Pular para o conteúdo principal da pagina
mapa da faixa de ghaza

Economia

Entenda como a guerra entre Israel e Palestina pode impactar os mercados

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura4 minutos

Atualizado em

10/10/2023 às 15:51

Por Gustavo Boldrini, Marcio Rodrigues e Denise Luna, do Broadcast

Israel e Palestina são países de território relativamente pequeno e, juntos, não chegam a 15 milhões de habitantes. Mas a guerra declarada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, após ataque do grupo radical armado Hamas a Israel, na Faixa de Gaza, no último sábado (7), pode ter efeitos de grande magnitude sobre a economia global e, consequentemente, sobre o mercado financeiro.

Para começar, a região está colada a grandes produtores de petróleo, como Arábia Saudita, Emirados Árabes e Catar. E isso significa que os investidores devem embutir o risco da guerra nos preços da commodity.

Petróleo a US$ 100?

O petróleo respondeu com forte alta no primeiro dia de negociações após a eclosão do conflito, e investidores seguem monitorando os efeitos da guerra sobre os preços. Um possível movimento de alta da commodity que se estenda por semanas poderia levar ao aumento de preço dos derivados nas refinarias da Petrobras, avalia o sócio e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, que prevê a commodity chegando a US$ 100, como ocorreu no início da guerra entre Rússia e Ucrânia, em 2022. O tempo que isso vai durar, porém, ainda é uma incógnita, afirmou.

"Acho que a Petrobras vai esperar uma semana, dez dias, para ver como fica a guerra com Israel. Mas, de qualquer maneira, há sempre aquele medo de ter uma defasagem muito grande, principalmente em relação ao diesel, pelo risco de ter desabastecimento", disse Pires ao Broadcast . "O mercado de petróleo é muito sensível a questões geopolíticas", completou.

O impacto do petróleo nos setores da Bolsa

Assim, o investidor que possui ações da Petrobras ou de petroleiras independentes - como PetroRio, 3R Petroleum, Petroreconcavo e Enauta - também precisa ficar atento ao noticiário e aos efeitos do conflito sobre o óleo.

Além disso, também há a possibilidade de algum impacto em papéis de energia e distribuição de combustíveis, como Vibra, Raízen, Ultrapar e Cosan.

O setor aéreo também é correlacionado ao petróleo. Azul e Gol, as duas aéreas brasileiras listadas na B3, possuem grande parte dos seus custos atrelados aos combustíveis. Sendo assim, momentos de alta da commodity costumam pressionar seus papéis.

Dívida americana no radar

A alta do petróleo, se vier a se manter, pode comprometer o esforço do Federal Reserve (o banco central americano) para domar a inflação, alertam economistas. Não apenas por que o preço das matérias primas encarece, mas também pela influência sobre os sobre os juros norte-americanos, os Treasuries, títulos do Tesouro americano, cujos rendimentos tendem a subir também, em meio à busca dos investidores por ativos mais seguros. E isso significa queda de ativos de risco, como bolsas, e a penalização de ativos de países emergentes, inclusive os brasileiros. O Ibovespa, portanto, pode ser pressionado.

"Não me parece que o conflito vai se alastrar pela região envolvendo outros países, mas só a possibilidade disso acontecer já mostra que a preferência pela liquidez dos agentes deve subir, fazendo com que ativos livres de risco avancem, como é o caso do dólar", diz o economista independente André Perfeito.

Questão fiscal também preocupa

Além do petróleo, outro fator que pode afetar os juros americanos é o provável aumento da dívida pública americana. Os Estados Unidos prometeram apoio a Israel, que já é a maior potência militar da região, e isso pode significar a necessidade de ampliar os gastos militares no momento em que o governo americano luta para convencer o Congresso a elevar, por mais tempo, o teto da sua dívida pública para garantir o pagamento de gastos. Vale lembrar que os EUA já estão atuando no apoio militar à Ucrânia na guerra contra a Rússia.

O problema é que, segundo economistas têm alertado há tempos, a dívida dos EUA está se tornando insustentável, o que acaba pressionando ainda mais o retorno dos Treasuries, visto que o investidor cobra mais prêmios quanto maior é o risco de um ativo.

E se os EUA estão de um lado, é de se esperar que, além do Irã, a Rússia também esteja do outro. Acontece que os russos já estão em uma guerra na Ucrânia, enfrentando dificuldades econômicas e sofrendo sanções que encarecem os preços globais.

Riscos à economia brasileira

A leitura de analistas, até agora, é de que o conflito em Israel também promete ser longo - o da Ucrânia já dura mais de um ano e meio -, o que manterá o nível de risco em patamares mais elevados.

Por mais que a distância geográfica do Brasil para Israel e Palestina seja significativa, a economia brasileira também deve sentir os efeitos, sinaliza um gestor ao Broadcast , que preferiu não se identificar. Afinal, lembra ele, os preços dos combustíveis no Brasil poderão ser reajustados se o petróleo subir, o que afeta a inflação corrente e as expectativas. Além disso, a busca por segurança pode pressionar o dólar para cima e encarecer as importações.

"Nos últimos dias, a curva de juros já passou a indicar menor espaço para corte de juros, tanto pelo cenário americano quanto pelo risco fiscal brasileiro. Uma deterioração das expectativas de inflação contaminaria ainda mais o quadro para o Banco Central, afetando outras variáveis econômicas no médio prazo", explica.

Para André Perfeito, contudo, olhando para o médio prazo, a situação não é necessariamente ruim para o Brasil. "A depender de como o Itamaraty conduza a crise internacional, o Brasil pode se manter como um lugar 'suficientemente distante' de todo esse 'ruído'. Logo, em termos relativos, o País pode se beneficiar."

Porém, o Brasil não deve conseguir guardar muita distância do tema, por estar na presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Tanto que, ao divulgar uma nota condenando a série de bombardeios e ataques terrestres realizados a Israel a partir da Faixa de Gaza, o Ministério das Relações Exteriores informou que o Brasil convocará reunião de emergência do órgão.

Quer dar uma nota para este conteúdo?

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência e personalizar os conteúdos de acordo com a nossa

Política de Privacidade.