Ebitda serve para que, mesmo? Saiba por que analistas consideram esse indicador tão importante

Por Luana Pavani, do Broadcast

Na temporada de balanços, muita gente se pergunta o que é Ebitda. Os analistas de investimentos podem até escrever em seus relatórios o termo traduzido, Lajida, que significa lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Mesmo assim, muita gente fica em dúvida sobre para que serve essa conta e qual sua importância. Nos relatórios e comentários de casas de análise sobre os resultados das empresas, sempre aparece lucro, receita e Ebitda. Já não é fácil entender de contabilidade, e piora quando descobrimos que o Ebitda não é obrigatório na demonstração do resultado do exercício. Para que serve, então?

Em resumo, o Ebitda tem duas leituras principais: a capacidade de gerar caixa da empresa e quantos anos fazendo esse dinheiro seriam necessários para quitar as dívidas do negócio. Os números em si não dizem muita coisa se olhados de forma isolada, mas quando comparados com os concorrentes podem ajudar na decisão de investimentos e a compreensão da estratégia naquele setor econômico. Daí esse termo ser tão comentado entre profissionais do mercado financeiro.

Muitos deles, inclusive, referem-se ao Ebitda como "caixa", simplesmente. Mas os puristas, como os contadores, contestam, já que existem medidas específicas nas regras contábeis para se apurar essa conta, como fluxo de caixa, por exemplo. Mas a ideia é que se trata da capacidade de geração de recursos diretamente relacionados à operação da empresa, sem influência de ganhos com aplicações financeiras ou custos com impostos. Em outras palavras, o Ebitda é uma medida de produtividade e pode indicar se aquele negócio é sustentável a longo prazo.

Entretanto, há empresas que tiram suas receitas de intermediação financeira puramente, como bancos, corretoras e outras empresas do setor financeiro. Como elas não têm resultado operacional, o Ebitda não se aplica.

Como se calcula o Ebtida?

O cálculo, conforme a norma da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), é "o resultado líquido do período, acrescido dos tributos sobre o lucro, das despesas financeiras líquidas, das receitas financeiras e das depreciações, amortizações e exaustões". A sua divulgação é voluntária, de modo que cabe à empresa decidir se apresenta ou não seu Ebitda.

Com a evolução do mercado de capitais no Brasil, veio também a necessidade de padronizar as demonstrações financeiras. Algumas empresas sentiam-se livres para criar suas próprias nomenclaturas de Ebitda como "orgânico" ou "harmonizado", o que deixava os investidores confusos com os critérios particulares para justificar determinadas contas. Então, a CVM estabeleceu em 2012 a instrução 527, atualizada pela resolução 156 em 2022, que o termo aceitável para explicações adicionais sobre o cálculo do Ebitda (ou Lajida) seria somente "ajustado".

No mais, os dados comparáveis ao longo dos trimestres são os recorrentes, por isso alguns balanços usam a expressão "Ebitda recorrente" para se referir ao indicador. Se tiver algo diferente para explicar, que não possa ser comparável no período, como a aquisição de outra empresa que possa vir a distorcer os números, por exemplo, então o balanço explica esse motivo junto ao "Ebitda ajustado".

Existe Ebitda negativo?

A empresa que consegue fazer dinheiro apenas com sua operação principal, sem depender de operações financeiras, gera o que se chama de resultado operacional. Mas se o negócio principal não está conseguindo se sustentar ao longo do tempo, sem gerar "sobra de caixa", no jargão popular, o Ebitda pode ficar negativo.

Isso não a impede de registrar lucro, caso consiga obter dinheiro de outras fontes, como alugueis, aplicações no mercado financeiro ou participação em outras empresas.

O que é margem Ebitda?

Economistas defendem que o Ebitda seja aplicado como um indicador, relacionado à estrutura de capital, para permitir análise da sustentabilidade do negócio. Uma vez de posse do Ebitda, pode-se relacioná-lo com a receita líquida para medir a margem Ebitda. É um porcentual que serve para comparar empresas do mesmo setor. Assim, o investidor pode observar entre as varejistas, por exemplo, a que tem maior margem Ebitda, com maior potencial de gerar ganhos sobre as vendas.

Por ser um dado estratégico, algumas companhias colocam a margem Ebitda em destaque nas suas projeções de resultados, o chamado "guidance".

O que é alavancagem?

O Ebitda também compõe outro indicador de análise muito usado por investidores na avaliação de empresas, que é a alavancagem financeira, medida pela relação com a dívida líquida. O índice "Dívida Líquida/Ebitda" em 12 meses mede o grau de endividamento de uma empresa. O resultado representa um número que corresponde a quantos anos de geração de caixa a empresa precisa para pagar suas dívidas. O indicador varia de setor para setor mas, em geral, analistas consideram que um nível razoável de alavancagem seja de até 2,5 vezes, ou seja, dois anos e meio. Para essa avaliação, quanto menor a alavancagem, melhor. Isso mostra que em alguns meses a companhia já seria capaz de honrar seus compromissos.

Instrumentos de captação de dívida corporativa, como debêntures, costumam trazer em suas escrituras cláusulas de compromissos (waiver) relacionados a alavancagem medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda. O debenturista, então, pode utilizar esse indicador como controle da saúde financeira da companhia ao longo do tempo, checando a situação da alavancagem a cada trimestre, quando sai o balanço.

E por falar em dívida corporativa, as agências de classificação de rating observam de perto a capacidade de geração de caixa e os níveis de alavancagem das companhias de capital aberto para suas decisões de elevar ou rebaixar as notas de crédito. Deu para sacar como o Ebitda é importante?