Pular para o conteúdo principal da pagina
foto_blackrock_capa.jpg

Mercado

Falta de ESG deve ser vista como fator de risco por investidor, diz chairman da BlackRock

Entrevista com Carlos Takahashi, chairman da BlackRock no Brasil, uma das maiores gestoras de investimentos do mundo, que tem parceria com a BB Asset

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura14 minutos

30/05/2023 às 17:39

Atualizado em

30/05/2023 às 19:44

Por Gustavo Boldrini, do Broadcast

A negligência das empresas em relação às boas práticas de ESG - sigla em inglês para meio ambiente, responsabilidade social e governança corporativa - deve ser considerada um fator de risco pelos investidores. Essa é a visão de Carlos Takahashi, chairman da BlackRock no Brasil.

Maior gestora do mundo com US$ 8,6 trilhões em ativos sob gestão, a BlackRock tem o ESG "no seu coração", segundo Takahashi, levando em conta esses aspectos na seleção de ativos em seus fundos e na atuação em companhias que compõem seus ETFs (ou fundos de índice). O executivo, mais como conhecido como Cacá Takahashi, é uma referência no mercado financeiro brasileiro em investimentos sustentáveis e também atua como vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

No início de maio, a BlackRock se juntou à BB Asset para lançar o fundo BB Multimercado Blackrock Multi-Asset ESG IE, que busca uma estratégia de investimento global tanto em renda fixa quanto em renda variável levando em conta as melhores práticas de ESG. Além de filtrar os investimentos com base em critérios de excelência no ESG, o veículo segue uma política de não investir em setores que violam os objetivos globais de sustentabilidade da Organização das Nações Unidas (ONU), segundo as gestoras.

"É uma parceria entre a maior gestora do mundo junto com a maior gestora do Brasil, que tem um canal de distribuição que se caracteriza por conseguir acessar a pessoa física do Oiapoque ao Chuí, nos quatro cantos do país."

Em entrevista exclusiva, Cacá Takahashi falou sobre a estratégia global da BlackRock, a importância do ESG para o investidor pessoa física e como identificar empresas que realmente estão engajadas com a sustentabilidade.

Caca-blackrock-creditos.jpg

Caca-blackrock-creditos.jpg

Qual é a relevância dos critérios ESG na estratégia da BlackRock?

Carlos Takahashi: A BlackRock tem o ESG e o investimento sustentável no seu coração, no centro da sua atuação. Claro que temos a questão fiduciária, do retorno que nossos investidores estão buscando. Hoje, nosso portfólio de gestão ativa é 100% integrado aos critérios de ESG. Outro aspecto importante é que, na parcela passiva do nosso portfólio (ETFs e índices), fazemos o engajamento nas empresas investidas para melhorar as práticas ambientais, sociais e de governança delas. Além disso, tem a gestão de transição para uma economia de baixo carbono, onde vamos encontrar oportunidades e atuar.

Como a BlackRock busca atuar dentro das empresas que estão no seu portfólio?

Carlos Takahashi: Aqui na BlackRock temos uma equipe que chamamos de stewardship . É uma área completamente independente dentro da organização, que analisa as empresas públicas que fazem parte dos nossos índices e ETFs. Dentro delas, ocorre o engajamento através de algumas políticas, sempre no sentido de orientar as companhias a adotarem as melhores práticas, reforçando a importância dos conselhos de administração para a implementação dessa agenda. Para essa área, os conselhos das empresas são responsáveis pela implementação das estratégias de longo prazo.

Por que o investidor pessoa física precisa levar em conta os aspectos ESG na hora de montar sua carteira?

Carlos Takahashi: O principal aspecto que temos que considerar é que essa é uma questão muito relacionada a risco. Quando o ESG não acontece, é um risco de investimento, efetivamente, principalmente com impactos no longo prazo. Em outras palavras: quais as consequências de práticas inadequadas do ponto de vista ambiental, social e de governança no longo prazo? Quando falamos de investimento, sempre estamos falando de risco. E quando entramos no tema da transição para uma economia de baixo carbono, também consideramos que vai haver grande fluxo de investimentos, e aí estão as oportunidades. O investidor, portanto, tem que olhar para o risco e para as oportunidades dessa transição.

Como o senhor vê a receptividade de investidores e empresários brasileiros à agenda ESG, atualmente?

