Fed indica menos cortes de juros em 2025 e busca 'progresso' na inflação
Publicado por: Broadcast Exclusivo
4 minutos
Atualizado em
23/12/2024 às 14:18
Por Aline Bronzati, do Broadcast
Nova York, 19/12/2024 - O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) voltou a reduzir os juros em sua última reunião deste ano nesta quarta-feira (18), em linha com as expectativas de Wall Street, mas sinalizou menos cortes em 2025.
Para seguir baixando as taxas nos Estados Unidos, a autoridade quer ver mais progressos na inflação, enquanto a pressão adicional que pode vir de aumentos de tarifas comerciais na gestão do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, é avaliada "com cuidado" e será endereçada quando aparecer.
O Fed cortou os juros americanos em 0,25 ponto porcentual, para o intervalo de 4,25% e 4,50% ao ano, a terceira redução no atual ciclo de flexibilização monetária, iniciado em setembro. Desde então, as taxas já caíram 1 pp no país.
"Foi uma decisão mais difícil, mas avaliamos que foi a medida certa porque era a melhor alternativa para promover os nossos dois mandatos, de emprego máximo e estabilidade de preços", explicou Jerome Powell, presidente do Fed, ao falar a jornalistas, na sequência do anúncio de um novo corte nas taxas.
Comunicado é visto como 'hawkish'
Casas como a britânica Capital Economics e o alemão Commerzbank Economics definiram o movimento do Fed como "hawkish", ou seja, inclinado a manter os juros elevados no país. Isso porque, apesar de cortar os juros, as suas projeções econômicas, divulgadas em paralelo à sua decisão de política monetária, indicaram menos cortes de juros em 2025.
Para o próximo ano, a mediana das projeções do Fed apontou apenas dois cortes de 0,25 pp. Em setembro, estimavam-se quatro quedas desta magnitude para o ano que vem.
Segundo Powell, as projeções da autoridade não são um plano ou determinam as decisões de política monetária do Comitê Federal do Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), e as decisões vão se ajustar à evolução econômica dos EUA.
"Entramos em uma nova fase do ciclo de corte de taxas", disse o diretor de investimentos de renda fixa global da BlackRock, Rick Rieder, ressaltando uma maior dependência de dados para a política monetária americana.
Para cortar mais, o Fed quer ver melhoras na inflação, disse Powell. Ele afirmou que está confiante no processo de queda dos preços, embora em um ritmo mais lento. A inflação deveria estar se reduzindo mais, mas está "intacta" por pressões de setores como os de moradias e de serviços.
"Quanto a cortes adicionais, vamos procurar mais progresso na inflação, bem como força contínua no mercado de trabalho", disse o presidente do Fed. Conforme ele, os riscos estão equilibrados entre preços e a temperatura do mercado de trabalho nos EUA.
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Segundo o banco americano Jefferies, as novas projeções do Fed foram "mais duras" do que os mercados esperavam, o que levou principais índices acionários de Nova York a encerrarem o pregão de ontem em baixa. O Dow Jones, inclusive, atingiu sua 10ª queda consecutiva, chegando à maior sequência negativa desde 1974.
Os dirigentes do Fed, no entanto, poderiam ter retirado ainda mais cortes do cenário traçado no chamado "gráfico de pontos" dada a atual combinação de expectativas para a economia americana, conforme o banco americano.
"As projeções e as falas de Powell confirmam que o Fed será muito mais cauteloso no ano que vem com a inflação estável e a combinação de políticas do presidente Trump", avalia o economista-chefe do ING para os EUA, James Knightley.
Taxas de Trump no radar
Questionado sobre como o Fed está olhando para as pressões que eventuais maiores tarifas comerciais pelo governo Trump podem fazer na inflação americana, Powell afirmou que o Fed não sabe quando terá de lidar com esse tema, mas defendeu uma análise "cuidadosa" e não "apressada", e disse que o BC dos EUA tem discutido eventuais caminhos para entender como os preços poderiam ser impactados.
"É muito prematuro tentar tirar qualquer tipo de conclusão. Não sabemos o que será tarifado, de quais países, por quanto tempo, em que tamanho. Não sabemos se serão tarifas retaliatórias, qual será a transmissão nos preços ao consumidor", listou o presidente do Fed.
As falas de Powell sugeriram que as preocupações de que as políticas fiscais, comerciais e de imigração do novo governo Trump serão inflacionárias também foram um fator que impulsionou as previsões de alguns dirigentes do Fed, na visão da Capital Economics.
Mas, independente do motivo, a sinalização é de que preços mais rígidos vão fazer com que o Fed corte menos os juros e, portanto, a consultoria britânica revisou a sua projeção em 0,25 pp e vê os juros entre 3,75% e 4,00% no fim de 2025 e 2026.
"Prevemos cortes de 0,25 pp nas reuniões de março e junho do ano que vem, embora haja uma chance de apenas um corte, dependendo do momento exato em que as tarifas de Trump forem implementadas no ano que vem", diz o economista-chefe da Capital Economics para a América do Norte, Paul Ashworth.
A consultoria assume em seu cenário uma tarifa universal de 10% a ser introduzida no segundo trimestre por Trump, o que levaria a uma inflação ainda maior nos EUA no quarto trimestre de 2025.
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