduais ainda em atividade no Brasil, e com "exposição significativa às áreas afetadas pelas enchentes no Estado", segundo a agência de classificação de risco S&P Global Ratings, que colocou os ratings de crédito do banco em observação negativa. A perspectiva negativa indica maior chance de rebaixamento da nota.

No setor de seguros, IRB é a companhia mais exposta ao Rio Grande do Sul, na avaliação do JPMorgan, que estima que o impacto sobre o lucro na companhia pode alcançar 14%. A título de comparação, o impacto no lucro da holding BB Seguridade seria inferior a 1%.

Ainda no setor financeiro, a presidente do Banco do Brasil (BBAS3), Tarciana Medeiros, anunciou que o banco vai destinar mais R$ 50 milhões para o apoio à reconstrução do Rio Grande do Sul. "Além dos R$ 5 milhões que havíamos destinado e dos R$ 4 milhões que conseguimos na campanha de arrecadação, estamos direcionando mais R$ 50 milhões via Fundação BB para apoio aos nossos clientes do Rio Grande do Sul", afirmou ela em coletiva de imprensa para comentar os resultados do banco no primeiro trimestre.

Medeiros disse que desde a última semana, o banco tomou uma série de iniciativas para dar apoio aos clientes e aos funcionários no Estado. O BB anunciou a postergação de cobranças em diversas linhas, para clientes pessoas físicas e jurídicas. A executiva afirmou ainda que o BB está tomando iniciativas de apoio aos funcionários das cidades atingidas pela crise, inclusive os terceirizados que atuam na rede do banco.

Indústria

O vice-presidente de Finanças da Braskem (BRKM5), Pedro Freitas, afirmou, em teleconferência nesta quinta-feira, que o nível atual de utilização de capacidade da empresa hoje está em 50% no Brasil, por conta das fortes chuvas que afetam o Rio Grande do Sul, que exigiram da empresa a paralisação do polo de Triunfo. Por conta disso, segundo o executivo, houve dano tanto na oferta quanto na demanda de resinas, mas não há risco de falta de abastecimento dos principais produtos, dado que a empresa atua com uma estratégia de otimização da produção, aumentando a operação em outras unidades para compensar a interrupção em Triunfo.

A perda mais relevante, segundo Freitas, está na produção de eteno verde, que fica diretamente afetada devido ao fato de que a única planta na região capaz de produzir o material com características sustentáveis é o polo de Triunfo.

Segundo Freitas, a Braskem atua para promover a assistência para a população local, por meio de doações. A petroquímica possui uma parceria com a Cufa, por onde consegue potencializar o atendimento das pessoas afetadas.

A Gerdau (GGBR3 GGBR4) parou as atividades em Charqueadas (aços especiais) e Sapucaia do Sul (aços longos). A siderúrgica ressalta, porém, que a paralisação não afetará as entregas aos clientes, e que nenhuma das unidades sofreu danos pelos temporais. "A decisão foi estabelecida visando a segurança das pessoas e para que os colaboradores e colaboradoras possam estar próximos a suas famílias neste momento desafiador para o povo gaúcho."

Agronegócio

Os frigoríficos também estão no radar. O analista da Criteria Investimentos, Rodrigo Brolo, destacou a expectativa de alta nos preços do milho, com a quebra na safra do Rio Grande do Sul, e problemas no escoamento da produção por conta das chuvas.

Os papéis de produtores de proteína chegaram a cair 4% na última segunda-feira, em meio a preocupações relacionadas à crise climática, mas depois reagiram mais a balanços - as ações da BRF (BRFS3) lideraram as altas do Ibovespa nesta quarta-feira, com ganho de 11,17%, após lucro líquido de R$ 594 milhões no primeiro trimestre de 2024 revertendo prejuízo um ano antes, e redução da alavancagem (dívida líquida sobre Ebitda) para o menor nível em oito anos.

No entanto, a BRF garantiu que tem conseguido manter o quadro de normalidade no Estado, com acesso aos animais para abate e escoamento da produção.

Para a empresa de alimentos Camil (CAML3), o Citi escreveu na última segunda-feira, 6, que o impacto parece limitado considerando o Estado, a intensidade e os locais das inundações. "Para contextualizar, a empresa possui 12 instalações de processamento de grãos no Brasil (arroz + feijões), cinco das quais estão no Estado do Rio Grande do Sul. No geral, permanecemos atentos a quaisquer paralisações operacionais e atrasos na colheita do arroz, pois estes são os principais riscos no momento", afirma o banco.

