computador pessoal e cartão de crédito sobre mesa

Balcão de recebíveis de cartão deslancha após desafios iniciais e barateia crédito a comerciantes

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura3 minutos

Atualizado em

12/06/2024 às 17:37

Por Matheus Piovesana, do Broadcast

São Paulo, 12/06/2024 - Após três anos de funcionamento, o sistema de registro de recebíveis de cartão ajudou a elevar a concessão de crédito para empresas e a reduzir os spreads (diferença entre custo de captação e juros cobrados dos tomadores). O registro entrou nos eixos nos últimos meses depois de uma implementação conturbada.

Levantamento da registradora Cerc com dados do Banco Central mostra que, entre 2022 e 2023, o saldo de antecipação de recebíveis de cartão quase duplicou, chegando a um pico de R$ 97,5 bilhões no final do ano passado. Os spreads caíram, batendo na mínima histórica de 0,15 ponto porcentual em agosto de 2023.

O CEO e confundador da Cerc, Fernando Fontes, afirma que houve uma redução dos riscos das operações com o pleno funcionamento do sistema de registro. A Cerc calcula que, em 2023, a economia do comércio com a queda dos spreads foi de R$ 29 bilhões.

Na base da empresa, que é uma das registradoras de recebíveis autorizadas pelo BC, o crescimento de comerciantes que obtêm crédito com recebível foi de 50% entre 2022 e 2023. Entre os pequenos comerciantes, que usam o CPF para obter empréstimos, foi ainda maior, 82%.

Os recebíveis são direitos de recebimento dos recursos de uma venda com cartão. Na modalidade crédito, o comerciante recebe o dinheiro em 28 dias, mas é comum que adiante esse recebível com um agente financeiro, pagando uma taxa, para ter acesso ao recurso o quanto antes e girar seu negócio.

Os primórdios do balcão

O balcão foi implementado pelo BC para que o recebível fosse visto por todo o mercado e não apenas pela empresa de maquininhas que o originou. O objetivo era reduzir riscos como o de um comerciante dar futuros recebíveis em garantia para obter crédito e depois trocar de maquininha, a chamada fuga de garantias. Com mais segurança, o BC buscava aumentar o crédito e reduzir os preços.

Na entrada do sistema no ar, em 7 de junho de 2021, a interação entre as registradoras não funcionou, o que não permitiu o uso do sistema na concessão de crédito. Além de Cerc e Nuclea, operam o sistema a Tag e a B3. Diversos agentes que utilizam maquininhas de crédito, como bancos, fintechs e credenciadoras usam as registradoras para cadastrar seus recebíveis.

Produtos que estavam estruturados sobre a existência do registro, como as linhas de capital de giro da Stone (cliente da Tag, por exemplo), estavam paralisados e só agora voltam a operar com vigor.

Desafio da interoperabilidade

O primeiro ano de funcionamento do registro foi de resolução dos problemas. Foram vários. As registradoras e as maquininhas tiveram de padronizar os formatos de uma série de contratos e dados para que a consulta das informações, a chamada interoperabilidade, funcionasse em tempo real.

"O que chama a atenção é o histórico de dificuldades. Foi um tempo longo para colocar a casa minimamente em ordem", afirma o consultor e presidente da Boanerges & Cia, Boanerges Ramos Freire. "Se o sistema estivesse bem estabelecido desde a origem, o mercado estaria desbravando novas fronteiras, sobre as quais se começa a falar mais agora."

Rafael Dal Mas, superintendente de Negócios da Nuclea (ex-CIP), afirma que os problemas iniciais decorriam de uma falta de padronização dos entendimentos.

Aos poucos, os problemas foram sendo resolvidos. A interoperabilidade chegou a 98,2% de sucesso na semana passada, próxima da máxima histórica, de acordo com a Cerc. No começo, estava abaixo de 80%, número considerado inaceitável para sistemas comerciais.

"Considerando os problemas que existiam há três anos, estamos muito melhores", afirma o superintendente de Produtos da B3, Fernando Bianchini. "O que percebemos é que o nível de disponibilidade das plataformas na interoperabilidade está em um patamar bastante bom."

Em muitos casos, as discussões entre as empresas foram levadas ao BC, que transformou as conclusões em regras. No final de 2022, o regulador definiu quais tarifas as registradoras poderiam cobrar e estabeleceu um prazo para a resposta de questionamentos.

À frente

Com a resolução dos problemas mais importantes, o sistema passa agora por ajustes finos. Fontes, da Cerc, afirmam que o próximo passo é a integração entre o balcão e o sistema de liquidação de cartões (SLC), operado pela Nuclea, que permite ver em tempo real as operações com cartões e recebíveis. Isso vai permitir automatizar a contestação quando não houver pagamento e pode aumentar de 98% para próximo de 100% a taxa de sucesso dos contratos.

Bianchini, da B3, considera que uma futura discussão será para acomodar os modelos de negócio de fintechs que surgiram desde a implantação para dar novos usos aos recebíveis. "Manter o sistema de pé com bilhões de transações por mês é caro, o que inviabiliza um nicho de mercado que precisaria de uma solução mais simples e barata", diz.

Ramos Freire afirma que novos modelos transformam o recebível em uma moeda de troca, ou seja, permite ao comerciante pagar fornecedores sem ter de descontar o recebível. "Você pode dar condições de venda mais favoráveis a esse varejista, e isso traz um benefício enorme a todo o sistema."

Quer dar uma nota para este conteúdo?

Falar com o assistente virtual do BB no WhatsApp
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência e personalizar os conteúdos de acordo com a nossa Política de Privacidade.