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Economia

Desemprego pode voltar a crescer em 2024 diante de queda na taxa de participação: saiba por quê

Entenda o que é taxa de participação da força de trabalho e taxa neutra de desemprego

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura8 minutos

28/12/2023 às 13:27

Atualizado em

28/12/2023 às 13:53

Por Cícero Cotrim e Luana Pavani, do Broadcast

Depois de ter surpreendido para baixo ao longo de 2023, o desemprego deve voltar a crescer em 2024, mas permanecerá bem abaixo do nível pré-pandemia.

A manutenção da taxa de participação abaixo do nível pré-pandemia explica esse cenário, segundo economistas ouvidos pelo Broadcast.

Essa visão é evidente nas medianas do Sistema Expectativas de Mercado, do Banco Central. As projeções dos economistas ouvidos pelo BC sugerem que a desocupação deve fechar 2023 em 7,6% e subir 0,6 ponto porcentual até o fim de 2024, a 8,2%. No horizonte mais longo, até abril de 2025, a mediana sugere desemprego em 8,6%. E mesmo o teto das previsões indica que a taxa ficará abaixo de dois dígitos no fim do ano que vem.

O que é taxa de participação da força de trabalho?

A taxa de participação da força de trabalho mede a proporção de pessoas de 14 anos ou mais empregadas ou procurando trabalho. Assim, sua redução representa menor quantidade de pessoas trabalhando ou buscando ocupação, o que pode ser considerado um fator negativo para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Em média, o porcentual da população em idade de trabalhar que participa da força de trabalho foi de 62,9% de 2012 a 2019. Em 2020, no auge da pandemia, chegou a cair ao piso histórico de 56,7%. Em 2023, oscila pouco abaixo de 62%.

De acordo com a metodologia usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNAD Contínua, o estudante e a dona de casa são pessoas que estão fora da força de trabalho; já a empreendedora é considerada ocupada. Na pesquisa, o termo popularmente conhecido como "desemprego" aparece no conceito de "desocupação".

Por que a taxa de participação vem caindo?

Alguns fatores que podem ter contribuído para uma redução da participação na força de trabalho no Brasil são, segundo especialistas, a reforma trabalhista, que flexibilizou contratos, e a mudança do mercado de trabalho após a pandemia, que permitiu a algumas pessoas adotarem novos modelos de trabalho remoto.

Outro ponto é o aumento dos programas de transferência de renda, como aponta um estudo do economista Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Analisando o desempenho dos programas de auxílio desde 2021, ele estimou que um aumento de 10% nas transferências de renda como proporção da massa total de rendimentos tem o potencial de reduzir a taxa de participação em até 1,1 ponto porcentual.

"Não vejo uma retomada do desemprego para níveis pré-pandemia porque a queda da taxa de participação não vai ser totalmente revertida", afirma Duque, que espera um aumento em torno de 0,5 ponto porcentual na taxa em 2024.

"Devemos ver um leve aumento do desemprego, porque provavelmente o governo não vai reajustar o Bolsa Família e, com a redução do poder de compra, algumas pessoas vão voltar para o mercado de trabalho."

O economista da LCA Consultores, Bruno Imaizumi, cita que o envelhecimento da população brasileira ajuda a explicar a redução da taxa de participação, que não deve voltar ao nível pré-pandemia nos próximos anos.

"Como ela não vai regressar ao nível de antes, devemos conviver com taxas de desemprego mais baixas", diz Imaizumi. A desaceleração esperada no crescimento da economia, de 3% em 2023 para 1,5% em 2024, também tem relação com o aumento esperado da desocupação.

O que é taxa neutra de desemprego?

As mudanças no mercado de trabalho podem representar também uma diminuição da taxa neutra de desemprego, que é aquela que não acelera a inflação. No mercado, essa taxa é mais conhecida como Nairu, na sigla em inglês para "non-accelerating inflation rate of unemployment". É uma variável não-observável da economia, de mensuração difícil. Mas os economistas concordam que há evidências de que ela é, hoje, menor do que no passado.

A LCA atualizou recentemente a sua estimativa de taxa neutra de Nairu, de 8,4% para 8%, incorporando ao cenário os últimos dados do exame Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), bem como a queda da taxa de sindicalização do País.

"Em teoria, uma taxa de sindicalização menor pode levar a uma maior flexibilidade do mercado de trabalho, diminui custos de contratação e resulta em uma Nairu mais baixa", diz Imaizumi.

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