BB-BI analisa a Eneva sob a ótica do crédito privado
Análise de emissores de crédito privado
Publicado por: Análise BB
6 minutos
Atualizado em
02/04/2025 às 14:45
A Eneva é uma empresa integrada de energia brasileira, pioneira no modelo de negócio R2W (reservoir to wire), por atuar desde a exploração e produção do gás natural até a geração de energia e comercialização de gás e energia. Em exploração e produção, possui capacidade produtiva de 9 milhões de m³ por dia, em dois campos de produção onshore nas bacias de Parnaíba (Maranhão) e Amazonas, além de possuir contratos de exploração nas bacias de Solimões e Paraná, ainda em fase pré-operacional. Na geração de energia, a companhia possui 7 GW de capacidade instalada em 18 usinas termelétricas e 1 solar, localizadas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Em 2025 haverá o início operacional da planta de liquefação de gás natural no Complexo Parnaíba e da UTE Parnaíba IV.
A estratégia da Eneva é apoiar a transição do parque termelétrico brasileiro de fontes mais poluentes como carvão e óleo combustível para o gás natural que possui menor emissão de carbono, atuando de maneira verticalizada desde a produção, liquefação e transporte do gás, até a geração e comercialização da energia. A companhia também tem consolidado seu segmento de atuação, com consecutivas aquisições de ativos nos últimos anos como a Focus Energia e a UTE Porto de Sergipe I em 2022. O forte ritmo de crescimento tem demandado grandes volumes de investimento e consequentemente puxado o endividamento e o nível de alavancagem. Nesse contexto, a estratégia financeira também se mostra como fundamental para o seu modelo de negócios. A gestão dos vencimentos, concentrando as amortizações no longo prazo, a manutenção de grande volume de disponibilidades em caixa e o acesso recorrente ao mercado de capitais, tanto para captação de dívida quanto para capitalização via emissão de ações são componentes dessa estratégia. Nesta última frente, cabe destacar a oferta de ações no valor de R$ 3,2 bilhões realizada em 2024, que reduziu a alavancagem da companhia de 4,0 x EBITDA anual ao fim de 2023, para 3,5x ao final de 2024.

Contexto operacional recente e análise financeira
O setor elétrico, caracterizado por forte regulação e contratos de longo prazo que proporcionam previsibilidade de receita, tem passado por mudanças em meio a transição energética. Tivemos no Brasil um impulso de investimentos nas fontes renováveis, com destaque para as fontes eólica e solar ao longo das últimas duas décadas, alterando a composição da nossa matriz de geração. A maior participação de fontes renováveis trouxe maior intermitência à rede elétrica, demandando maior capacidade termelétrica, ao mesmo tempo em que grande parte do parque termelétrico do país têm seus contratos vencendo. Esse cenário traz oportunidade de avanço às termelétricas a gás natural, substituindo fontes mais poluentes e trazendo maior segurança à nova matriz elétrica brasileira.
A Eneva se destaca como a melhor posicionada para aproveitar essa oportunidade, como já vem fazendo nos últimos anos. Nos últimos quatro anos, a companhia saiu de uma receita líquida anual de R$ 5 bilhões em 2021 para R$ 11 bilhões no ano de 2024, com a margem EBITDA¹ oscilando ao redor dos 40%. Assim, o EBITDA que foi de R$ 2 bilhões em 2021, alcançou os R$ 4 bilhões anuais nos últimos dois exercícios. Essa expansão se deu tanto organicamente como por aquisições.
Em 2024, houve a capitalização de R$ 3,2 bilhões via oferta de ações e mais uma emissão primária de ações de R$ 1,6 bilhão em outubro para pagamento da aquisição de usinas termelétricas do BTG via troca de ações. O valor total da aquisição foi de R$ 2,5 bilhões, consumindo aproximadamente R$ 900 milhões dos recursos da capitalização, mas sendo suficiente para reduzir a alavancagem de 4,0 x EBITDA¹ anual ao fim de 2023, para 3,5x ao final de 2024. As disponibilidades em caixa superava os R$ 4,5 bilhões ao fim de 2024, montante maior que os vencimentos de dívida financeira até 2028. Essa melhor liquidez e menor alavancagem, associada à geração de caixa incorporada pelos novos ativos adquiridos foram suficientes para melhora em sua classificação de rating em meados do mesmo ano. Essa facilidade e recorrência no acesso aos mercados de capitais, tanto para capitalização via oferta de ações quanto para captação de dívida é um ponto forte e demonstra a boa visão que o mercado tem sobre a companhia.
Por outro lado, o alto endividamento e elevada alavancagem se mantém para fazer frente à expansão em curso, inclusive com montantes da ordem de R$ 5 bilhões a serem investidos nos próximos anos para a conclusão do complexo Parnaíba e das UTEs Azulão I e II e trazem a necessidade de maior atenção à gestão financeira. A gestão de passivos financeiros, captando novos recursos com prazos longos em boa antecedência aos vencimentos mais próximos para substituí-los como ocorrido em 2024 com a captação da 10ª emissão de debêntures usada para liquidar a 7ª que venceria agora em 2025 são essenciais para a sustentabilidade da estratégia da companhia.
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