Petróleo derrete após tarifaço, atinge mínima desde 2021, e incertezas minam perspectivas

Petróleo Brent acumula baixa de mais de 13% desde anúncio do tarifaço dos EUA, em 2 de abril

Publicado por: Broadcast Exclusivo

conteúdo de tipo Leitura3 minutos

Atualizado em

15/04/2025 às 12:58

Por Fabiana Holtz, Pedro Lima e Thais Porsch, do Broadcast

A guerra comercial entre EUA e China, que tem o resto do mundo como coadjuvante e trouxe pânico e perplexidade ao mercado financeiro global nas últimas semanas, tem ganhado novos capítulos diariamente e motivado revisões para baixo nas projeções do mercado para o petróleo - a commodity mais negociada no mundo.

  • Desde 2 de abril, dia do anúncio do tarifaço americano, o contrato mais líquido do petróleo Brent, que é referência para a Petrobras e as outras petroleiras brasileiras, acumula queda de 13,5%, passando de US$ 74,95 para US$ 64,88 (fechamento do dia 14).

Entre avanços e recuos do presidente Donald Trump, a commodity chegou a atingir seu menor valor em quatro anos - época que remonta o pânico e as incertezas que se abatiam sobre o mercado em meio à fase mais aguda da pandemia de Covid-19.

O crescente temor de uma recessão global, que afetaria em cheio a demanda por combustíveis, somado às preocupações com incertezas sobre a oferta explicam boa parte dessa reação dos investidores.

Perspectivas para o petróleo

Diante de um horizonte mais nebuloso, a S&P Global Ratings reduziu na semana passada sua projeção para o preço do Brent em 2025, de US$ 70 o barril para US$ 65. O Departamento de Energia (DoE) dos Estados Unidos também cortou sua previsão do preço médio do Brent em 2025 de US$ 74 o barril para US$ 68 o barril.

E nesta terça-feira a Agência Internacional de Energia (AIE) reduziu significativamente sua projeção para o avanço da demanda global por petróleo este ano para 726 mil barris por dia, com expectativa de que o consumo médio atinja 103,5 milhões de bpd. No documento anterior, a projeção era de alta de 1,03 milhão de bpd.

"Com árduas negociações comerciais previstas para ocorrer durante a suspensão de 90 dias das tarifas e possivelmente além disso, os mercados de petróleo enfrentarão momentos turbulentos, e incertezas consideráveis pairam sobre nossas previsões para este ano e o próximo", disse a AIE em relatório.

O vaivém do tarifaço

Na equação sobre o petróleo, ainda é preciso levar em conta recentes decisões da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) e as tensões geopolíticas envolvendo os conflitos entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio, que seriam catalisadores para uma alta da commodity, mas seguem em segundo plano diante das incertezas que agora pairam sobre a economia global.

A situação ganhou complexidade, principalmente após a Casa Branca esclarecer que a tarifa de 125% sobre produtos chineses, que substitui a taxa anterior de 84% e se soma aos 20% vigentes antes do "Dia da Libertação", representa uma carga total de 145%.

Em resposta, a China elevou sua tarifa retaliatória sobre importações dos EUA, de 84% para 125%, o que passaria a valer no último sábado (12). Mas um novo recuo dos Estados Unidos foi anunciado no final de semana, com a isenção das "tarifas recíprocas" para smartphones e computadores importados.

Opep concorda em elevar produção

No início do mês, um dia após o tarifaço, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, conhecida como Opep+, concordou em aumentar a produção de petróleo em maio, em níveis acima do esperado anteriormente.

A decisão ampliou a pressão sobre os preços da commodity e estendeu as perdas. Afinal, mais petróleo no mercado significa menores preços, ainda mais em um momento no qual a demanda pelo produto está incerta.

Os países da Opep+ que participaram do encontro concordaram em aumentar a produção em 411 mil barris por dia (bpd) em maio - o equivalente a três incrementos mensais - citando "fundamentos saudáveis" e uma "perspectiva positiva" do mercado. O aumento faz parte de um plano mais amplo para desfazer gradualmente os cortes de produção, totalizando 2,2 milhões de bpd a partir deste mês.

Caos geopolítico traz mais incertezas

A falta de solução para o conflito entre Rússia e Ucrânia, que seguem realizando ataques depois de concordarem com um cessar-fogo limitado da Rússia, é um exemplo da inconstância geopolítica atual e de como o cenário pode se reverter rapidamente.

Nesse sentido, Trump também chegou a ameaçar impor tarifas secundárias ao petróleo russo, o que gerou especulações no mercado no início do mês. O mandatário da Casa Branca disse na ocasião que não desejava aplicar tarifa ao petróleo da Rússia, mas adotaria uma medida se "houvesse necessidade".

Também há uma tensão crescente em relação ao Irã, com Trump chegando a ameaçar um bombardeio contra o país persa. Na semana passada, o Departamento de Estado americano anunciou novas sanções contra entidades ligadas à exportação de petróleo iraniano, como parte da política de "pressão máxima" do governo para conter o programa nuclear do país.

Em ação coordenada, o Departamento do Tesouro dos EUA também impôs sanções a empresas localizadas nos Emirados Árabes Unidos e na Índia, além de bloquear quase 30 embarcações ligadas ao comércio de petróleo com Teerã.

Pausa muito longa, recessão e incertezas

Na avaliação de Scott Shelton, da TP ICAP, a guerra comercial contínua entre as duas maiores economias do mundo - EUA e China - provavelmente impedirá uma alta mais forte do petróleo. Segundo ele, a pausa de 90 dias na aplicação de parte das tarifas americanas "é um período longo para esperar e ver o que acontece com o restante do mundo e curto demais para que as pessoas invistam em praticamente qualquer coisa, se seus negócios estiverem correlacionados ao mercado de importação e exportação".

Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, pondera que enquanto não houver uma sinalização de reversão na política comercial ou um reposicionamento da oferta, especialmente por parte dos grandes produtores, é pouco provável que a commodity recupere força no curto prazo.

"O viés segue negativo, mas com espaço para movimentos bruscos, principalmente diante de dados de atividade global ou declarações de países-chave da Opep+", afirma. Ele ressalta que com menos atividade industrial e comercial, o consumo da commodity tende a cair, pressionando ainda mais os preços. E a decisão da Opep+ de aumentar a produção piora esse desequilíbrio entre oferta e demanda no curto prazo.

Por outro lado, os riscos geopolíticos, como os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, continuam no radar. "O problema é que esses riscos estão sendo deixados de lado, mas seguem presentes - e basta uma nova tensão para o mercado voltar a precificar prêmio de risco na commodity", diz Belitardo. O gestor projeta o preço do Brent no final de 2025 em US$ 75 por barril.

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