Carlos Takahashi: É uma agenda em desenvolvimento, que está avançando muito. Mas, alguns fatores de curto prazo precisam ser considerados. É fato que as empresas brasileiras estão cada vez mais engajadas nas questões ESG, tanto nas suas estratégias quanto nas suas culturas. Há um trabalho efetivo para se buscar melhores práticas e cada vez há uma compreensão maior das companhias. Isso permite que os gestores desenvolvam portfólios nesse sentido. Percebemos isso não só aqui, mas globalmente. Até por isso estamos trazendo uma estratégia global para o mercado brasileiro nessa parceria com a BB Asset. Lá fora temos engajamento mais elevado, com um nível de ativos mais amplo e um ambiente regulatório bastante evoluído. Mas aqui também vemos essa evolução, e o investidor querendo entender mais esse mercado. As novas gerações já têm essa questão mais incorporada. Gerações mais antigas têm que fazer um pouco de transfusão, de mudança de regime para incorporar ESG isso nos seus hábitos e cultura, e isso leva tempo.

Quais são as principais iniciativas da BlackRock no Brasil voltadas para o investidor pessoa física?

Carlos Takahashi: A missão da BlackRock é ajudar as pessoas a conquistarem bem-estar financeiro no longo prazo. Mesmo que sejamos uma relevante gestora provedora de soluções para o mercado institucional, estamos falando com pensionistas ou pessoas físicas que acessam produtos através dos diversos canais. Temos as soluções para o investidor que começam com ETFs e BDRs, que têm característica de acesso fácil, eficiente e de baixo custo. E também fazemos parcerias com grandes canais de distribuição que se relacionam com pessoas físicas, como essa com a BB Asset, que é fundamental. Estamos falando de uma parceria entre a maior gestora do mundo junto com a maior gestora do Brasil, que tem um canal de distribuição que se caracteriza por conseguir acessar a pessoa física do Oiapoque ao Chuí, nos quatro cantos do país. E sempre que fazemos uma parceria, entendemos que prover educação é fundamental para inserirmos e incluirmos as pessoas físicas cada vez mais no mercado de investimentos.

Como o investidor pessoa física consegue identificar empresas realmente engajadas com ESG?

Carlos Takahashi: Eu sempre falo da eficiência que a gestão de recursos de terceiros tem. Gestores de portfólio, analistas, ferramentas de gestão de risco, há todo esse valor agregado dentro de um fundo de investimento. O investidor tem que considerar contar com essa ajuda. As ferramentas, que são aprimoradas diariamente, estão lá pra isso. E tem os gestores, que estão estudando diariamente para fazer a seleção mais adequada de ativos de cada classe, um time para obter as melhores alocações possíveis.

Hoje utilizamos o Alladin, uma ferramenta de gestão de riscos da própria BlackRock que, inclusive, pode ser acessada pelos mercados. A BlackRock tem na sua origem esse foco na gestão de risco e sempre atuou de forma focada nisso. O Alladin incorpora questões ESG e tem um módulo específico que trata dos riscos climáticos. Produzimos muito conteúdo, nossa área de pesquisa é muito robusta e também atua de forma independente. Ela supre as áreas que cuidam dos portfólios com os números e as análises, facilitando que os gestores tomem suas decisões.

Como o senhor avalia o ambiente regulatório no Brasil no âmbito ESG?

Carlos Takahashi: Temos evoluído bastante sob o ponto de vista de regulação de forma global. Precisamos agora pensar em regulações específicas em fundos institucionais e fundos de pensão. No geral, porém, vejo que o mercado brasileiro está bem alinhado com as normas internacionais. A Anbima incluiu os fundos sustentáveis na sua autorregulação, muito em aderência com as principais normas que existem na Europa, Estados Unidos e Reino Unido. Ela já cobre os principais mercados, renda fixa, variável, uma parte de multimercados e também FIDCs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios) e Fundos Imobiliários (FIIs). Só os FIPs (Fundos de Investimento em Participações) ficam de fora por enquanto. Um ponto importante é que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), na resolução 175, também incluiu investimentos ESG tratando dos critérios de nomenclatura desses fundos. As normas da CVM e da Anbima têm total aderência, em um acordo de cooperação.

Recentemente, a BB Asset lançou o fundo Multimercado Global ESG em parceria com a BlackRock. Quais as características desse fundo?

Carlos Takahashi: A beleza desse fundo é que é um fundo ESG que traz diversas estratégias dentro dele. Aloca tanto em renda fixa quanto em renda variável, no público e no privado. É um produto interessante para esse momento de mercado, no qual há muitas oscilações. A estratégia desse fundo faz com que essa dinâmica seja muito ágil. Ele faz as realocações com rapidez, permitindo capturar as melhores oportunidades de mercado e minimizar os riscos de volatilidade. E tem uma taxa de administração bastante competitiva (0,60%). No primeiro momento, este fundo vai atender investidores qualificados.

Quer dar uma nota para este conteúdo?

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência e personalizar os conteúdos de acordo com a nossa

Política de Privacidade.