China volta a contagiar Bolsa, mas será que estímulos à economia serão suficientes?
Publicado por: Broadcast Exclusivo
6 minutos
Atualizado em
27/09/2024 às 16:17
Por Gustavo Boldrini, Caroline Aragaki e Maria Regina Silva, do Broadcast
São Paulo, 27/09/2024 - O anúncio de cortes de taxas de compulsório bancário e de hipotecas na China tem sido um dos principais indutores dos negócios no mercado financeiro mundo afora nesta semana. No Brasil, que tem os chineses como principais parceiros comerciais, não tem sido diferente. Mas, afinal, será que os estímulos econômicos anunciados pelo Banco do Povo da China (PBoC) serão suficientes para reanimar a segunda maior economia do mundo?
A princípio, o mercado recebeu com euforia os anúncios de Pan Gongsheng, presidente do PBoC, na segunda-feira (23). O pacote de estímulos, considerado o mais agressivo desde a pandemia de covid-19, inclui a redução da taxa de reserva obrigatória dos bancos do país, chamada de compulsório bancário, uma queda na taxa de empréstimos hipotecários já existentes e a diminuição da taxa mínima de entrada para quem quiser comprar uma segunda residência.
No dia seguinte, o Banco Central da China anunciou uma nova medida, baixando a taxa de empréstimo de médio prazo de 1 ano, conhecida pela sigla em inglês MLF, de 2,3% ao ano para 2,0% ao ano.
Além disso, o PBoC reduziu a taxa de juros dos acordos de recompra reversa de sete dias - sua principal taxa de política monetária - em 20 pontos-base, baixando-a para 1,5%. Essa taxa também é usada para determinar as taxas de empréstimo de referência do país.
Tudo isso para dar fim aos temores de investidores pelo mundo sobre a situação econômica do país, que não tem crescido no mesmo ritmo de épocas anteriores, o que poderia trazer impactos negativos para diversos mercados ao redor do mundo que dependem de parcerias comerciais com a China.
Como o mercado reagiu aos estímulos anunciados?
As bolsas chinesas registraram fortes altas nos últimos pregões, com o índice Xangai Composto garantindo o maior ganho semanal em 15 anos, de 12,8%.
O minério de ferro respondeu com amplo otimismo aos anúncios do PBoC, emendando uma sequência de altas ao longo da semana e terminando os últimos quatro pregões num ganho acumulado de 15%. Vale ressaltar que a China é a principal consumidora desta commodity no mundo, em especial nos setores de construção civil e indústria.
Na Bolsa brasileira, mineradoras e siderúrgicas surfaram nesse otimismo nos últimos pregões, com as ações da (VALE3) acumulando ganhos de 10% desde segunda, CSN (CSNA3) saltando 18%, Gerdau (GGBR4) subindo quase 5% e Usiminas (USIM5) valorizando em torno de 6%.
Segundo especialistas ouvidos pelo Broadcast , os anúncios na China podem estimular o fluxo de investimento estrangeiro à B3, somando-se ao ciclo de cortes de juros nos EUA pelo Federal Reserve (Fed), que deve aumentar a procura por ativos de economias emergentes.
Estímulos serão suficientes para animar economia da China?
Apesar do otimismo inicial dos investidores, alguns analistas têm se mostrado cautelosos quanto ao impacto efetivo das medidas anunciadas pelo Banco Central chinês.
Na análise da Pantheon Macroeconomics, o ajuste não é suficiente para impulsionar uma recuperação sustentada da economia do país.
"A China precisa encontrar novas fontes de demanda para substituir o declínio acentuado nas vendas de imóveis residenciais, a fim de retornar a um caminho de crescimento sustentável", citou a consultoria inglesa, prescrevendo a necessidade de uma reforma tributária, do aumento do gasto do governo com serviços e com a extensão de políticas habitacionais para trabalhadores migrantes do campo para a cidade.
Esse é o mesmo argumento do Commerzbank. "Medidas monetárias podem ajudar a ganhar tempo para os formuladores de políticas chineses resolverem os problemas estruturais profundamente arraigados. Mas, em última análise, esses problemas só podem ser resolvidos pelo governo fazendo as políticas e reformas certas", disse o banco alemão.
O estímulo chinês ao setor imobiliário impulsionou o sentimento positivo no mercado, "mas só por enquanto", na avaliação de Sok Yin Yong, analista de Renda Fixa da Ásia da Julius Baer. Para ele, "é improvável" que as taxas de juros mais baixas aumentem substancialmente o sentimento e a demanda dos compradores de imóveis no curto prazo na China, uma vez que os preços de listagem de imóveis usados continuam a cair e o impulso das vendas de novos continua fraco.
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