Outras empresas, além de organizar campanhas de doação aos atingidos pelas enchentes, acenaram com apoio financeiro aos colaboradores. Foi o caso da JBS (JBSS3), que decidiu antecipar o pagamento do 13º salário para seus funcionários baseados na região, para amenizar os transtornos. De acordo com a companhia, mais de 15 mil pessoas serão contempladas, e a liberação representa cerca de R$ 30 milhões.

Entenda os possíveis impactos econômicos da tragédia climática no Rio Grande do Sul

Ações de logística e transportes

Para Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos, "com certeza haverá um impacto macroeconômico muito forte, ainda que por ora seja difícil de mensurar, pois as enchentes no Rio Grande do Sul mexem com o nível de produção das empresas e também acarretam em problemas logísticos". Ele pontua, por exemplo, que Marcopolo (POMO3 POMO4) e Randon (RAPT4) são duas companhias logísticas sediadas em Caxias do Sul e possuem capital aberto.

Na fabricante de carrocerias de ônibus Marcopolo, as operações em Caxias do Sul foram retomadas na segunda-feira, 6, com as áreas administrativas ainda trabalhando remotamente. Foram liberados, porém, os trabalhadores que moram em áreas onde o deslocamento está impossibilitado pelas chuvas.

A Rumo (RAIL3) anunciou nesta semana que as operações foram parcialmente paralisadas no Rio Grande do Sul. Para o Citi, a exposição da companhia parece limitada, mas ainda está em análise. "A recente tragédia não só tem um impacto negativo nos volumes do Sul, mas também pode criar algum risco de investimentos mais elevados este ano", dizem os analistas Filipe Nielsen, Jay Singh e Stephen Trent.

No entanto, afirmam que a exposição parece limitada até o momento. As operações Sul da Rumo representaram 18,6% da receita total e 14% do Ebitda da companhia em 2023. De acordo com o comunicado, a empresa não espera que os eventos criem alterações significativas no guidance (projeção) para 2024.

A CCR (CCRO3) administra 473,4 quilômetros de rodovias gaúchas. A companhia, contudo, está "tranquila" do ponto de vista econômico da operação, segundo o CEO, Miguel Setas. O executivo informou que, por se tratar de um evento de força maior, deve haver um reequilíbrio econômico-financeiro do contrato. A concessionária acionou apólices de seguro referentes a danos materiais e lucro cessante, já que suspendeu a cobrança de pedágios em rodovias gaúchas desde o último dia 5.

Outras empresas

Fora da bolsa, muitas empresas também têm adotado medidas de contingência. Na segunda-feira, 6, a Tramontina concedeu férias a aproximadamente 4 mil funcionários dos setores produtivos de duas fábricas em Carlos Barbosa, município a 200 quilômetros de Porto Alegre, onde a empresa tem uma gama diversificada de produção, desde facas a cooktops, coifas, fornos e lava-louças. A previsão de retorno é na quinta-feira da semana que vem (16 de maio). Segundo a Tramontina, funcionários de setores administrativos e comerciais seguem trabalhando com equipes reduzidas e, para os que não conseguem chegar ao escritório, em home office.

A empresa também vai dar férias para alguns setores, ainda em definição, nas fábricas que produzem, também em Carlos Barbosa, ferramentas, utensílios e equipamentos para jardinagem, agricultura e construção civil, além de materiais elétricos. Nesse caso, serão priorizados os funcionários que moram longe do local de trabalho.

A fábrica da General Motors (GM) que produz o Onix, um dos carros mais vendidos do País, tinha o retorno marcado para a quarta-feira, 8, de um recesso programado de seis dias. Porém, seguirá sem produção até pelo menos a sexta-feira, 10. Em razão dos alagamentos e deslizamentos provocados pelas chuvas, a montadora decidiu conceder dias de folga (days off) aos trabalhadores da fábrica de Gravataí. Além de doações em dinheiro, alimentos e roupas, a GM diz que emprestou veículos para operações de resgate.

A John Deere suspendeu na quinta-feira, 2, as operações nas fábricas de Montenegro, de onde saem tratores agrícolas, Porto Alegre (equipamentos de construção) e Canoas (pulverizadores agrícolas).

Na terça-feira, 7, atendendo a pedidos dos empresários, o Ministério do Trabalho e Emprego anunciou que os depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) pelos empregadores gaúchos serão suspensos durante quatro meses. Também será liberado aos trabalhadores atingidos pelo desastre ambiental o saque emergencial do FGTS.

Banner com informações sobre doação para as pessoas impactadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul

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