bolas decoradas com bandeira dos eua e da china colidindo

Por trás da "cruzada tarifária" de Trump: O surgimento de uma nova corrida industrial

Publicado por: Nordea Asset Management

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Atualizado em

17/04/2025 às 14:43

André Simon, Sales Director Brazil - Nordea Asset Management/

Em 2024 a China respondeu por 31,8% da produção industrial global, mantendo-se como o maior fabricante mundial. Os Estados Unidos ficaram em 2º lugar, com 15,1%. China não só teve uma participação mais que o dobro da dos Estados Unidos, mas superou também a soma das participações dos EUA, Japão, Alemanha e Índia, que juntas totalizaram 29,5% da industria manufatureira global.

Quem não inovar de forma sustentável fica pra trás

Por muito tempo, “sustentabilidade” foi tratada como um apêndice — um custo adicional, um selo ESG ou uma exigência regulatória. Mas isso mudou. O que antes era visto como um “luxo” passou a ser uma exigência competitiva. A nova realidade econômica é clara: não haverá crescimento sustentável (no sentido econômico da palavra) sem inovação tecnológica e maior eficiência no uso de recursos. E o pano de fundo dessa mudança não é filosófico. É brutalmente pragmático.

Desde 2018, os Estados Unidos vêm travando uma guerra econômica com a China. Sob Trump, a imposição de tarifas foi a primeira resposta visível a um diagnóstico incômodo: os EUA estavam se tornando estruturalmente dependentes de seu maior rival estratégico para praticamente tudo — de painéis solares a drones, de semicondutores a embarcações navais.

Em 2023, os EUA construíram cinco navios. A China, 1.800. A China se consolidou também como a maior exportadora mundial de drones de combate. Seus modelos oferecem desempenho semelhante aos americanos, mas custam menos de um décimo dos mesmos. Enquanto os EUA mantêm a liderança em precisão e integração com sistemas de inteligência, a China aposta em escala, padronização e custo competitivo — entregando inovação “boa o suficiente” para dezenas de países. Isso acelera sua influência geopolítica e comprova que, na guerra industrial moderna, a eficiência vence o excesso de sofisticação.

O mesmo se aplica ao setor automotivo. A China já lidera a produção e exportação global de veículos elétricos e híbridos, com empresas como a BYD superando a Tesla em unidades vendidas. Essa liderança não vem apenas da inovação, mas do domínio completo da cadeia: da mineração de lítio à produção de baterias e veículos. Enquanto Europa e EUA focam em performance premium, a China entrega mobilidade limpa, acessível e em escala, exportando para mercados emergentes e se tornando referência global em transporte sustentável.

Esses dados não são apenas simbólicos: eles escancaram a perda de capacidade industrial do Ocidente e mostram que a nova vantagem competitiva está em produzir melhor, com menos — e para mais gente. É a síntese entre inovação, escala e viabilidade econômica que definirá os vencedores da próxima década.

A resposta americana — reindustrialização via tarifas, estímulos e política industrial — é compreensível. Mas tem um limite claro: o mundo de hoje não precisa apenas de mais indústria. Precisa de uma indústria diferente. Mais inteligente e, principalmente, mais eficiente.

É aí que entra a sustentabilidade, não como objetivo final, mas como condição de viabilidade econômica.

Na nova corrida industrial: Vence quem produzir melhor

As tecnologias que tornam isso possível — desde baterias de nova geração até reciclagem avançada, agricultura de precisão, materiais leves e eficientes, e digitalização de processos — já são, em muitos casos, mais competitivas do que os modelos tradicionais. A energia solar, por exemplo, já é a forma mais barata de geração de eletricidade em mais de dois terços do mundo, segundo a IEA.

Empresas que dominam tecnologias limpas não só reduzem impacto ambiental. Elas:

  • Reduzem custos operacionais;
  • Diminuem riscos regulatórios;
  • Atraem capital mais barato;
  • E, principalmente, ganham escala e competitividade.

Sustentabilidade não é custo. É investimento em produtividade. É segurança energética. É ganho de eficiência. A “Cruzada Tarifária” de Trump contra a China é uma estratégia de sobrevivência econômica na tentativa de defender a indústria americana. A dependência ocidental da manufatura chinesa expôs fragilidades estruturais dos EUA.

Setores como Defesa e Mobilidade Elétrica ilustram bem o assunto, com a China liderando por escala, acessibilidade e domínio de cadeia produtiva. Mas quem sairá vencedor nessa guerra industrial não será quem erguer mais barreiras — e sim quem investir nas pontes da inovação sustentável.

É essa visão que guia a estratégia Nordea Global Climate & Environment, identificando empresas que estão liderando a transformação dos setores mais críticos da economia real — não por estética, mas por eficiência e retorno. Líderes globais que fazem mais do que mitigar impacto: geram valor, reduzem custos e constroem vantagem competitiva.

Novamente, sustentabilidade não é um custo – é uma nova forma de competitividade. E investir em empresas alinhadas a essa lógica é estar posicionado para o crescimento real da próxima década

/ O texto é uma avaliação pessoal do especialista André Simon, sem correlação com opinião e/ou posicionamento da Nordea.

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